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Agroflorestas estimulam a proteção do meio ambiente e a relação saudável entre o homem e a natureza

Lugares como o Jardim Botânico e o Residencial Dom Ivo Lorscheiter são exemplos do sistema agroflorestal em Santa Maria



Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são modelos de produção de alimentos que têm origem na tradição dos povos originários. Segundo o instituto de pesquisa World Resources Institute (WRI Brasil), as agroflorestas visam à plantação e ao cultivo de árvores e de produtos agrícolas na mesma área. De acordo com o WRI, a implantação deste tipo de sistema tem ganhado força em alguns estados do país, como São Paulo e Paraná, por trazer benefícios tanto para a economia quanto para o meio ambiente.

Os modelos de agroflorestas permitem a plantação e o cultivo de árvores, como as seringueiras, em conjunto com produtos agrícolas como o café. Essa união dá a possibilidade do que foi plantado trabalhar em conjunto com o que já existia no local, sem a necessidade de retirar árvores. Por isso, o modelo traz benefícios ambientais, pois evita o desmatamento e a retirada de plantas dos espaços.

Agrofloresta no Jardim Botânico

Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o professor de Ciências Biológicas e ex-diretor do Jardim Botânico Renato Záchia, juntamente com um grupo de alunos, realizou a inserção da agrofloresta no Jardim. O primeiro contato do professor com os sistemas agroflorestais ocorreu quando ele estudava as culturas dos povos indígenas: “Eu nem sabia que existia a palavra ‘agrofloresta’ na época. Minha relação com a temática começa a partir do contato com a cosmologia indígena, dos povos originários, de perceber a maneira como eles se vinculam com a natureza”, relata Záchia.

A ideia de uma agrofloresta na Universidade surgiu a partir de uma proposta dos estudantes, que queriam começar o cultivo de árvores na instituição. Záchia, então, propôs um novo modelo: “A agrofloresta surge da ideia de plantar árvores, mas trabalha dentro de uma compreensão didático-pedagógica. Ela não trata uma árvore separada. Se plantar uma árvore, eu tenho que trazer a família dela, que é o sistema em que ela vive”. 

A agrofloresta do Jardim Botânico valoriza, principalmente, a colaboração entre as pessoas e depende delas para que continue em funcionamento. É cuidada por alunos e, segundo Záchia,  é por causa deles que a área pode ser mantida. Alimentos como alface, mostarda e couve podem ser encontrados na agrofloresta e estão disponíveis para consumo tanto para quem cuida do espaço quanto para quem é visitante. 

Os SAFs não são apenas um modelo de agricultura, portanto, visar apenas o lucro não faz parte de quem estabelece e segue esse tipo de sistema. A ideia da construção de uma agrofloresta é reunir agricultura,  natureza,  questões sociais e entender que tudo isso faz parte de um único espaço. A Agrofloresta do Jardim Botânico funciona quando tem a colaboração das pessoas. Záchia comenta que ali também são trabalhadas questões sociais, já que depende das pessoas para existir, e, por isso, esse modelo é o conceito inverso de competição. 

Atualmente, poucas pessoas trabalham na Agrofloresta do Jardim Botânico. Como o sistema só funciona com a ajuda da comunidade municipal e acadêmica, as plantas correm o risco de ficar sem os cuidados adequados, caso os responsáveis não possam se dedicar às tarefas. A mandioca é um exemplo disso: como não havia ninguém que pudesse fazer a plantação na época correta ela acabou sendo deixada de lado. Apesar disso, esse sistema tem grande importância para a Universidade. “Ter uma agrofloresta dá a possibilidade de as pessoas enxergarem que, em um mesmo espaço, podem coexistir plantas não convencionais e a fauna, sem precisar matar nenhuma planta”, destaca Záchia. 

Agrofloresta no Residencial Dom Ivo Lorscheiter

Santa Maria também tem uma Agrofloresta no Residencial Dom Ivo Lorscheiter, localizado no bairro Diácono João Luiz Pozzobon. O presidente do Residencial, Luiz Antônio, também conhecido como Mestre Militar Capoeira, conta que a agrofloresta daquele local surgiu com o intuito de recuperar uma área que era usada como lixão pelos moradores. As pessoas deixavam garrafas, móveis, alimentos e até pneus. “O que antes era um lixão, hoje é um local em que são produzidos alimentos para as famílias da comunidade”, relata Luiz. 

Apesar de ter sido um processo lento, a comunidade do Residencial Dom Ivo Lorscheiter tem se envolvido para manter a agrofloresta em boas condições. Mesmo que algumas pessoas não tenham apoiado a criação de um SAF naquela área, hoje os moradores plantam, cuidam e desfrutam dos benefícios do sistema.

Luiz é mestre da associação da capoeira e aproveita sua liderança na comunidade para envolver os moradores e passar o modelo de agrofloresta adiante. Ele relata sua preocupação com o futuro, por isso aproveita de sua presidência na capoeira para influenciar os jovens e seus familiares, deixando novas lideranças para o futuro. “Eu envolvo as crianças, os adolescentes e os pais. Isso vai fazendo com que eles aceitem a ideia, assim, futuramente, novas lideranças vão manter a agrofloresta. Digamos que eu vá embora: quem vai cuidar da agrofloresta? A gente forma novas lideranças para seguir esse mesmo trabalho”, conta Luiz.

Meio Ambiente 

O professor Renato Záchia comenta que, além de proporcionar alimentos para as pessoas, a agrofloresta tem a possibilidade de cultivar a terra sem causar três grandes prejuízos: “a perda de água potável no planeta, a perda da biodiversidade e a perda do solo. Eles acontecem devido à maneira como as pessoas estão se relacionando com o meio ambiente”. 

O efeito do sistema agroflorestal não só auxilia o meio ambiente em grande escala como também nas mudanças dentro de casa. Luiz conta que, desde a implantação do sistema no Residencial Dom Ivo Lorscheiter, os moradores já mudaram alguns hábitos, como a separação do lixo: os resíduos orgânicos são separados e levados para a agrofloresta. 

Expediente:

Reportagem: Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo;
Design gráfico: Lucas Zanella, estagiário de Desenho Industrial
Edição de Produção: Samara Wobeto;
Edição geral: Luciane Treulieb e Mariana Henriques, jornalistas.

 

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