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Quando a vida acontece fora do planejamento



Os desafios e alegrias de três mulheres que viveram a maternidade durante a graduação

Texto: Caroline Schneider Lorenzetti, Julia de Sá e Maria Mariana do Nascimento

            “Depois elas editam. Elas são jovens. Elas não têm filhos”, afirma Egenara Padilha Reges, 27 anos, gargalhando. Assim inicia a nossa conversa, em uma cafeteria de Frederico Westphalen, na tarde de uma quarta-feira. Junto com Egenara, está Gislaine Moraes, 24 anos. As duas são amigas desde a graduação, viveram diversos momentos juntas, inclusive a gravidez. Egenara descobriu que seria mãe quando estava finalizando a graduação em Jornalismo, na UFSM – Campus de Frederico Westphalen, em 2019. Ela começa nossa conversa com uma brincadeira, dizendo que somos jovens, não temos filhos, então temos tempo. Todas gargalhamos. Egenara nos conta que sempre quis ter filho, mas que foi um susto quando descobriu a gravidez. “E hoje eu percebo que ter um filho é um teste de paciência todo dia, sabe?! Eu sempre achei que fosse maravilhoso, porque tu cuidar do filho do outro é muito lindo, perfeito. Mas quando é tu que tem que acordar de madrugada, tu que tem que trocar, dar banho, cuidar da birra da criança… aí é uma coisa totalmente oposta”, relata.

Egenara e o filho, Isaac. Arquivo pessoal

            Já Gislaine descobriu a gravidez quando estava na metade do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, também na UFSM – FW. Ela sempre quis fazer Jornalismo, mas como passou em outro curso, assumiu a vaga para depois transferir e fazer o que realmente queria. Entretanto, Gislaine só se lembrou de seu grande sonho quando descobriu que seria mãe, em 2020, em meio a uma pandemia. “E daí o que acontece, tu para e pensa em tudo da vida. […] Tu tem que fazer uma coisa que tu gosta. Não é só o curso, é eu pessoa. Eu tenho que ser uma pessoa que eu vou me orgulhar e o meu filho vai me achar a mãe fodona”, afirma. Assim, Gislaine trancou o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e começou sua caminhada rumo ao que realmente quer fazer da vida, comunicação e jornalismo.

Gislaine e o filho, João Pedro. Arquivo pessoal.

            Para compreender como a Universidade lida com as questões da maternidade/paternidade dos discentes, conversamos com Gláucia Rocha, assistente social no Núcleo de Assistência Estudantil (NAE) da UFSM-FW.  Ela nos informou que as gestantes vinculadas ao BSE (Benefício socioeconômico) e que são moradoras da casa do estudante ou que fazem parte do programa de auxílio moradia, têm direito ao auxílio creche, um valor para manter a criança em uma escola particular, caso não haja vagas em uma creche pública. Além disso, os pais têm a possibilidade de residir em conjunto com a criança na casa do estudante ou solicitar o auxílio moradia, caso decidam se mudar do campus. “O que mais tem de importante é o que veio com a política de igualdade de gênero que foi aprovada em novembro do ano passado. No eixo da assistência, contém uma série de ações que são voltadas para  estudantes que são mães e pais da UFSM. Mas como a política é recente, ainda não  temos nada implementado, para ser implementado será necessário uma mobilização de toda a comunidade acadêmica”, explica Gláucia. Ela ainda deixa claro que a criação de ações que englobam pais e mães na UFSM foi uma grande conquista do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

            Além de Egenara e Gislaine, conversamos com Luciane Schultz de Macedo, 37 anos, enfermeira na rede pública de Dionísio Cerqueira/SC. Luciane viveu a maternidade no ano de 2006, enquanto cursava Enfermagem na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), no município de Palmitos/SC. Ela tornou-se mãe no quarto semestre da graduação, contava com a ajuda de uma vizinha para cuidar de sua filha enquanto ela estava nas aulas. “É bem complicado. Muitas vezes a gente pensa em desistir. Mas eu sempre pensava que eu tinha que terminar, porque eu tinha que criar ela”, relembra. Luciane nos conta que teve uma rede de apoio que a ajudou, sua vizinha cuidava da neném e sua família a ajudava de forma financeira. Entretanto, no último ano da faculdade, precisou ficar longe da filha, devido aos estágios e TCC. Vivia em Palmitos, enquanto a criança e o pai estavam em Florianópolis/SC.

Luciane e a filha, Maria. Foto: Julia de Sá.

            Para garantir que essas estudantes continuem na graduação após se tornarem mães, existe a Licença Gestante, que é assegurada pela Lei nº 6.202, criada em 1975. Essa licença funciona como a Licença Maternidade, para as mulheres que trabalham com carteira assinada. Ela garante que a estudante possa dar continuidade à graduação por meio dos estudos domiciliares, enquanto estiver afastada da escola ou da universidade. A UFSM, como qualquer outra instituição, oferece a Licença Gestante às estudantes. Essas mulheres têm o direito de ficarem afastadas da universidade, sem serem prejudicadas academicamente, por 120 dias após o nono mês de gestação (38ª semana), prazo que pode ser prorrogado por mais 60 dias e/ou antecipado por meio de prescrição médica.

            Entretanto, isso ainda não é suficiente, pois quando o período de licença acaba, a criança ainda está ali para ser cuidada. Egenara afirma que foi muito acolhida pela universidade quando passou pela gestação de seu filho, contando com atendimentos da psicóloga e da nutricionista. Ela era moradora da casa do estudante (CEU) na época e nos conta que tinha alguns auxílios, como não precisar subir até o RU para almoçar e poder pegar o kit distribuição. “Eu lembro que lá na CEU, eles sempre ajudavam. Os guris que tinham carro falavam: a gente pega pra ti. Essa parte foi bem legal assim, os profs me acolheram super bem também”, relembra.

Porém, após o nascimento do bebê os desafios foram outros. Como escrever um TCC ou até mesmo estudar com uma criança que precisa de ti o tempo todo?! Egenara contou com uma rede de apoio. Deixava seu filho com a madrinha em alguns dias para conseguir escrever. Já Gislaine tenta se organizar nos horários em que o neném está dormindo. “Eu tenho que estudar depois que ele dorme, eu tenho que acordar antes que ele acorde, porque eu tenho que estudar enquanto ele tá dormindo”, afirma.

            Da mesma forma, Luciane nos conta que passava finais de semana quase sem dormir, porque precisava estudar para as provas da faculdade, e só conseguia focar nos conteúdos quando a filha estava dormindo. Além disso, ela relata que, durante a gestação, procurava a ajuda de alguém quando fosse extremamente necessário, por isso sempre quis parto natural. “Uma porque eu pensava que se eu tivesse cesárea, eu ia precisar de alguém pra me ajudar. E se eu tivesse parto normal, eu podia me virar. Eu não queria precisar de ninguém. Então, eu fiz de tudo pra ter parto normal”, relembra.

            Ao conversar com essas mulheres, percebemos a necessidade de a universidade se organizar para manter as mães acolhidas sem perderem o vínculo com a graduação. Pois, apesar de toda compreensão dos professores e da comunidade acadêmica em geral, ainda faltam auxílios. “A gente precisa pensar em como a instituição vai se articular entre os seus setores e se articular com a rede socioassistencial dos municípios também”, comenta a assistente social Gláucia sobre a questão dos transportes no campus de Frederico, em que os horários dos ônibus são escassos e não existe desconto na passagem para estudantes.

            Egenara e Gislaine evidenciam a importância de um grupo de apoio, composto pelas mães que estão na UFSM-FW para a troca de experiências e informações. Além de uma creche no campus de Frederico Westphalen, como já existe na sede da UFSM em Santa Maria. O campus da UFSM-FW fica muito distante da cidade e, muitas vezes, as mães precisam percorrer de cinco a sete quilômetros e pegar cerca de quatro ônibus por dia, para levar as crianças até a creche mais próxima. “Isso é uma coisa indiscutível […]. Uma creche. E eu acho que poderia ser feito até com os próprios alunos. De repente um grupo de estudantes, que se revezam e cuidam das crianças para que as mães possam assistir às aulas tranquilas”, afirma Egenara.

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