A relação entre humanos e máquinas tem evoluído rapidamente, passando de simples comandos manuais para interfaces intuitivas com vozes e gestos. Isso nos leva a pensar: qual a próxima fronteira da tecnologia? Segundo a Neuralink, são as interfaces cérebro-computador (BCIs), que permitem que a comunicação ocorra diretamente entre o cérebro e dispositivos digitais. Essa tecnologia tem o potencial de revolucionar a acessibilidade, permitindo que pessoas com limitações motoras recuperem boa parte de sua autonomia, além de abrir caminho para novas formas de comunicação e controle de máquinas por meio do pensamento.
A Tecnologia por trás dos chips
Os chips cerebrais operam através de sensores ultrafinos inseridos no cérebro, que podem ser implantados por meio de cirurgias minimamente invasivas, utilizando robôs para garantir precisão e reduzir riscos. Esses eletrodos captam os sinais elétricos dos neurônios e os convertem em comandos digitais, permitindo o controle de dispositivos externos, como computadores e robôs, apenas com o pensamento. O sistema é sem fio e contém um chip implantado que transmite os sinais cerebrais para um receptor externo, que possibilita uma comunicação contínua entre o cérebro e a máquina. Na imagem a seguir é possível verificar a composição do aparelho.
Onde estamos em 2025?
Nos últimos anos, múltiplas empresas e universidades estão desenvolvendo suas próprias versões dessa tecnologia. Empresas como Neuralink, Blackrock Neurotech e Synchron estão entre as que conduzem esses estudos, explorando aplicações que vão desde a restauração da mobilidade até o aprimoramento cognitivo.
A Neuralink, por exemplo, em 2025 já implantou o dispositivo BCI (brain-computer interface) (interface cérebro-computador) em três pacientes, todos com paralisia severa, e planeja expandir os testes para até 30 novos voluntários ao longo do ano. Os primeiros usuários conseguiram utilizar seus implantes para controlar computadores, jogar videogames e até projetar objetos em softwares de design 3D. No gráfico pode-se observar quantas horas mensais cada paciente já utilizou o dispositivo sozinho desde a sua implantação.
Noland, o primeiro paciente implantado com o BCI, sofreu uma lesão na medula espinhal em um acidente de natação e ficou paralisado dos ombros para baixo. Ele relata: “[O Chip] me ajudou a me reconectar com o mundo, meus amigos e minha família. Me deu a capacidade de fazer as coisas sozinho novamente, sem precisar da minha família a qualquer hora do dia ou da noite.” Alex também ficou paralisado do pescoço para baixo após um acidente de carro e Brad, devido ao estágio avançado de sua Esclerose Lateral Amiotrófica, consegue mover apenas os olhos e os cantos da boca. A seguir, pode-se observar os pacientes utilizando de forma autônoma os dispositivos.
Além disso, a empresa está realizando um teste clínico que visa a integração de sua tecnologia com braços robóticos, permitindo que pacientes tetraplégicos tenham controle sobre próteses. E também recebeu aprovação para realizar testes clínicos no Canadá, buscando mais voluntários para sua tecnologia.
Impacto na Saúde
Para milhões de pessoas ao redor do mundo que vivem com paralisia, doenças neuromusculares ou deficiências motoras, os implantes cerebrais representam uma mudança radical na qualidade de vida. Esses dispositivos permitem que estes pacientes com lesões na medula espinhal recuperem parte da sua independência ao interagir com computadores, enviar mensagens ou até operar equipamentos assistivos. Além disso, novos desenvolvimentos na área incluem sistemas que estimulam regiões específicas do cérebro para ajudar no tratamento de condições como depressão e epilepsia. E alguns pesquisadores também exploram a possibilidade de restaurar a visão em pessoas cegas através da estimulação direta da região cerebral responsável pelo processamento visual. Esse avanço pode permitir que até mesmo pessoas sem nervo óptico enxerguem, ainda que inicialmente com baixa resolução.
Questões éticas e sociais
Embora estes avanços na neurotecnologia tragam promessas revolucionárias, também levantam questões éticas e sociais importantes. Um dos principais debates envolve a privacidade dos dados neurais – como garantir que essas informações não sejam usadas de forma indevida? Até que ponto é seguro permitir que empresas privadas coletem e processem informações diretamente do cérebro? Além disso, a possibilidade de hackear ou manipular esses dispositivos representa um risco significativo, exigindo regulamentações rigorosas para garantir que a tecnologia seja usada de forma ética e segura.
Outro debate relevante é a questão da acessibilidade: será que essa tecnologia será amplamente disponível ou estará restrita a um grupo seleto de pessoas? O desenvolvimento dos implantes cerebrais precisa ser acompanhado por discussões sobre seus impactos na sociedade e a garantia de que sejam utilizados para o benefício coletivo.
Para o Futuro…
O futuro dos chips cerebrais vai muito além da reabilitação de pacientes com deficiências motoras. Com os avanços na inteligência artificial e na computação neural, é possível que, em algumas décadas, esses dispositivos permitam ampliar as capacidades humanas, criando novas formas de aprendizado, memória aumentada e comunicação direta entre indivíduos. Pesquisas atuais indicam que, em breve, os implantes poderão permitir a interação com robôs assistivos, como o Optimus da Tesla, permitindo que usuários controlem robôs humanoides apenas com o pensamento, facilitando ainda mais a integração entre cérebro e máquina. No entanto, o sucesso dessa tecnologia depende não apenas de avanços científicos, mas também de um debate global sobre seus impactos na sociedade.
Autora: Amanda Carolina Messer Siebeneichler
Referências
Um ano de Telepatia – Artigo Neuralink
Video do primeiro paciente utilizando a tecnologia