Não há como negar: as redes sociais se tornaram a principal forma de comunicação e fonte de informação dos dias atuais. Segundo dados da pesquisa global Digital News Report 2025, produzida anualmente pelo Reuters Institute, 63% da população brasileira afirma consumir notícias via redes sociais. Elas intermediam nossas relações pessoais, influenciam nossos gostos e comportamentos e, especialmente, adaptam as informações (ou desinformações) que chegam até nós. Nesse cenário complexo, a educação midiática ganha maior importância.
Enquanto você navega pelos vídeos curtos no Instagram ou no TikTok, é bem provável que você já tenha se deparado com algum conteúdo de educação midiática, a partir de divulgadores de ciência. Ao se divertir e achar graça de um vídeo da bióloga Mari Kruger, por exemplo, estamos colocando em prática essa ideia. Não estamos apenas consumindo entretenimento, mas aprendendo com informações de qualidade, de forma clara, verídica, didática e bem-humorada. Em outras palavras: estamos nos educando midiaticamente.
A educação midiática nasceu justamente com o intuito de possibilitar o desenvolvimento de habilidades para acessar essas informações, interpretá-las criticamente e assim compreender e produzir conteúdos com responsabilidade.
Com o avanço da desinformação climática, especialistas defendem esforços para a compreensão deste processo, bem como incluem a educação midiática como forma de enfrentamento. Para a professora e pesquisadora Cláudia Herte de Moraes, tutora do PET Educom Clima na UFSM, entender a realidade dos meios de informação e comunicação é hoje tão importante quanto, por exemplo, aprender as lições básicas de alimentação saudável e cuidados com a saúde. “A educação midiática é uma ferramenta importante para a educomunicação, uma área mais ampla que propõe a transformação social, principalmente pelo exercício do direito à comunicação, de forma dialógica e participativa.”

Quem está na contramão do algoritmo…
Segundo dados do Instituto Locomotiva, quase 90% da população brasileira admite ter acreditado em algum conteúdo falso nas redes sociais. Por outro lado, divulgadores e influenciadores utilizam essas mesmas ferramentas e plataformas para enfrentar as ondas de fake news e desinformação que atingem um número cada vez maior de pessoas.
É o caso da divulgadora científica Karina Lima, que integra um perfil dedicado a comunicar a ciência climática. Por meio das redes, ela informa sobre a emergência do clima e o aquecimento global, além de combater o negacionismo climático. Doutora em Climatologia pela UFRGS, Karina compartilha conhecimento de forma acessível e engajada. Em entrevista recente ao podcast Eco Vozes, do projeto de extensão Mão na Mídia, Karina comentou como iniciou nesta área. “Eu sou uma cientista do clima e quando percebi que eu poderia contribuir também de outra forma, no caso, por meio da divulgação científica, eu comecei a fazer isso nas redes sociais. Eu acho que desde 2020, mais ou menos.”
Ela destaca a importância de fazer divulgação científica, levando dados e informações ao público sem alarmismo. “É bem difícil, porque ao mesmo tempo que a gente tem que mostrar a gravidade da situação, a gente não pode ficar relevando isso ou subestimando essa gravidade […] Mas ao mesmo tempo, essa comunicação não pode ser paralisante. Ela não pode chegar ao ponto em que as pessoas se sentem desmobilizadas ou achem que acabou tudo, que induz a um fatalismo.” A divulgadora defende que ao mesmo tempo que mostramos a gravidade da situação climática, também às sensibilizamos. E só assim conseguiremos gerar transformação.
Projetos educomunicativos
“Você já parou para pensar no que faz com que a Terra seja habitável?” É com esse questionamento que inicia o primeiro capítulo, O Efeito Estufa, do guia ilustrado Eunice, o espaço unificado de informação climática e engajamento, criado pelo Observatório do Clima. O nome do projeto foi dado em homenagem à cientista estadunidense Eunice Foote, que foi uma das pioneiras na descoberta do efeito estufa, e tem um objetivo simples: ajudar o público a entender as mudanças climáticas de forma didática e acessível.

No formato de um mapa, o guia inicia no passado, explicando o que é o efeito estufa; então percorre o presente, falando da descoberta da crise climática e mostrando as causas e os culpados do aquecimento global, e vai até o futuro, explicando o que pode acontecer se não fizermos nada para mudar o nosso destino. Nesse caminho, ele passa por questões econômicas e políticas e exemplifica os efeitos delas no meio ambiente.
Eunice faz parte de um conjunto de projetos que mesclam educação e comunicação com o objetivo de ampliar o acesso à informação e a construção de conhecimento por meio da participação ativa dos educandos na sociedade. Entre a ciência e as redes sociais, a educação midiática mostra que há caminhos possíveis para transformar informação em consciência — e consciência em ação.
Por Bruna Einecke | Bolsista PET Educom Clima
Saiba mais
https://papodedev.com.br/2025/06/28/consumo-de-noticias-brasil-2025/
https://educamidia.org.br/educacao-midiatica/