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Mais que confecção, uma forma de expressão

A técnica do upcycling reúne moda sustentável e autenticidade



Para escutar o áudio da reportagem, clique abaixo:

Foto: Mathias Ilnick

Para o senso comum, a moda pode parecer isto mesmo: um sistema superficial, movido pela lógica irracional do consumo. A acadêmica de Artes Visuais da UFSM Dárica Gomes não enxerga assim. “É algo afetivo, emocional, das raízes. É ancestral”, comenta a jovem a respeito de sua relação com o fazer artístico e a confecção de roupas. Ela afirma que a costura é uma forma de se conectar com as origens e alcançar um estilo único. 

Além de estudante, Dárica é uma das colaboradoras do Brechó Apenas, um empreendimento coletivo que expõe seu acervo, geralmente, no brique da Vila Belga e no hall do Restaurante Universitário I (RU I). O espaço de convivência do RU é casa para muitos outros negócios, organizados, inclusive, pelos próprios estudantes. Para expor, nenhum acordo é necessário; o Brechó Apenas, por exemplo, somente se instala e põe à venda peças de garimpo e de fabricação própria – muitas delas, com o uso do upcycling.

Trata-se não apenas de uma técnica, mas da “epítome da autenticidade”, como descreve Pedro Ivo Vieira, idealizador do Relance Brechó. O upcycling é uma abordagem sustentável na qual materiais que seriam descartados são transformados em novos produtos. Diferente da reciclagem tradicional, não há decomposição de matéria – o novo produto é criado a partir do velho, sem destruir sua forma original. No universo da moda, o upcycling acontece com recortes, costuras, pinturas e outras personalizações que dão continuidade à história das peças. 

No Perspectiv é o nome dado pelo relações públicas formado pela UFSM Brenner Barbosa à linha de peças sustentáveis produzida para seu Trabalho de Conclusão de Curso. As roupas, inspiradas nos estilos Y2K, Clubber Punk e Hip-Hop, foram produzidas a partir da reutilização de aparatos encontrados em pequenos bazares, todos bastante gastos e com avarias. Barbosa define-as como peças que atingiram o seu ciclo máximo na visão comercial. 

O projeto, acompanhado de uma série de vídeos e fotografias, simboliza o que o profissional de Relações Públicas descreveu como a falta de perspectiva para encontrar sua visão de mundo dentro de Santa Maria. Os artistas visuais Leo Penna e Rayssa Barcelos, amigos de Brenner, foram responsáveis pela tradução desses sentimentos nas peças ao trabalharem com estamparias que cobriam os rasgos das roupas originais. “Foi uma ligação de relações que eu tive durante a minha graduação, que diziam respeito às coisas que eu era e que eu sou”, explica.

Muito mais que uma iniciativa sustentável para a indústria têxtil – visto que o setor é responsável por, aproximadamente, 2% a 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo estudo de 2017 da Ellen MacArthur Foundation -, o upcycling se mostra, também, uma maneira singular de expressão pessoal. Para Brenner, a técnica ressignifica algo criado por outra pessoa e produzido em larga escala. Ele acrescenta: “você revive uma coisa que poderia estar morta. Você transmite a sua realidade, a sua verdade, os seus consumos, as coisas em que você acredita”.

Sustentabilidade ainda não é tendência

Mesmo que velados, estigmas relacionados ao mercado da moda sustentável ainda persistem. Em questionário realizado de forma on-line com 62 estudantes da UFSM, 25% informaram que não costumam comprar roupas em brechós. Dárica, do Brechó Apenas, ratifica o dado: “muitas vezes, a gente recebe críticas do tipo: ‘olha ali, aquele pessoal comprando roupa velha’”. 

O Relance Brechó, empreendimento inaugurado em Santa Maria no ano de 2021 e atualmente localizado no bairro Botafogo, no Rio de Janeiro, faz sucesso com o público carioca – mas não foi assim em todos os lugares por onde passou. Pedro Ivo percebe, desde a mudança, uma “diferença gritante” no interesse dos gaúchos e dos cariocas por moda sustentável. Segundo seu relato, os compradores da cidade maravilhosa deteriam maior poder aquisitivo, fator que incentiva a valorização de seu trabalho e das roupas comercializadas.

O fato é que a moda sustentável – nisso, inclui-se a técnica de reciclagem têxtil – ainda não faz parte da corrente de consumo cultural dominante. Para entusiastas da temática, “o upcycling, realmente, é o futuro”, como manifestou Pedro Ivo. Essa opinião é reiterada não só pelos artistas independentes, mas por grandes nomes da indústria como a estilista britânica Vivienne Westwood. Ela costumava dizer que o único efeito possível que alguém pode ter no mundo é por meio de ideias impopulares.


Repórteres: Camille Moraes e Pedro Gonçalves

Contato: camille.moraes@acad.ufsm.br/ pedro.marion@acad.ufsm.br

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