Ir para o conteúdo Agência Da Hora Ir para o menu Agência Da Hora Ir para a busca no site Agência Da Hora Ir para o rodapé Agência Da Hora
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Como o isolamento social e a pandemia podem afetar nossa saúde mental?



É comum confundir os sintomas de doenças de inverno com a covid-19 ou mesmo ter sintomas psicossomáticos?

Fonte imagem: G1 RS

No momento de pandemia e isolamento social em que vivemos, estamos em constante alerta e aflição. O tempo todo nos encontramos preocupados com a possibilidade de contrair a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, que ainda não tem tratamento específico e com a chance de, ao contrair, contagiar as pessoas que amamos. Também ficamos ansiosos à espera da vacina e da volta de nossos cotidianos. Todas essas preocupações podem afetar nossa saúde mental mais que imaginamos, por isso conversamos com profissionais da saúde para entender os riscos e soluções para esses problemas.

O pneumologista Jorge Alan Souza, que trabalha no Hospital Divina Providência em Frederico Westphalen, comenta que, como o novo coronavírus ataca o sistema respiratório, ele pode causar qualquer tipo de sintoma referente às vias respiratórias e não é comprovado que exista algum específico da doença. Assim, os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças respiratórias, gripes, alergias e outras doenças. “Além disso, também, o frio resseca a nossas mucosas nasal e respiratória diminuindo a resposta às defesas locais do nosso organismo, favorecendo a ter esse aumento das doenças no frio”, ressalta. Por isso, ele recomenda que, caso perceba sintomas, o paciente procure ajuda médica para ter certeza da causa.

Os sintomas respiratórios também podem ser causados por um mal estar mental. Segundo a psicóloga com mestrado em Psicologia Clínica pela Unisinos, Ivana Cristina Zandavalli, é possível confundir os sintomas. Por exemplo, uma pessoa que é ansiosa pode ficar ofegante e pensar que tem o vírus pela falta de ar, mas os sintomas são diferentes. Outra psicóloga, Liana de Mello Trindade, formada pela Universidade Franciscana, comenta que muitas pessoas podem ter os sintomas psicossomáticos do novo coronavírus por imaginarem estar infectadas. Ela recomenda que, para diferenciar, é importante a procura de um médico. “Se a pessoa se impressionar muito com o momento, ela pode procurar um profissional da área da saúde mental, pois as pessoas podem adoecer muito mais nessa época. Sintomas relacionados à contágio e à convivência social que podem vir a crescer nessa situação de isolamento social”, ela indica.

Ambas as psicólogas alertaram para a possibilidade de sintomas da ansiedade, da depressão, a irritabilidade e o medo se intensificarem durante esse momento de isolamento social. Por ficarem reclusas e sem contato externo, as pessoas podem lidar com esse processo de uma forma não saudável. Alguns extremos podem acontecer, como se preocupar muito ou se preocupar pouco a ponto de se descuidar. Tudo isso depende de como a pessoa percebe a situação que está vivendo. Sua história de vida e seu estado de saúde mental estão diretamente relacionados a como alguém reage a esse momento.

Para se manter bem e estável, a psicóloga Ivana recomenda se manter ativo e entretido. “Temos que aprender a lidar com as incertezas. Um dia de cada vez. Não podemos ficar muito preocupados com o futuro pois não podemos resolver nesse momento. Criar uma rotina dá uma sensação de segurança, fazer atividades em um tempo constante. Meditação e exercício físico também ajuda, pois além de trabalhar o corpo, há aquele momento de distração dos pensamentos ruins. É importante também filtrar as informações. Fazer uma atividade que gosta, assistir um seriado, ler um livro, fazer uma receita. Algo prazeroso para distrair.”

O momento que vivemos é difícil e incerto, portanto é importante manter nossa saúde mental em dia para que tenhamos forças para vencer esse obstáculo. É momento de reflexão e cuidado.

Para entender melhor a relação entre a saúde mental e a pandemia atual, conversamos com três pessoas que passaram pelas dificuldades trazidas pelos sintomas psicossomáticos, como crises de pânico e ansiedade durante o isolamento social.

As perguntas feitas para os entrevistados foram:

  1. O que você estava sentindo quando pensou ter contraído o vírus? Quais os sintomas?
  2. Como foi a crise que aconteceu com você durante a quarentena e em qual momento da pandemia (no começo, depois de algum tempo ou recentemente)?
  3. Você chegou a procurar atendimento médico para esses sintomas ou viu que era uma crise de ansiedade antes de procurar ajuda médica?
  4. Como você diferenciou os sintomas? Procurou atendimento psicológico?
  5. Como você está neste momento?
  6. Como está seu acompanhamento sobre o fluxo de notícias diárias que a mídia tem passado para o público? Você acompanha tudo ou evita?

July Chassot, de 20 anos, estudante de Ciência da Computação na UFSC, respondeu:

  1. As duas crises começaram a ocorrer porque eu tava pensando demais em um assunto. Uma aconteceu no meio da quarentena, fazem 4 meses que estou em isolamento, e outra aconteceu recentemente quando um familiar meu falou que talvez tivesse pego. Eu pensei “uma pessoa muito próxima de mim pegou, então por que eu não teria pego?” Tive essa espécie de paranoia, acabei pensando demais e quando vi estava em uma crise.
  2. Eu acredito que estou bem, tentando levar as coisas com leveza. Estou passando a quarentena com dois vizinhos meus, um deles às vezes consegue ir até a casa dos familiares. Eu e o outro vizinho não conseguimos. É um processo extremamente difícil de passar longe dos familiares, praticamente sozinho. É difícil passar esse momento com a saúde mental intacta. Tenho tentado manter tudo bem leve, com menos preocupações e paranoias.
  3. As duas vezes que eu achei que estava contaminada com o vírus eu acreditei que estava com febre e falta de ar, precisava respirar profundamente. Tocava minha testa em todos os momentos e achava que estava muito quente, que eu estava com febre. E ficava pensando nisso, que estava com Coronavírus.
  4. A diferenciação dos sintomas foi já saber que eu tenho ansiedade, antes eu estava com a respiração tranquila, aí fiquei com falta de ar e depois voltou ao normal. Além do termômetro que eu utilizei e no final aparentemente não era nada. Sobre ajuda psicológica, eu acabei avisando as duas vezes que aconteceu para a psicóloga que me acompanha.
  5. Não cheguei a procurar porque acabei identificando que era uma crise de ansiedade, aí comprei um termômetro, que aí quando eu sinto uma crise dessas eu vejo minha temperatura e vendo que está tudo certo. Antes da pandemia eu já tinha ansiedade então sei mais ou menos como funciono, como são essas crises, então consegui identificar antes mesmo de procurar ajuda médica.
  6. Meu fluxo diário de notícias mudou bastante. Inicialmente eu tentava acompanhar tudo, tanto sobre Coronavírus quanto o que acontece no país. Mas eu percebi que não dá. Realmente, é algo que me fazia muito mal em relação à saúde mental. Ajudava a criar esse estado de paranoia. Apesar de saber que eu estava me cuidando, ver essas notícias me deixava mal. Então comecei a filtrar mais ou menos o que eu recebia, é um processo que desde que eu percebi que me fazia mal, me deixava pra baixo, eu tentei aprender. É um processo difícil porque às vezes parece que a informação é simplesmente jogada na sua cara, principalmente quando se usa a internet que é um meio que eu uso muito principalmente pelo meu curso. Cogitei apagar algumas redes sociais por um tempo, deixar livre disso porque não tinha como escapar. Por um tempo fiz isso, apagava e depois voltava. Até que depois aprendi a controlar o fluxo do que eu recebia.

Milena Facco Rosa, de 20 anos, que trabalha como babysitter, explicou:

  1. Logo que eu voltei para Frederico Westphalen já fecharam a cidade. Mais ou menos no início de abril, algumas semanas depois, eu peguei uma gripe bem forte. Me atacou a asma, atrapalhou a respiração, trancou o nariz, deu dor na região do pulmão. Comecei a entrar em pânico. Até aí, beleza. Não procurei um posto de saúde porque não sabia se era apenas uma gripe ou Covid-19. Eu esperei pra ver se aumentariam os sintomas e graças a Deus, diminuíram, pois comecei a me cuidar.
  2. Sobre minhas crises de ansiedade e pânico, estão acontecendo desde o início da pandemia. Claro, algumas vezes mais fortes que outras. Bate um medo de eu estar com a doença pois eu preciso trabalhar, acabo saindo de casa e minha irmã não desgruda de mim, está sempre comigo. Tenho medo de acabar contraindo e passar pra ela. É sempre esse medo direto. Crise de ansiedade, de medo, choro, falta de ar. Isso tudo são sintomas que ficamos preocupados pois não sabemos diferenciar se é crise de pânico e ansiedade ou um dos sintomas de Covid-19.
  3. Eu não procurei médico, não fui em posto de saúde quando tive os sintomas porque como a minha crise de ansiedade dura um, dois dias, e eu consigo controlar ela eu vou percebendo se não sintomas ou só minha crise.
  4. Como eu tenho crises de ansiedade há seis anos já, eu consigo ter uma noção básica para poder diferenciar bem.
  5. Sempre tento me manter calma pra ver se consigo amenizar tudo, mas é isso aí.
  6. Tô acompanhando todas as notícias porque a gente nunca sabe se vai ter uma mutação, se não vai ter. É sempre bom ficar de olho, mas tento não ficar paranóica. Pois se eu ficar não vou conseguir diferenciar o que é uma crise ou os sintomas.

Ana Carolina Rodrigues, de 22 anos, estudante de Cinema e Audiovisual na Universidade De Fortaleza, comentou:

  1. Senti uma falta de ar, sabe? De respirar e o ar simplesmente não vir, era uma sensação às vezes de sufocamento. Isso era muito quando eu ouvia coisas sobre o vírus, enfim, notícias. Eu fiquei “meu Deus, eu contraí Coronavirus” mesmo não tendo contato com ninguém que estava, tomando todas as medidas mesmo assim eu ficava meio assim, isso foi no começo.
  2. Depois, conforme o tempo foi passando, eu começava a sentir aperto no meu peito, estava ficando muito ansiosa, eu chorava. Tudo ficava realmente em uma proporção gigante, até porque vem aparecendo muita notícia ruim ultimamente. Quem não se sensibilizar pelo que tá acontecendo, acho que tem que rever a questão humana. Mas eu absorvi as notícias ruins, me faziam tão mal e eu sentia muitos apertos no peito, eu chorava. Foi uma crise assim que eu tive que realmente me desligar um pouco das redes sociais porque eu não tava conseguindo olhar mais. Eu absorvia de uma forma que não tava me fazendo bem eu tava me assustando.
  3. Não cheguei a procurar um atendimento médico, justamente por morar com uma psicóloga, ela sempre falava “Carol, isso é psicológico”. Aí eu fui realmente vendo que eram coisas psicológicas, porque realmente era, eu via uma notícia e sentia alguma coisa, sabe.
  4. No começo eu tinha uma ajuda também profissional com minha minha terapeuta. Agora que eu já não tô mais falando com ela, mas eu fiz sessão por vídeo chamada e isso foi muito importante para mim. Fez eu ter mais um pé no chão mesmo, até de não me sentir só, porque isso não é uma coisa única minha, eu não sou a única pessoa que está se sentindo mal nesse tempo. Isso me ajuda até ter mais força e pensar que vai passar. Enfim, ajudou.
  5. Neste momento eu não sei se instável, acho que não, assim é porque meu corpo responde muito ao que eu sinto de estresse, essas coisas. Semana passada eu tive doente e eu cheguei a ir ao médico, mas ele falou que era de virose. Vou fazer os exames porque tem que fazer mesmo, mas foi uma coisa assim que me deixou muito indisposta e foi em uma semana que eu tava muito estressada. Eu venho me sentindo indisposta, às vezes eu acordo com vontade de passar o dia na cama e isso tá acontecendo com muita gente. Eu tô muito sedentária, não tô me exercitando e às vezes tudo bem eu não fazer nada. Ninguém é obrigado a ser produtivo durante a quarentena todos os dias, mas até onde isso de “ah, se eu não fizer nada tá tudo bem” é saudável? Porque chega fazer mal se você passar o dia sem fazer nada, o dia deitada. É bom você tirar um tempo para fazer isso, mas até quando é saudável. Porque realmente eu tenho sentido que tá me fazendo mal, esse meu sedentarismo esse minha alimentação não saudável. Neste momento acho que o que me define melhor é que eu estou começando a refletir sobre essas questões e a repensar nos meus hábitos, porque realmente eu tenho e vou melhorar muitos hábitos, eu vou até começar fazer exercício com minha mãe. Vou tentar, porque eu sei que é uma coisa que vai ser bom para mim realmente me faz bem quando eu tô me cuidando.
  6. No começo eu acompanhava tudo, todos os comentários, eu me revoltava com aquilo ficava indignada e me fazia muito mal. Agora não é que eu evito, é que eu sei analisar melhor, qual o meu estado emocional para ver as notícias. Por exemplo, se tiver muito estressada com a faculdade com outras coisas eu evito um pouco ou ao máximo, porque sei que eu já não tô bem. Se eu ler as notícias ouvir muitas coisas ruins vou me desgastar mais ainda. Se eu estiver bem vou ver. Entendeu? Agora também tem uma terceira opção, posso estar num dia muito bom aí eu evito porque só quero ter paz. Então eu vejo as notícias a fundo só quando estou estável digamos.

Texto: Isabela Vanzin da Rocha

Apuração: Alice Rodrigues, Igor Mussolin, Jeferson Matielo, Taiane Centenaro Borges e Yasmin Vilanova

Edição: Luciana Carvalho

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-825-239

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes