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Crianças também irão se vacinar contra a covid-19?



Após mais de um ano no formato remoto, as escolas iniciaram o processo de volta às aulas presenciais. Com isso, apesar de todos os cuidados, as crianças seguem expostas ao novo coronavírus, já que ainda não receberam o imunizante. Na matéria desta semana, trazemos informações sobre a possibilidade da vacinação em crianças, e a visão de especialistas.

A incidência de casos de mortes por Covid-19 no Brasil entre crianças não é considerada alta, mas ainda assim preocupa. Imagem: Freepik.

No início de setembro, o Brasil atingiu a marca de 36% da população totalmente vacinada e 83,4% do público-alvo de 160 milhões da população acima de 18 anos com pelo menos uma dose do imunizante, segundo dados do Ministério da Saúde disponíveis na Agência Brasil. Com isso, vários estados e municípios brasileiros estão flexibilizando as medidas de proteção contra a Covid-19, inclusive com a volta às aulas presenciais em escolas municipais e estaduais. É nesse cenário de reabertura que entra em pauta a aplicação de vacinas também em crianças e adolescentes.

Apesar da fraca campanha e o histórico de desinformação sobre a vacinação disseminada pelo Governo Federal, uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos em treze países mostrou que o Brasil é onde a população está mais disposta a se vacinar contra a Covid-19, já que 96% dos brasileiros entrevistados afirmaram que querem essa proteção. Sendo um dos países mais afetados pela pandemia no mundo, a forte aceitação da vacina já tem se refletido na queda nos números de transmissão, hospitalizações e mortes pela doença. 

Segundo dados divulgados pelo G1, em setembro a taxa de transmissão do coronavírus no Brasil, um dos principais fatores para a evolução epidêmica do Sars-CoV-2, caiu para 0,81, menor índice desde novembro de 2020. Porém, dados do dia 21 de setembro, consolidados pelo Imperial College (Londres), revelaram que a taxa de transmissão da Covid-19 no Brasil registrou a maior alta desde junho de 2021, com indicador semanal de 1,03.

Já a comparação dos picos de letalidade revelou queda. Em 12 de abril, o Brasil registrou uma média móvel de 3.015 mortes diárias; já em 15 de setembro, o índice de letalidade registrado foi de 597, representando uma queda de 80,9%. Porém, para que os dados positivos se mantenham, é necessário que se assegure o ritmo acelerado da vacinação, principalmente para frear a expansão das novas cepas do vírus. 

Por que a variante Delta preocupa tanto?

 

Em entrevista ao G1, Marcelo Otsuka, infectologista e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que em relação ao total de mortes por Covid no Brasil, a incidência de casos entre crianças não é considerada alta, mas não deixa de ser preocupante. “O percentual de crianças e adolescentes que vieram a óbito devido à Covid-19 corresponde a 0,5% do total de mortes, o que pode parecer pouco. Mas, se temos 500 mil óbitos no Brasil, 2.500 mortes são de crianças e adolescentes. Isso é muito. A gente precisa, sim, proteger as crianças e os adolescentes também”, afirma Otsuka.

Atualmente no Brasil não existe nenhum imunizante autorizado pela Anvisa para uso em pessoas com menos de 12 anos, mas adolescentes acima dessa faixa etária já estão sendo vacinados com o imunizante da Pfizer. No mundo, a vacinação de crianças a partir dos 3 anos só ocorre atualmente na China, com a CoronaVac. Em território brasileiro, o pedido do Instituto Butantan para ampliar a faixa etária com a vacina foi negado pela agência reguladora, que apontou como ponto principal a falta de estudos de fase 3, que são os específicos para determinar a eficácia de um imunizante.

Enquanto isso, em países com processo de vacinação mais avançado que o Brasil, a expectativa em vacinar crianças de 5 a 11 anos já é grande. Entre esses, se destaca os Estados Unidos, país que já aguarda os resultados de testes clínicos feitos pela Pfizer para apresentar à agência de Administração de Drogas e Alimentos (FDA na sigla inglês), realizar testes e esperar a aprovação do imunizante em crianças, como relata reportagem da Folha.

Já no contexto da América do Sul, no último dia 13, o Chile iniciou a vacinação de crianças no país, se tornando assim o primeiro do continente a vacinar esse grupo de 6 a 12 anos utilizando o imunizante CoronaVac. Segundo entrevista ao G1, a subsecretária de Saúde Pública, Paula Daza, esclareceu que “as crianças também podem adoecer. 12% dos casos que tivemos no país até metade do ano foram em menores de 18 anos.”

Chile iniciou a vacinação em crianças, e outros países estudam possibilidade. Imagem: Freepik.

A questão da vacinação desse público é complexa. Países como o Reino Unido optaram em não vacinar crianças pelo baixo número de vítimas da Covid-19 neste grupo. Especialistas no assunto como o professor Adam Finn, membro do comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido, em entrevista ao G1, afirmam que as crianças raramente são seriamente afetadas por esta infecção.

Para compreender a realidade brasileira, entrevistamos Maria Clara da Silva Valadão, doutora em medicina/pediatria pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e médica do serviço de infectologia pediátrica do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM/UFSM). A médica explica que a vacinação em crianças acompanha os testes realizados em adultos. “A vacina tem que se provar efetiva e sem efeitos colaterais mais graves, então isso primeiro é feito na população adulta, depois são testadas em crianças, gestantes e outros grupos etários. Mas não há grandes diferenças entre as vacinas”, afirma. 

Entre reaberturas e fechamentos, as escolas brasileiras permaneceram sem atividades presenciais por mais de um ano, representando prejuízos na formação estudantil. Gradativamente, em 2021, considerando os riscos e de maneira responsável, as crianças voltaram às aulas presenciais. O retorno, contudo, gerou em muitos pais e médicos preocupação quanto ao aumento da circulação do vírus. Sobre o assunto, Maria observa com otimismo o retorno a essas atividades, considerando que a escola é um ambiente seguro e possível de manter as medidas de segurança. “Vários estudos mostram que inclusive estar na escola pode ser protetivo porque é um ambiente controlado e todos usam máscara, seguindo os protocolos, professores usando EPIs e álcool em gel.”

Outra preocupação recorrente, é a circulação da variante Delta no Brasil juntamente com o retorno dessas atividades, entretanto, sem aumentos consideráveis no número de internações e novos casos, é um indicador que as medidas adotadas e o avanço da vacinação dos grupos já autorizados têm sido eficiente no combate à pandemia, como reforça a médica: “até o momento nos nossos ambientes aqui de hospital e mesmo da cidade não se observou um aumento.” 

Vacinação em adolescentes no Brasil 

No dia 15 de setembro, o Ministério da Saúde determinou que a imunização de adolescentes de 12 a 17 anos contra a Covid-19 só deverá ser feita naqueles que tiverem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade. A decisão é contrária à liberação da vacina Pfizer em adolescentes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e às recomendações da  Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Segundo o G1, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga vem criticando os estados e municípios que resolveram manter o calendário de vacinação em adolescentes mesmo após a decisão do Ministério. A cidade de São Paulo e alguns municípios do Paraná estão entre os que decidiram manter a vacinação. 

Já no dia 21 de setembro, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski decidiu que estados e municípios são responsáveis por decidir sobre a vacinação de adolescentes maiores de 12 anos, afirmando que a suspensão pelo Ministério da Saúde não foi amparada por evidências acadêmicas ou científicas. 

“A aprovação do uso da vacina Comirnaty do fabricante Pfizer/Wyeth em adolescentes entre 12 e 18 anos, tenham eles comorbidades ou não, pela Anvisa e por agências congêneres da União Europeia, dos Estados Unidos, do Reino Unido, do Canadá e da Austrália, aliada às manifestações de importantes organizações da área médica, levam a crer que o Ministério da Saúde tomou uma decisão intempestiva e, aparentemente, equivocada, a qual, acaso mantida, pode promover indesejáveis retrocessos no combate à Covid-19”, esclareceu o ministro Lewandowski para a CNN. 

Dessa forma, enquanto a vacinação de crianças ainda é motivo de debate entre especialistas, é de suma importância que a população permitida cumpra a imunização completa e seguindo as medidas de restrição, para assim proteger também os grupos vulneráveis, como são as crianças. 

Reportagem: Caroline Schneider Lorenzetti, Fernanda Vasconcelllos e Kelvin Verdum

Edição: Mirian Quadros

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