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Os desafios do solo

Pesquisa estuda qual o método mais adequado para preparar o solo e obter melhores resultados nos plantios



O plantio agrícola não é uma tarefa fácil. São necessários muitos cuidados para que a planta se desenvolva de maneira forte e saudável. E esses cuidados já se aplicam antes mesmo de plantar a semente: o preparo do solo é uma fase fundamental do processo. Uma pesquisa desenvolvida na UFSM em 2014 testou dois métodos utilizados com vistas a melhorar os sistemas de plantio. O primeiro método é mecânico e configura-se no revolvimento e/ou escarificação do solo; o segundo é químico, no qual utiliza-se o gesso agrícola. Mas antes de falarmos mais sobre isso, é preciso voltar um pouco no tempo.

 

Histórico

Os anos 1970 foram um marco na história da agricultura brasileira, com o surgimento do plantio direto. Anteriormente, utilizava-se um sistema de plantio convencional, herdado dos povos da Europa, um continente caracterizado por invernos rigorosos. As baixas temperaturas faziam com que as camadas mais profundas do solo estivessem congeladas ao fim do inverno; assim, era preciso expô-las ao sol, para que fossem aquecidas e se tornassem aptas ao plantio novamente. Esse é o primeiro sistema de plantio, praticado com técnicas de revolvimento do solo. Neste sistema, a terra é arada, gradeada, lavrada e mexida com o auxílio de diversas máquinas.

 

 

O Brasil, no geral, não registra frios tão intensos como os europeus. Entretanto, esse sistema favorecia a deposição das sementes e a germinação e desenvolvimento das plantas, uma vez que deixava o solo livre de obstáculos para o plantio. Com o passar dos anos, porém, a repetição desse sistema, associado, muitas vezes, com topografias íngremes e altos índices de chuva, se tornou insustentável, já que resultava em sérios problemas de erosão e perda de solo devido às enxurradas.

 

Eis que surge, então, o plantio direto. Esse segundo sistema de plantio é caracterizado pela ausência ou mínimo revolvimento do solo, pela permanência da palhada sobre a superfície e pela rotação de plantas. Esse sistema tem dado certo nas condições de cultivo brasileiras, sendo muito utilizado pelos agricultores nas lavouras.

 

Porém, o que parecia ser a solução trouxe novos problemas. O não revolvimento do solo fez com que os nutrientes se concentrassem na região mais superficial da terra, assim, tornou-se necessário que as plantas crescessem suas raízes na superfície do solo. O problema é que esta é a camada que armazena menos água e seca facilmente em função da incidência do sol e do vento. Esse fator, associado a períodos de estiagem, prejudicou o crescimento saudável das plantas.

 

 

Além disso, o uso cada vez mais frequente de máquinas mais pesadas e maiores nas plantações, e a inexistência do revolvimento, causou uma compactação do solo. As camadas ficam endurecidas, o que impede a infiltração da água e o desenvolvimento das raízes em profundidade.

 

Eficiência dos métodos

O pesquisador do curso de Agronomia do campus da UFSM em Frederico Westphalen, Lucindo Somavilla tratou sobre o tema em sua dissertação de mestrado. A proposta foi descobrir qual método seria mais eficiente para levar os nutrientes, em maior quantidade na superfície, para as camadas mais profundas do solo: o revolvimento, o uso do gesso agrícola, ou ambos. Também buscou-se saber qual seria a resposta produtiva das plantas de maior interesse agrícola comercial.

 

O método mecânico, com revolvimento, segundo o pesquisador, seria um desafio para o sistema de plantio direto, porque quebraria com a ideia inicial de não mexer com o solo. A técnica, porém, poderia ser realizada esporadicamente, caso trouxesse os benefícios esperados.  A intervenção com o arado foi proposta por já ter sido utilizada no sistema convencional. O escarificador, por outro lado, foi desenvolvido para resolver o problema da compactação sem infringir as características do sistema, apenas quebrando a dureza do solo.

 

Já o gesso, representando o método químico, é um subproduto barato da indústria de fertilizantes. Este sal neutro, conforme já comprovado cientificamente, tem o poder de transportar nutrientes para as camadas mais profundas do solo. Entretanto, esses resultados foram obtidos no solo do cerrado brasileiro, que possui características diferentes das terras do sul do Brasil. “Alguns agricultores gaúchos já usam o gesso com essa ideia, mas não se tem nada científico que comprove tais benefícios nos solos do Rio Grande do Sul”, afirma Somavilla.

 

Assim, o pesquisador partiu da hipótese de que o método mecânico quebraria a dureza do solo e distribuiria os nutrientes nas suas camadas e o químico apenas distribuiria os nutrientes nas camadas. Ambos proporcionariam boas condições para o crescimento das raízes em profundidade e assim as plantas resistiriam melhor às estiagens.

 

Os dois métodos foram testados em plantios de milho e soja. A análise consistiu no cultivo de duas safras de cada planta, com aplicação de gesso agrícola e dos dois tipos de intervenções mecânicas (escarificação e aração). Somavilla comprovou, ao fim do estudo, que não existe vantagem em combinar os dois métodos. A aplicação individual também não atingiu o rendimento desejado. O revolvimento e o gesso não foram eficazes nos solos gaúchos, já que movimentaram pouco os nutrientes, beneficiando simploriamente a produtividade. O pesquisador diz que esses resultados “não justificam recomendação de uso por conta do pouco retorno, embora quando usado não traga problemas”.

 

 

Somavilla afirma que os benefícios do sistema de plantio direto são comprovadamente incontestáveis. Se trata de um sistema extremamente sustentável, mas que se consolida com o tempo. “Podemos dizer que é como um bom vinho, quanto mais velho, melhor”. No entanto, para que isso ocorra é preciso seguir rigorosamente os métodos desse sistema, ou seja, o não revolvimento, a formação de palhada e a rotação de plantas. Diz ainda que se essas três premissas forem seguidas, os problemas seriam naturalmente suavizados.

 

“Acontece que inicialmente o sistema foi encarado como milagroso frente o convencional e, obviamente por existir o tempo para torná-lo sustentável, existe um ônus inicial de investimento com bônus diluído à longo prazo. Essa falta de resposta imediata tem forçado a ruptura de uma ou outra premissa. Afinal os problemas existem e precisam ser remediados.”, afirma o pesquisador.

 

Ele também frisa que o gesso agrícola tem, sim, um benefício comprovado. O que seu estudo buscou investigar foi a ideia milagrosa que se tem do seu uso. “Os resultados mostraram que ele tem esse efeito desejável de carregar os nutrientes, no entanto suavizado, e, com isso, não se quer condenar seu uso, mas a percepção de milagroso”, afirma.

 

Por fim, o pesquisador diz que a melhor solução é atender rigorosamente as premissas do sistema, que por si só é sustentável, mesmo que isso signifique esperar um pouco, para que o tempo faça sua parte.

Reportagem: Camila Hartmann e Vitória Londero
Infográficos: Nicolle Sartor

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