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Finanças além dos números

Alfabetização financeira reduz o endividamento e influencia comportamentos dos consumidores



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Estudar finanças, cuidar das despesas, pesquisar preços e taxas de juros pode parecer complicado, longe da realidade do cotidiano e sem importância – mas não é. Tornou-se, cada vez mais, algo primordial tanto para as finanças pessoais quanto para a economia do país. Ao mostrar que a alfabetização financeira contribui diretamente para reduzir a propensão ao endividamento e a compras compulsivas, a pesquisa Desmistificando a alfabetização financeira: uma análise da perspectiva comportamental foi premiada como o melhor artigo científico da 18ª International Finance Conference. “O objetivo, em geral, é estudar as influências que as pessoas sofrem ao tomar suas decisões financeiras”, explica Kelmara Mendes Vieira, do Departamento de Ciências Administrativas da UFSM, uma das autoras do texto. Ao lado de Ani Caroline Grigion Potrich, doutora em Administração pela UFSM e docente na Universidade Federal de Santa Catarina, a autora afirma que as três condições para que a pessoa se torne alfabetizada financeiramente são: educação financeira, atitude favorável e comportamento adequado na hora de tomar uma decisão.

O primeiro requisito se baseia no conhecimento de finanças, como saber o que é a taxa de juros, compra a prazo, e como elas se aplicam. A atitude favorável, por sua vez, supõe que a pessoa queira usar os conhecimentos financeiros e, por fim, use-os na hora da compra – sendo este o comportamento adequado. “A pessoa sabe o que é juro, mas, na hora da compra, ignora esse fator. Ela não seria, então, completamente alfabetizada financeiramente. O indivíduo tem que ter o conhecimento, mas também a atitude e o comportamento financeiro adequado”, explica Kelmara.

Para realizar a pesquisa, as professoras visitaram, durante dois anos, os 31 municípios da região centro-oeste do Estado, incluindo Santa Maria, onde foram aplicados 2.487 questionários sobre conhecimento, atitude e comportamento financeiro. A partir das respostas, as pesquisadoras fizeram um termômetro de alfabetização financeira, avaliando os aspectos de propensão a compras compulsivas e a endividamentos. Como resultado, concluíram que quanto maior o nível de alfabetização financeira, menos a pessoa está propensa ao endividamento. Esse dado é ainda mais presente quando os indivíduos têm comportamentos de compras compulsivas, como exemplifica Kelmara: “Essas pessoas, quando veem uma liquidação, por exemplo, correm e compram coisas que não precisam. Adquirem aquilo só porque está em liquidação, sem pensar na taxa de juros, no quanto é vantagem ou não”.

Segundo a pesquisadora, o Brasil está atrasado em relação aos níveis de educação financeira, se comparado a países mais desenvolvidos. Pesquisas demonstram que apenas 3% dos jovens de 15 anos têm níveis de educação financeira altos. “Se os jovens não estão aprendendo a lidar com seu dinheiro, nós vamos continuar tendo famílias extremamentes endividadas”, avalia a professora, que complementa: “Precisamos definir maneiras e estratégias para aumentar o nível e o número de pessoas alfabetizadas financeiramente. Com nossa pesquisa, mostramos que ainda faltam investimentos nessa área”.

Uma das iniciativas existentes é a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), que objetiva promover a educação financeira e previdenciária, aumentando a capacidade do cidadão de saber administrar seus recursos, e contribuindo para a eficiência dos mercados financeiro, de capitais, de seguros e de Previdência. Na recente alteração da Base Comum Curricular das escolas, proposta pelo Governo Federal em 2017, a educação financeira passou a ser tratada de forma interdisciplinar. “É uma mudança estrutural, comportamental e de longo prazo, mas os primeiros passos estão sendo dados”, avalia Kelmara. Nesse sentido, Ani Caroline entende que, se as pessoas, o governo, a sociedade como um todo investirem em tornar as pessoas mais educadas financeiramente, a situação econômica, inclusive do país, pode melhorar.

Reportagem: Gabriel de David, acadêmico de Jornalismo
Ilustração e Diagramação: Pollyana Santoro, acadêmica de Desenho Industrial
Locução: Marcelo De Franceschi

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