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Entrevista com Grupo CONECTA



     A evolução tecnológica ocorrida nos últimos anos levou os produtos comunicacionais a angariar uma conjuntura mais dinâmica e distribuída em cenário multiplataforma, cuja execução fomenta narrativas transmídia e a experimentação criativa. Dessa forma, o CONECTA – Comunicação e Experimentação Criativa, grupo de pesquisa pertencente à área da comunicação da UFSM, reflete o contexto transversal dessas produções de comunicação.

     Conforme explica a apresentação do grupo em sua página no site da UFSM, o objetivo é realizar a experimentação criativa e tecnológica de processos, formatos e suportes de mídia, além de agregar pesquisas que relacionem narrativas midiáticas, consumo e construção de sentidos em múltiplas plataformas de mídia. Estas vertentes compilam temáticas de aderência plurais e abrangentes a várias etapas de uma produção, inclusive o processo criativo, pauta do dossiê temático da próxima edição da O QI.

     Para compreender como esse tema se relaciona com a iniciativa em questão, entrevistamos o docente do curso de Produção Editorial, Leandro Stevens, e o docente do curso de Jornalismo, Maicon Elias Kroth, que, juntos com a professora Sandra Depexe, coordenam o grupo CONECTA. Iniciamos perguntando como a proposta do grupo foi concebida. O professor Leandro comentou: “Eu, o professor Maicon e a professora Sandra Depexe queríamos criar um grupo de pesquisa, mas que ele também tivesse um viés de experimentação, de análise de produtos comunicativos. Discutimos também como unir várias áreas da comunicação, para ter esse enfoque. O importante é os produtos comunicativos”. Maicon comenta que o grupo nasceu de algumas inquietações: “Uma ideia de experimentação, uma ideia de tentar pensar em objetos, em produtos, em construção de ideias que pudessem ser experimentais, uma vez que a gente entendia e percebia que o cenário atual da comunicação, os desenvolvimentos da própria tecnologia, nos estimulavam a pensar produtos e modos de planejar a produção de conteúdos de forma mais diversificada. Que pudesse atender também uma demanda que não só mercadológica, mas também uma demanda dentro da academia, dentro da universidade, dentro dos cursos. Esse espaço em que a experimentação e a criatividade pudessem dialogar, ainda mais, para além da sala de aula”.

     Na sequência foi questionado quais foram os primeiros experimentos desenvolvidos pelo grupo, diante disso, o professor Leandro afirmou: “A gente começou na pandemia e não conseguia nos atrelar a projetos. No primeiro momento, a gente fazia estudos e discussões dentro do próprio grupo, e tentava propor algumas ações”, de forma complementar, Maicon comenta que: “A pandemia, por um lado, nos estimulou para algumas coisas e por outro, também nos deixou com as mãos um pouco amarradas. A gente teve que pensar em sistematizar os encontros com o grupo, que inicialmente era grande também. As nossas primeiras ideias foram muito em torno de como fazer com que essa equipe trabalhasse virtualmente. Como que a gente poderia construir algo que fosse no ambiente digital, e que esse ambiente digital, então, se constituísse um, digamos assim, lugar de estímulo para gente experimentar, para a gente construir coisas que fossem criativas. A gente não conseguia avançar muito, porque estávamos todos em casa”.

     Após, relacionado ao tema do dossiê temático da O QI, foi perguntado como funciona a fase do processo criativo e o método utilizado pelo grupo, assim Leandro nos diz: “Vários métodos. Porque quando a gente trabalha com criatividade, a grande questão é a condução. Então a gente tem, claro, alguns autores, alguns métodos que são bastante convencionais, por exemplo, reunião de briefing, reunião brainstorming, que são clássicos, mas a gente vai de acordo com o objetivo do produto e do projeto que a gente tem. Ali que a gente vai conduzindo, mas tentamos dar bastante liberdade para os integrantes, trazer as possíveis soluções, os desdobramentos. Tentamos só conduzir esses processos”. Já o professor Maicon conta: “Quando a gente fala em experimentação, me parece também que é algo para a gente pensar conceitualmente: o que é experimentar, afinal de contas? É avançar no conhecimento daquilo que já existe. Há um conhecimento. Há um estado da arte, a respeito das coisas que se faz, e que dá sentido à vida. E é partindo desse pré-conhecimento que se avança, que se caminha para frente. Usando um pouco o exemplo do Einstein que o Leandro trouxe antes, que me pareceu muito coerente, ele não criou as coisas do zero. Ele parte de um pré-conhecimento. Ele constitui uma construção à luz daquilo que já está concebido como entendimento, com conhecimento a respeito de uma determinada situação da vida ou de uma determinada coisa social. Então, acho que o nosso movimento foi muito em torno disso. O nosso método era desconstruir métodos: olhar para eles e pensar “bom, isso existe, pode ser aplicado”. Mas como é que nós poderíamos avançar a partir daqui?”

     No decorrer da entrevista, buscou-se entender quais os projetos do CONECTA ainda para o ano de 2024, nessa perspectiva, Leandro comenta: “A gente vai recomeçar agora junto com o planetário, sempre fazemos uma análise junto com a gestão para ver as possibilidades de realizar produtos, quais, e as demandas que eles também têm para tentar alinhar o grupo”. Com isso, Maicon complementa: “Nós entendemos que o planetário é um espaço que dá sentido ao que é a UFSM, por exemplo, mundo afora. As pessoas conhecem a UFSM, muitas vezes, imageticamente, e constroem sentidos a respeito da UFSM a partir da imagem do planetário, de como ela circula. Essa imagem é muito utilizada para falar sobre a UFSM, midiaticamente? Então a gente entendeu que o planetário poderia explorar ainda mais essa imagem. Poderia explorar ainda mais este lugar de ensino, de conhecimento, de construção de conhecimento a respeito do mundo. Não só do nosso, do planeta, mas, enfim, de tudo que está ao nosso redor. Então nós desenvolvemos um plano de atividades e de experimentações com a equipe que foi dividido em algumas etapas. Houve todo um planejamento, um cronograma de atividades. A primeira delas, por exemplo, talvez vale a gente citar, foi o desenvolvimento de um lugar, como se fosse um mural, em que a gente pudesse estimular o público que vai para o planetário, e a gente também estudou muito isso, quem é esse público? Como esse público chega até o planetário? E o que estimularia esse público a construir conteúdos que estimulassem, ainda, outros públicos, outras pessoas, ainda mais pessoas a irem até o planetário e poderem mergulhar. Então, a gente pensou em algumas estratégias de imersão. E uma delas foi que as crianças, que os jovens ou que o público adulto que circulasse por lá pudesse responder a algumas questões que a gente considerou “inteligentes” a respeito do universo, que é a temática sobre a qual o planetário trabalha, tanto com escolas e outras universidades, estudantes e pessoas da comunidade regional que vêm até aqui para conhecer essa instituição, dentro da UFSM. E a gente fez algumas perguntas do tipo ‘se você tivesse que morar na lua, o que você levaria com você?’. A gente disponibilizou alguns post-its com canetas, uma mesinha do lado desse mural para as crianças poderem responder, para o público poder responder – estou repetindo crianças porque a gente tem certeza que é o público que mais circula ali dentro. As crianças iam ali, respondiam ‘ah, eu levaria, minha mãe’. Muitos responderam isso. ‘Ah, eu levaria comida’, ‘ah, eu levaria meu cachorrinho’, sabe? Coisas assim. Para estimular também essas crianças a pensar e refletir sobre o universo, né? E com uma estratégia interativa, que pudesse estimular mais do que assistir às sessões, que já são super imersivas, são super inteligentes, mas que nós também pudéssemos criar outras alternativas, outras perspectivas de se pensar essa imersão nesse mundo que o planetário disponibiliza para nós “terráqueos”, seres humanos aqui.

     Em seguida, foi questionado aos dois o que seria criatividade para eles, obtendo a resposta do professor Leandro: “Vou ficar duas horas explicando (risos), mas eu acho que a criatividade é algo singular. Eu acho que em qualquer área tu tem que ter criatividade, tem que desenvolver ela de alguma forma. Normalmente quando os alunos entram no curso e começam a pegar as disciplinas experimentais, a gente pergunta quem que se considera criativo e pouca gente se considera criativo. E aí tu começa a instigar, e a pessoa vê que ela compreende aquilo. Claro que para ser criativo tem que ter um conhecimento base, tem que ter um contexto que te facilite, também, a ser criativo. Mas às vezes atrela a criatividade só a determinadas áreas, né? Às artes, comunicação, enfim… mas criatividade está em qualquer meio, né? O Einstein para fazer teoria da relatividade, isso é um processo criativo de acordo com o conhecimento que ele tem. E depois que ele vai testar se aquela equação está certa ou não. Então, rapidamente, basicamente, a gravidade seria algo assim, que é próprio do instinto humano de ir em busca de algo novo. Isso deve ser cada vez mais desenvolvido, principalmente nos acadêmicos, para que eles consigam trazer novas soluções. É dali que o grupo busca. Essa foi a ideia original. Essa experimentação é “traga sua criatividade que nós vamos experimentar para ver o quanto isso é possível” e do professor Maicon: Eu, que venho de uma área do jornalismo, para mim, criatividade, é talvez um ponto de vista bem pessoal: a criatividade para mim é experimentar. Quer dizer, eu não consigo entender o processo criativo sem experimentar as coisas. Acredito que sim, o ser humano traz na sua genética essa capacidade de se tornar um sujeito criativo. Ele é inteligente para isso, mas não é possível que essa inteligência se reflita no mundo sem que haja estímulos. E para mim, os estímulos se dão à luz da experimentação. E é a experimentação, para mim, que estimula e constrói a criatividade”.

     Seguindo na mesma temática foi abordado se a criatividade seria uma habilidade inata ou que poderia ser desenvolvida ao longo do tempo, nesse sentido, Leandro reflete: “Eu acho os dois. Ela é uma parte nata para aquelas pessoas que já são pré-dispostas ou foram incentivadas a explorar as suas ideias, a explorar a criatividade. Porque todo ser humano quando nasce, para mim, ele tem um grande potencial criativo. Uma criança quando nasce, assim que ela tem o mínimo de habilidade motora, quer pegar, quer montar, quer fazer, quer construir algo, quer fazer algo. Isso é próprio do ser humano. Mas se tu tira todos os brinquedos, qualquer coisa que ela possa trabalhar em cima, ela começa a regredir nessa questão. Então eu acho que é algo que é próprio ser humano, mas que desde os primeiros meses de vida deve ser estimulado e isso segue para o resto da vida. Em determinada área, no trabalho, na graduação, na escola, tem os seus momentos de estimular e com diferentes métodos para estimular isso. Então eles precisam ser constantemente trazidos”. Por outro lado, Maicon ressalta: “É preciso que haja o estímulo. Ela não é nata. Eu acho que a gente nasce com a possibilidade de ser criativo, com as condições fisiológicas, emocionais para que a gente possa ser criativo. Mas eu preciso desenvolver os sentidos, eu preciso desenvolver as emoções. Eu preciso experimentar para que eu possa desenvolver a criatividade. Para mim, a criatividade é efeito de uma causa, que é a experimentação”.

     Também foi questionado qual seria a melhor estratégia ou método para estimular a criatividade, Leandro afirma: ”Ah, eu tento vários. Desde fazer um Sudoku de vez em quando até me propor ‘eu já tenho uma aula preparada, vou mudar ela’, mudar a maneira que eu mostrei aquilo. Por exemplo, em fotografia, ‘dessa vez vou fazer um exercício completamente novo’. Eu acho que isso me estimula e traz novas descobertas e ganhos. Podem ser grandes momentos do tipo ‘ah, eu quero redecorar meu quarto’ e aí pensar em tudo, ou também em pequenas ações no dia a dia, que às vezes a gente deixa de considerar, por causa do conformismo, ‘tu já fazia aquilo’, é algo próprio do ser humano. A gente tem que ir combatendo isso, digamos assim, volta e meia. Logo, em pequenos exercícios também funciona bem”. Em contrapartida, Maicon afirma: “Exatamente está: experimentar. Eu só consigo ter um insight que eu poderia considerar criativo na medida em que eu me dou possibilidade de experimentar coisas. Por exemplo, experimentar a leitura de um gênero que eu conheço e a leitura de um gênero que eu não conheço para eu poder, a partir do meu pré-conhecimento, avançar. Assim é na experiência sensorial, por exemplo, de um vinho. Eu só vou conseguir ter criatividade e poder sugerir de maneira criativa alguma coisa, para o outro e para eu mesmo, no meu consumo deste vinho, à medida em que eu começar a experimentar, à medida que eu diversificar, que eu oferecer para eu e para o outro múltiplas possibilidades de experimentação. E essa capacidade de olhar para todos os lados, multifocal é que vai me dar melhores condições de avançar na construção do conhecimento que já está aí, nesse estado de conhecimento que já existe. Para eu ser criativo eu preciso avançar. Eu preciso fazer algo, dar um passo a mais”.

     Por fim, foi perguntado ao professor Leandro como ele enxerga a evolução da criatividade em um mundo tão digital e tecnológico, assim ele ressalta: “Eu acho que as tecnologias ajudam muito em muitos parâmetros para a gente ter conhecimento e desenvolver a criatividade. Mas em alguns momentos, o afastamento da tecnologia também é muito importante. Mesmo em aulas, há algumas em que a gente quer fazer algo totalmente analógico, quer ver texturas, quer ver materiais. E isso é muito importante, porque dali também sai boa parte da criatividade. O próprio Steve Jobs falava… a própria caligrafia ajudava ele a pensar e desenvolver o design dos produtos depois. Então, acho que é importante saber essas várias formas de despertar a criatividade. A gente tem que utilizar as tecnologias, elas estão aí para nos ajudar, mas não pode ser somente também nesse âmbito de desenvolvimento”. Para conferir a entrevista completa, acesse o nosso canal no YouTube através do link: https://www.youtube.com/@oqi-revistaexperimental.

 

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