Quem nunca utilizou uma receita antiga de família para resolver algum problema de saúde? Pois saiba que a medicina alternativa pode realmente funcionar – e isso tem comprovação científica. Além disso, pode ser uma fonte de renda.
O curso de Mestrado em Agronomia – Agricultura e Ambiente, do departamento de Ciências Agronômicas e Ambientais do Campus de Frederico Westphalen (CESNORS), trabalha com projetos de cultivo de plantas medicinais como uma forma de complemento de renda para a agricultura familiar da região. O professor Velci Queiróz de Souza, um dos coordenadores da pesquisa, explica que o departamento tem por finalidade descobrir novas alternativas de cultivos para a agricultura familiar: “A fonte de renda de várias famílias da região é baseada no cultivo de fumo, mas esse produto sofre preconceito no mercado, além de necessitar de uma grande quantidade de agrotóxicos que são nocivos à saúde do agricultor. Então, nós pesquisamos outras formas de cultivo que possam diversificar e ajudar na renda das famílias”.
A pesquisa conta também com a coordenação dos professores Braulio Otomar Caron e Denise Schmidt. Juntos, os três docentes coordenam ainda outros estudos voltados para a agricultura familiar, tentando diversificar a unidade de produção das famílias. As pesquisas contam com a participação de 61 estudantes: 6 bolsistas mestrandos, 15 bolsistas de iniciação científica e 40 voluntários. Velci relata que a maioria dos alunos de Agronomia é proveniente da região de Frederico Westphalen (noroeste do Rio Grande do Sul) e são filhos de pequenos produtores rurais. Para que alunos e professores desenvolvam seus estudos, o departamento conta com 16 hectares de área experimental. Todo o conhecimento oriundo da Universidade é repassado para os agricultores através da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), que tem uma parceria com o Departamento de Ciências Agronômicas e Ambientais do CESNORS, além de ser o órgão do governo que gere e melhora a produção agrícola no estado. O departamento não tem uma maior interação com os agricultores da região, mas orienta o trabalho técnico da Emater e desenvolve algumas das alternativas que serão empregadas pela empresa.
O cultivo das plantas medicinais é baseado em duas plantas nativas da região: Lippia alba (a falsa erva-cidreira) e Aloysia triphyla (o cidrão de árvore). Essa pesquisa foi desenvolvida em parceria com os professores Bernardo Baldisserotto e Berta Maria Heinzmann, ambos do Centro de Ciências da Saúde do campus da UFSM em Santa Maria, que conseguiram isolar e descobrir três princípios ativos das plantas: um composto anestésico; uma composição antiprotozoária, que combate protozoários causadores de doenças como malária, doença de Chagas e amebíase; e uma composição antimicrobiana, que combate bactérias e microrganismos. As descobertas garantem à UFSM as patentes das substâncias, possibilitando a redução dos custos da utilização desses produtos no mercado brasileiro, além de gerarem um novo mercado e uma nova fonte de renda para pequenos produtores rurais.
Os pesquisadores de Frederico Westphalen desenvolveram vários estudos para adaptar as plantas ao meio de cultivo e analisar como o meio interfere na produção dos princípios ativos. Além disso, foi avaliada a possibilidade de um melhoramento genético para facilitar a propagação e a produtividade da planta. A equipe estudou qual é a reação das plantas em diversas temperaturas, qual o manejo necessário no solo e qual a melhor forma de reprodução e condução. Nas experiências, nenhum dos dois tipos de plantas se tornou tóxico para o consumo humano, nos diferentes meios em que foram cultivados, e também não apresentou muitas dificuldades para enfrentar o inverno. Entretanto, em decorrência da geada, houve redução da massa verde, ou seja, queda de desenvolvimento de folhas. As mudas foram testadas em quatro tipos de substratos para sua multiplicação: húmus de minhoca, substrato comercial, areia e vermiculita, que serve para nutrir e melhorar o solo para cultivo.
Como resultado, os dois tipos de plantas se desenvolveram sem dificuldades em todos eles.
Outra questão estudada foi o melhoramento genético. Em princípio, as plantas apresentavam uma grande diversidade genética; cada espécime apresentava várias características diferentes, conforme sua adaptação ao ambiente. Isto acontecia porque elas eram silvestres e se reproduziam através de sementes. Os pesquisadores identificaram, então, os espécimes que tinham o maior número de características favoráveis para o cultivo comercial e, a partir destes, desenvolveram métodos de propagação através de estaquia (mudas). Embora tenha ocorrido o melhoramento genético da espécie, o professor Velci ressalta que o método não é uma forma de transgenia, porque as plantas não são modificadas em laboratório ganhando atributos não naturais à espécie. Diferentemente disto, há uma tentativa de melhorar os atributos já existentes nas espécies.
O Departamento de Ciências Agronômicas e Ambientais do Campus de Frederico Westphalen trabalha ainda em outros projetos para diversificar a produção agrícola do norte do estado. As pesquisas são para promover a melhoria de vida das famílias. A alternativa, no caso desta pesquisa das plantas medicinais, veio de um conhecimento popular e está ao alcance dos pequenos agricultores locais. Ao contrário de outros cultivos, a falsa erva-cidreira e o cidrão de árvore são plantas nativas da região e de fácil adaptação para cultivo comercial. Mas cuidado! Não é qualquer chá que faz bem à saúde e pode ser cultivado para ser vendido. É preciso comprovação científica para utilização comercial desse tipo de produto e é preciso ter cuidado também no consumo de substâncias caseiras. Ainda no caso da falsa erva-cidreira e do cidrão de árvore, só o chá não garante que os princípios ativos das plantas farão efeito. No entanto, a obtenção desses princípios através das plantas dá ao mercado brasileiro a possibilidade de ter essas substâncias mais baratas e, consequentemente, o consumidor poderá comprar, em breve, remédios mais baratos.
POPULAR
Os chás da falsa erva-cidreira (Lippia alba) e do cidrão de árvore (Aloysia triphyla) podem ser eficazes contra cólicas abdominais, distúrbios estomacais e atuam como digestivo. Além disso, podem resolver quadros leves de ansiedade e insônia, atuando como calmante suave. As plantas podem ser aromáticas e têm um gosto agradável ao paladar. Em algumas regiões do Rio Grande do Sul, são misturadas ao chimarrão para dar aroma e gosto à bebida.
CUIDADO
Não há comprovações exatas de todos os efeitos causados pela falsa erva-cidreira e pelo cidrão de árvore. Assim como qualquer outra planta medicinal, elas podem perder os efeitos benéficos à saúde se forem cultivadas em condições adversas, como também existe o risco de se tornarem tóxicas ao consumo humano.
Repórter: Victor Carloto