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A Dependência das IAs: Estamos Perdendo Nossa Capacidade de Pensar?



Nos últimos anos, as Inteligências Artificiais (IAs) deixaram de ser apenas uma promessa tecnológica para se tornarem parte da rotina de milhões de pessoas. Ferramentas como chatbots e sistemas generativos passaram a produzir textos, imagens e até mesmo decisões que antes dependiam exclusivamente do intelecto humano. Se, por um lado, essa transformação desperta fascínio, por outro levanta uma preocupação crescente: até que ponto estamos nos tornando dependentes da IA ao ponto de comprometer nossa própria capacidade de pensar?

 

A raiz do problema

A maior característica do ser humano sempre foi sua capacidade de raciocínio e criatividade. No entanto, estudos recentes alertam que o uso exagerado e passivo da IA pode estar enfraquecendo justamente essas habilidades. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2025 mostrou que estudantes que usaram intensivamente sistemas de IA apresentaram menor atividade cerebral em tarefas de memória e análise crítica, quando comparados a grupos que não utilizaram a tecnologia (INFO VERUS, 2025).

Esse risco se manifesta de forma clara na educação: jovens recorrem à IA para resolver exercícios, redigir redações ou interpretar textos, mas muitas vezes não compreendem o conteúdo gerado, aceitando-o sem reflexão. Em alguns casos, alunos entregaram trabalhos escritos por IA sem sequer saber explicar os conceitos neles contidos (FORBES, 2025). Essa prática, além de comprometer o aprendizado, cria uma ilusão de competência, em que a autonomia intelectual é substituída pela confiança cega na máquina.

 

Confiança cega e pensamento crítico em risco

Um estudo desenvolvido pela Microsoft e pela universidade Carnegie Mellon (2025) investigou a relação entre uso de IA e pensamento crítico em contextos educacionais. Revelando que muitos estudantes tendem a confiar mais nas respostas da IA do que em si mesmos, aceitando as soluções apresentadas sem questionamento. Essa dependência reduz a disposição para analisar, comparar argumentos e verificar informações.

Por outro lado, o mesmo estudo mostrou que, quando usada de forma crítica, a IA pode atuar como gatilho para reflexão: ao pedir alternativas, explorar diferentes pontos de vista e questionar as respostas, alguns alunos conseguiram aprofundar sua compreensão em vez de reduzi-la (LEE , 2025). Ou seja, não é a tecnologia em si que elimina o pensamento crítico, mas a maneira como ela é utilizada.

 

IA e criatividade: muleta ou ferramenta?

O impacto não se limita ao campo educacional. Na esfera artística, a popularização de IAs generativas para criar imagens, músicas e vídeos também gera debate. Autores como Zuboff (2019) alertam que a substituição da prática criativa pela automação pode levar a uma homogeneização cultural, na qual o valor humano da inovação se perde.

Essa crítica ecoa no conceito de “dependência criativa” (PrivacyTech, 2024), segundo o qual o uso constante de IA para criar acaba por atrofiar a originalidade. Em vez de servir como uma ferramenta para impulsionar a imaginação, a IA passa a ser vista como muleta criativa, nivelando a produção pela média algorítmica.

 

O contra-ataque: o Modo Estudo da OpenAI

Consciente desse risco, a OpenAI anunciou em julho de 2025 o lançamento do modo Estudo (Study Mode) no ChatGPT. Diferente do uso convencional, em que a IA entrega respostas prontas, o novo recurso foi projetado para estimular o aprendizado ativo, propondo perguntas, testando a compreensão do estudante e evitando entregar a solução de forma imediata (OPENAI, 2025).

Segundo a empresa, a proposta é transformar a IA de uma “máquina de respostas” em um tutor socrático, que incentiva o raciocínio próprio do usuário (MacMagazine, 2025). Para educadores, a novidade representa uma tentativa de devolver protagonismo ao aluno, mitigando o risco da dependência.

 

Entre a eficiência e o futuro do trabalho

Ainda é cedo para afirmar se a dependência da IA comprometerá irreversivelmente a capacidade cognitiva das próximas gerações. Mas os sinais já indicam algo ainda mais imediato e preocupante: o impacto no mercado de trabalho.

Se o que nos diferencia das máquinas sempre foi a criatividade, a autonomia e a capacidade de inovar, abrir mão dessas habilidades em favor de respostas prontas é como entregar justamente o que nos mantém relevantes. Pesquisas recentes do MIT (2025) já alertam que o uso acrítico da IA pode reduzir a prática do pensamento crítico, tornando profissionais menos preparados para resolver problemas complexos de forma independente.

No fim das contas, não é a IA que ameaça “roubar nossos empregos“, mas a forma como escolhemos usá-la. O modo Estudo da OpenAI pode ajudar a devolver protagonismo ao aprendizado, mas não elimina nossa responsabilidade: cabe a nós decidir se seremos operadores da tecnologia ou apenas operados por ela.

 

Referências

INFO VERUS. Dependência de IA prejudica desempenho cognitivo, aponta pesquisa do MIT. 2025. Disponível em: https://www.infoverus.com.br/variedades/dependencia-de-ia-prejudica-desempenho-cognitivo-aponta-pesquisa-do-mit/6571

FORBES. Estudo aponta que a IA está reduzindo a capacidade cognitiva das pessoas. 2025. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2025/01/estudo-aponta-que-a-ia-esta-reduzindo-a-capacidade-cognitiva-das-pessoas/

LEE, S. Generative AI and Critical Thinking: A Global Survey. 2025. Disponivel em:https://www.microsoft.com/en-us/research/uploads/prod/2025/01/lee_2025_ai_critical_thinking_survey.pdf?msockid=04f93ed41b056d4902532b5c1a626cd2

OPENAI. ChatGPT Study Mode. 2025. Disponível em: https://openai.com/index/chatgpt-study-mode/

MACMAGAZINE. OpenAI lança modo Estudo no ChatGPT com foco em estimular o aprendizado. 2025.

ZUBOFF, S. The Age of Surveillance Capitalism. New York: PublicAffairs, 2019.

PRIVACYTECH. Inteligência Artificial: a dualidade entre criatividade e dependência. 2024.

TIME. AI, ChatGPT and Google are learning in school. Disponível em: https://time-com.translate.goog/7295195/ai-chatgpt-google-learning-school/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc&_x_tr_hist=true

SIQUEIRA, Janderson. A dependência excessiva da inteligência artificial: um freio para a criatividade humana. Dev.to, 2023. Disponível em: https://dev.to/jandersonsiqueira/a-dependencia-excessiva-da-inteligencia-artificial-um-freio-para-a-criatividade-humana-4paa?utm_source=chatgpt.com

 

Autora: Luiza Manoelle dos Santos



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