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Gustavo Dalpian, professor e pesquisador na UFABC, conta sobre sua trajetória de pesquisa na área de física e o seu trabalho na universidade.



Gustavo Dalpian, egresso do curso de Física da Universidade Federal de Santa Maria, turma de 1997, tem mestrado (2000) e doutorado (2003), no curso de Física da Universidade de São Paulo (USP). Fez pós-doutoramento no National Renewable Energy Laboratory e na University of Texas at Austin, nos Estados Unidos. Em 2019 obteve o título de Livre-Docente pelo Instituto de Física de São Carlos (USP).

Em 2006 ingressou na Universidade Federal do ABC (UFABC), integrando a primeira turma de professores contratados, coordenou a criação do Programa de Pós-Graduação em Nanociências e Materiais Avançados da universidade, onde também foi Vice-Reitor (2010 – 2014) e Pró-Reitor de Pós-graduação (2014-2016) na instituição.

Membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências e membro da Coordenação de Área de Física da FAPESP, seu foco de pesquisa é na área de Simulação Computacional de Materiais, utilizando variadas técnicas teóricas para entender as propriedades de materiais.

Volver – Para começar, relate como foi o início da sua carreira como pesquisador e qual o papel da UFSM nesse caminho da investigação científica?

Gustavo – Fiz minha graduação em Física na UFSM, tendo me formado na turma de 1997. Já no segundo semestre de minha graduação, comecei a fazer uma iniciação científica, orientado pelo Prof. Celso Arami Marques da Silva. Na época eu fazia parte do grupo PET-CAPES, programa que frequentei até o final da graduação. Desta forma, a UFSM deu-me subsídios para me dedicar bastante à pesquisa desde o início da graduação. Essa dedicação ajudou a traçar os caminhos futuros como pesquisador. Fiz Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado.

Não é trivial identificar qual seria o início de minha carreira. Alguns diriam que foi a época do pós-doutorado nos Estados Unidos. Outros dirão que foi quando passei em um concurso para Professor na Universidade Federal do ABC. Entrei na UFABC no ano de 2006, mesmo ano em que a Universidade começou suas atividades. Quando cheguei lá, não havia laboratórios, nem cursos nem alunos. Tivemos que montar tudo do zero. Foi extremamente trabalhoso, mas ao mesmo tempo, gratificante. Conseguimos moldar uma instituição altamente focada na pesquisa científica, e com um projeto pedagógico inovador.

Formandos de Física de 1997, em uma das salas do CCNE.

Volver – Quais desafios e quais recompensas você aponta em trabalhar com pesquisa científica? 

Gustavo – O processo da descoberta científica é um grande desafio por si só. Na maior parte das vezes não é o tipo de trabalho que você sabe de antemão qual será o resultado ou se dará certo. Este é um desafio intrínseco da ciência. A grande recompensa, certamente, é chegar ao final do trabalho e ver que você conseguiu resolver um problema que estava em aberto.

Além deste processo de descoberta, há outros pontos que são desafiadores hoje em dia. Entre eles estão as dificuldades financeiras e a burocracia excessiva. Com relação a recompensas, gosto de pensar no networking que fazemos: ao longo dos últimos 20 anos fiz amigos e parceiros de trabalho em todos os continentes. A oportunidade de uma vivência cultural tão ampla ocorre em poucas profissões. 

Volver – Você desenvolve uma pesquisa sobre a “Síntese, caracterização e simulação de materiais avançados”. Pode falar um pouco em que fase está, quais fatores envolve, quais recursos demanda e quais os principais resultados já observados?

Gustavo – O nosso trabalho atual se situa em uma interface entre a Física, a Química e a Ciência de Materiais. Usamos supercomputadores para entender as propriedades de materiais, usando como ferramenta básica a Física Quântica. Há dois objetivos fundamentais: 1) tentar entender as propriedades de materiais crescidos em laboratório e porque eles se comportam de uma certa maneira; 2) tentar predizer materiais com propriedades específicas, para que nossos colegas experimentais tentem sintetizá-los nos laboratórios.

Um trabalho que fizemos há alguns anos atrás, e que teve grande impacto, procurava entender o motivo de ser difícil dopar nanocristais. Essa dopagem é um processo de tornar materiais aplicáveis a mais funções, mas havia dificuldade em fazê-lo. Nosso trabalho auxiliou a entender o problema, e viabilizou a busca por novas rotas para fazê-lo.

Com relação a recursos, usamos como ferramenta diária alguns dos maiores supercomputadores do Brasil. O supercomputador Santos Dumont, localizado no LNCC em Petrópolis-RJ, possui 36.472 núcleos de CPU (cores) e é o maior do Brasil.

Volver – Além da pesquisa citada acima, trabalha em outro projeto de pesquisa? 

Gustavo – Hoje nosso grupo é composto por quatro pós-doutores, dois alunos de doutorado e dois alunos de iniciação científica. Cada um desses alunos possui um projeto próprio. Temos trabalhado bastante com materiais bidimensionais, spintrônica, e na busca por materiais para células solares. Convido o leitor a visitar nossa homepage para uma lista mais detalhada desses trabalhos: http://dalpian.ufabc.edu.br/

Volver – Você integrou a primeira turma de professores contratados da UFABC, coordenou a criação de um programa de Pós-Graduação, foi Vice-Reitor e Pró-Reitor de Pós-graduação na instituição. Como você vê o crescimento da universidade, o crescimento de pesquisas e a sua relação nesses acontecimentos? 

Gustavo – A UFABC nasceu de um processo de renovação do Ensino superior brasileiro, que foi liderado pela Academia Brasileira de Ciências. A região do ABC paulista demandava uma universidade federal há muito tempo, e configurou-se como o local perfeito para criá-la. A UFABC objetiva formar alunos com perfil interdisciplinar através dos seus Bacharelados Interdisciplinares, e possui uma estrutura administrativa livre de departamentos, o que incentiva o trabalho colaborativo entre docentes. Neste ano completamos 15 anos de atividades, e nos qualificamos como uma das mais destacadas universidades brasileiras. Produzimos ciência de qualidade e nossos alunos estão sendo muito disputados pelo mercado de trabalho. Eu tive alguns cargos de liderança na instituição, mas vejo que o resultado atual é fruto do trabalho de toda uma comunidade. É muito bom poder fazer parte da construção de uma instituição.

Volver – Como a sua produção científica tem impactado a sociedade?

XIII Escola Brasileira de Estrutura Eletrônica, realizada em Cuiabá (MT) e coordenada por Gustavo Dalpian

Gustavo – A pesquisa que fazemos é classificada como ‘Ciência Básica’. Trabalhamos para expandir o conhecimento científico, e desvendar os seus fundamentos. Essa pesquisa não vai parar diretamente na prateleira de um supermercado, ao menos no curto/médio prazo. O ‘produto final’, inovador, que é o que muitos procuram visualizar, somente surgirá depois que centenas (algumas vezes milhares) de trabalhos científicos forem desenvolvidos.

Há outros tipos de contribuições que nosso trabalho também traz: formamos pessoal altamente especializado, capaz de criar soluções inovadoras para os problemas nacionais. Levamos a ciência a todos os cantos do Brasil, e tentamos instigar nos jovens a curiosidade intrínseca da ciência. Quem tem o maior poder de impactar na sociedade são aqueles tocados pela nossa ciência. Torcemos para que eles sejam melhores do que nós. 

Volver – Como você se vê daqui a 10 anos?

Gustavo – Eu e minha família gostamos muito de fazer planos de longo prazo. É muito bom nutrir esses planos ao longo dos anos, vislumbrando como será e trabalhando para viabilizá-los. No futuro, eu gostaria de passar um ano sabático como Professor Visitante em alguma universidade no exterior. Seria um ano para fazer ciência o tempo todo, ter tempo para pensar profundamente em problemas complexos, e ao mesmo tempo conhecer pessoas novas, instituições novas e culturas novas.

Texto: Lucas Zambon

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