História da fundação do Jardim Botânico da UFSM
O Jardim Botânico da Universidade Federal de Santa Maria (JB-UFSM) foi oficialmente fundado em 12 de dezembro de 1981, fruto da iniciativa visionária e do esforço conjunto dos professores Adelino Alvarez Filho e Santo Masiero em conjunto a outros professores do departamento de Biologia/CCNE/UFSM. A criação do Jardim Botânico é resultado de uma trajetória marcada por idealismo, perseverança e compromisso com a ciência, a educação e a conservação ambiental.
Contexto Institucional e a Origem da Ideia
Nos primórdios da UFSM, idealizada pelo reitor José Mariano da Rocha Filho, a concepção de uma cidade universitária incluía não apenas estruturas acadêmicas, mas também espaços de convivência e suporte à comunidade universitária. Inserido nesse contexto, o projeto do Jardim Botânico nasceu em meio a um cenário de crescimento institucional, onde a universidade recém-criada incorporava cursos oriundos de outras instituições, como as Faculdades de Medicina, Odontologia e Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, além de cursos advindos dos Irmãos Maristas, como Direito, Economia e Medicina Veterinária. Assim, em 1966, o professores Adelino Alvarez Filho e Santo Maisero procuraram o então reitor José Mariano da Rocha Filho no intuito de obter apoio para a criação do Jardim Botânico. Após anos de empenho e articulação, a proposta foi finalmente aprovada em 1979 pelo Conselho Universitário, com a designação de uma área específica para sua implantação. A inauguração oficial ocorreu em 12 de dezembro de 1981.
A área hoje ocupada pelo Jardim Botânico era originalmente uma zona degradada, formada por pequenas propriedades rurais que haviam sido abandonadas. Parte da área foi adquirida da família Behr e permaneceu por um período inativa dentro da estrutura da universidade.
A ideia da criação de um horto botânico surgiu a partir da vivência do Professor Adelino no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, durante um curso de Pedologia promovido pelo Ministério da Agricultura. A experiência impactou-o profundamente e foi determinante para o surgimento da proposta de estabelecer, em Santa Maria, um espaço voltado à preservação e estudo da flora.
Primeiros Passos e Consolidação do Espaço
A proposta ganhou força por meio de diálogos entre os professores Adelino e Santo Masiero (in memorian). Inicialmente, houve dificuldades para a designação de uma área adequada, uma vez que os terrenos disponíveis pertenciam ao Departamento de Fitotecnia, oriundo da antiga Escola Agrotécnica. Contudo, mediante insistência e o progressivo abandono da área por parte do setor original, os docentes conseguiram, com o apoio do então reitor Derblay Galvão, a cessão de 13 hectares para a implantação do horto.
Com recursos limitados, os professores adquiriram instrumentos básicos — pás, rastelos, baldes e regadores — e passaram à execução prática do projeto. As primeiras mudas foram obtidas por meio de doações e coletas em diversas localidades: da estação experimental de Silvicultura, do Viveiro da Engenharia Florestal da UFSM, do Parque Doutor Witec (em Cachoeira do Sul), do Jardim Botânico de Porto Alegre, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, bem como de áreas nativas da própria região. A irrigação inicial era garantida pela captação de água de uma sanga próxima e pela construção de uma taipa e um poço.
As condições adversas eram inúmeras: a ausência de funcionários, a carência de recursos financeiros e a falta de reconhecimento institucional. Apesar disso, os fundadores enfrentaram os desafios com determinação. As principais ameaças ao plantio vinham da fauna local — especialmente formigas e lebres — e da limitação de apoio técnico. A luta por estrutura e autonomia administrativa foi constante, sem, contudo, alcançar êxito pleno à época.
Desenvolvimento e Reconhecimento
Mesmo sem orçamento próprio, o Jardim Botânico avançou. Com o tempo, foram conquistadas melhorias fundamentais, como a instalação de uma cerca delimitadora, a abertura de um poço profundo de 92 metros e a construção de estruturas físicas básicas. A visão dos fundadores sempre esteve voltada à educação: o Jardim Botânico foi concebido como uma sala de aula viva, aberta, acessível à comunidade acadêmica e à sociedade, com ênfase especial na visitação de escolas e no ensino ao ar livre.
Apesar da escassez de recursos humanos qualificados, o trabalho continuou com apoio de estagiários, bolsistas e colaboradores eventuais. Ainda assim, o corpo técnico desejado — composto por botânicos, biólogos, engenheiros florestais e agrônomos — não pôde ser plenamente formado nas primeiras décadas. Para o professor Masiero, “o Jardim Botânico é um espaço de refúgio, dedicado ao ensino, pesquisa, extensão e lazer, promovendo uma integração entre a universidade e a sociedade”.
Legado e Atualidade
Ao revisitar o Jardim Botânico em 2024, o Professor Adelino expressou emoção e surpresa diante da evolução do espaço, especialmente ao observar a ampliação das atividades, a presença de profissionais e estudantes atuando de forma integrada e a inclusão de iniciativas culturais, como exposições de arte. Para ele, o Jardim Botânico superou a visão inicial centrada apenas na flora e tornou-se um espaço interdisciplinar, com potencial ainda maior para contribuir com a sociedade.
Hoje, o JB-UFSM recebe aproximadamente 10 mil visitantes por ano, consolidando-se como um centro de referência em educação ambiental, pesquisa e extensão universitária. Seu percurso histórico é marcado pela resiliência e pelo idealismo de seus fundadores, cuja contribuição permanece viva na paisagem, nas árvores plantadas com as próprias mãos e na missão educativa que continua a inspirar gerações.