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Polifeira conscientiza agricultores sobre uso de agrotóxicos

O projeto da UFSM faz análises semanais que garantem aos consumidores alimentos mais saudáveis



As feiras da agricultura familiar são procuradas por consumidores que buscam por alimentos mais frescos. A percepção de que os produtos vendidos nesses locais não usam agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes sintéticos – ou seja, de que são orgânicos – está no imaginário das pessoas. Porém, essa ideia nem sempre é verídica, visto que o uso irregular de agrotóxicos pode estar presente até em pequenas propriedades.

Descrição da imagem: ilustração horizontal e colorida de alimentos com brilho. No lado esquerdo inferior da imagem, em primeiro plano, folhas de alface, um tomate inteiro e outro cortado ao meio, e duas cenouras. Os alimentos brilham. Acima, placa de madeira pendente e rústica com o título, em caixa alta, dividido em três linhas e na cor marrom escuro: "Polifeira conscientiza agricultores sobre uso de agrotóxicos". No lado direito, em segundo plano, bomba de irrigação manual, em formato de tubo quadrado e fino, na cor azul, com mangueira laranja e aplicador cinza. Na caixa, desenho de uma planta em verde. O fundo é verde água com textura de alimentos como abóbora, tomate, vagens, beterraba, rabanete, pepino, batata e cenoura, na mesma cor do fundo.

A PoliFeira do Agricultor faz análises semanais que avaliam o nível tóxico dos alimentos vendidos. Entre janeiro e julho de 2021, os resultados identificaram um total de 0,2% de agrotóxicos nas 2.772 amostras analisadas. Os baixos índices seguem estáveis desde o segundo semestre de 2017, quando somaram mais de 6 mil avaliações, com índices sempre abaixo de 1%. 

 

Esse monitoramento é feito em parceria com o Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas (LARP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por meio de técnicas em instrumentos que avaliam a presença de 63 diferentes princípios ativos de agrotóxicos. Também fazem quantificação de íons que se formam do composto de cada produto. “São duas técnicas acopladas: uma que separa os químicos, a cromatografia, e a outra é o espectrômetro de massas, que consegue reconhecer e quantificar (os agrotóxicos presentes nas amostras). É o mesmo tipo de equipamento que se usa para análise de antidoping”, explica o docente Renato Zanella, coordenador do LARP.

 

Segundo o professor Gustavo Pinto da Silva, coordenador da PoliFeira, as análises são um dos meios que garantem aos consumidores que os alimentos vendidos sejam mais saudáveis. “Nós temos vários mecanismos de assegurar ao consumidor que a produção do que está na feira ocorre nas melhores condições. Temos um cronograma de visitas semanais nas propriedades, passamos de banca em banca conversando com os produtores e observando os produtos”, contou. Além disso, é proibido que os agricultores vendam itens que não são feitos por eles, pois estão fora do controle de suas produções.

 

Uma vez por ano a feira também analisa as farinhas utilizadas para a produção de massas e pães, único produto de fora de suas plantações que é permitido. A partir dos resultados, laudos são revisados e encaminhados à equipe da feira, que verifica os índices e alerta os feirantes quando alterados.

 

Esses resultados são consequência de um intenso trabalho da equipe da PoliFeira, que busca eliminar ou, pelo menos, reduzir o uso de químicos entre os produtores rurais. “Quando uma amostra apresenta irregularidades, nós conversamos com os agricultores. Por que usou o produto químico sem ter discutido antes? É nesse sentido que o monitoramento entra também para trabalharmos como uma metodologia de qualificação deles”, comenta o professor Gustavo.

A conscientização da Polifeira contra o uso dos agrotóxicos

Os agrotóxicos são químicos sintéticos utilizados para o controle de pestes nas lavouras. “O problema desses químicos é que eles quebram com ciclos naturais no ambiente, desestabilizam populações de insetos e outros mecanismos de controle da própria natureza”, observa o professor Gustavo. 

 

Apesar disso, no Brasil, existem agrotóxicos registrados e aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para cada tipo de alimento. Significa que produtos legalizados para tomates não são os mesmos que para cenouras e alfaces, por exemplo. Ainda, cada químico tem uma quantidade máxima de uso (o chamado LMR, limite máximo de resíduos) que, se ultrapassada, pode gerar prejuízos à saúde. O limite é definido a partir de estudos de campo, experimentos e níveis de quantidade que as pessoas costumam ingerir dos alimentos no dia a dia.

 

Entre os prejuízos ao ser humano estão as intoxicações. Conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em texto publicado no sítio do Instituto Nacional do Câncer (INCA), mais de 70 mil intoxicações agudas e crônicas por ano são causadas por esses produtos em países em desenvolvimento.

 

Mesmo que maléficos em quantidades que ultrapassam a estimativa nacional, a maioria das lavouras utilizam os agrotóxicos. Isso porque, conforme o professor Renato, o Brasil é muito atrasado em análises residuais. “A Anvisa tem um programa de análise de resíduos de agrotóxicos. Mas tem realizado poucas amostras, mais voltadas somente para a produção das capitais e demoram um, dois anos para publicarem os resultados. Com essa demora, nunca vimos alguém ser multado por comercializar alimentos que tinham agrotóxicos não registrados. Fica aquela lacuna de saber se aquilo que estamos consumindo está adequado ou não”, expõe. 

 

O objetivo da equipe vai além de reduzir os químicos sintéticos na PoliFeira: conscientizar os produtores dos riscos de seus usos para a saúde dos consumidores também está nos propósitos do projeto. Isso acontece na esfera de ensino da Universidade, com conversas e palestras. “Escolhemos produtores convencionais, porque entendemos que o desafio é trabalhar com quem de fato abastece os supermercados. Precisamos mudar a cultura das pessoas. Hoje os resultados mostram o uso de agrotóxicos autorizados para os tipos de plantações, com o mínimo, que é muito aquém da exigência legal: para nós particularmente é uma vitória”, explica Gustavo.

 

Em virtude disso, não há cláusulas no edital de ingresso da PoliFeira que indiquem o desuso dos agrotóxicos, mas os agricultores, se tem maus costumes em relação às plantações, precisam estar dispostos a mudar seus modos de produção. “Nós exigimos que o produtor se disponha a uma transição agroecológica permanente, porque a gente entende que o grande desafio não é trabalhar com os melhores, estes já mudaram [seus pensamentos em relação ao uso de agrotóxico]”.

 

Para evitar o uso dos itens prejudiciais à saúde, o Colégio Politécnico acompanha a Feira na disponibilização de insumos biológicos para os agricultores – que, segundo a Embrapa, são produtos ativos que estimulam o crescimento e o desenvolvimento das plantas, elaborados a partir de enzimas ou extratos (de plantas ou de microrganismos) – que ajudam a manter a produção orgânica.

 

Esses ensinamentos geram reflexões significativas para os agricultores ao pensar nas formas de produção. Geraldo André Raddatz vende frutas e hortaliças na PoliFeira, e comenta que, assim como os demais feirantes, que aderiram à ideia de usar os produtos orgânicos, entende que a produção sem agrotóxicos beneficia o produtor e o comprador. “É importante para a saúde do consumidor, para a natureza também. Além disso, o sabor do alimento é diferente, mais gostoso.”

 

Por mais que exista essa verificação constante, a Feira não se divulga como orgânica. Isso porque, para Gustavo, normalmente os rótulos não garantem, de fato, um controle de que os produtos são elaborados com todos os cuidados necessários e sem químicos. “Nós entendemos que a feira não precisa de rótulos, porque o próprio agricultor pode dar a garantia para o público e tem um mecanismo por trás que garante a qualidade do alimento. O nosso trabalho é pra ter uma feira orgânica limpa, sem nada, não com rótulo.”

Expediente:

Reportagem: Paula Appolinario, acadêmica de Jornalismo e voluntária;

Design gráfico: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário; e Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e voluntária;

Relações Públicas: Carla Costa;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

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