As relações entre a riqueza biológica e fatores como produtividade, habitat, regimes/escala de perturbações, interações e variações da estrutura e funcionamento das comunidades frente às flutuações climáticas têm sido cada vez mais estudadas, especialmente nas regiões tropicais do planeta. Dentro da faixa tropical no leste setentrional brasileiro, o estado da Bahia, apresenta a maior concentração de remanescentes florestais e essa região tem sido alvo de constantes investigações biológicas nas duas últimas décadas. Ao Norte do São Francisco, onde a floresta atlântica se encontra mais fragmentada, com a grande maioria dos fragmentos de tamanho inferior a 50 ha, pesquisas recentes vêm ampliando o conhecimento da biota remanescente. No entanto, as ações de pesquisa ainda são incipientes para abranger todas as particularidades fisionômicas e deixar público a real riqueza biológica no eixo nordeste, assim como a compreensão dos processos dinâmicos que essas diferentes áreas vem sofrendo, mediante os regimes de perturbação e flutuações temporais de curta, média e longa duração. Para um acompanhamento de parte desses processos, a região de Una, distante 30 km do município de Ilhéus e conhecida por sua elevada riqueza biológica e endemismo, tem sido alvo de diversos projetos e entre eles destacam-se a instalação recente de um sítio PELD (i.e. amostragem utilizando um grid de 5 x 5 km com 30 parcelas permanentes de 40 x 250m), além de investigações sobre funcionalidade de fragmentos florestais (REDE SISBIOTA).

Paralelamente aos estudos na região de Una e arredores, levantamentos da flora e fauna em outras áreas de floresta atlântica sul baiana, sob diferentes condições de relevo, solos, precipitação e distância do litoral, tem evidenciado a extrema heterogeneidade da formação florestal mesmo em escala local, trazendo ao universo acadêmico constante publicações sobre as variações na estrutura e composição das comunidades, novas espécies ou novas ocorrências, o que nos motiva a ampliar as áreas de estudo levando efetivo suporte científico para conservação de um maior número de tipologias florestais. Ao Norte do São Francisco, destaca-se, em Pernambuco, o Parque Estadual de Dois Irmãos, maior remanescente de floresta urbana no estado e objeto de estudos pontuais diversos nas últimas décadas. Desse modo, o projeto aqui apresentado objetiva investigar processos e padrões geradores, mantenedores e impactantes da biodiversidade em diferentes áreas de floresta atlântica no Nordeste, especificamente sul da Bahia e na Zona da Mata de Pernambuco.

Espera-se desse modo:

1. continuar e aprofundar as investigações numa área atualmente com elevado conhecimento biológico e já sob estudos de longo prazo (e.g. remanescentes de florestas sub-montanas na região de Una, mais precisamente no sítio PELD implantado na Reserva Biológica de Una);
2. buscar respostas, através de investigações por metodologias mais rápidas, em remanescentes florestais cuja riqueza biológica são ainda pouco conhecidas e até mesmo não documentadas (e.g. florestas montanas);
3. instalar três novos sítios para pesquisas de longo prazo em áreas de Floresta Atlântica Nordeste.

Nesses estudos, serão priorizadas áreas sob preservação permanente, em destaque: o recém criado PARNA Serra das Lontras e a RPPN Serra Bonita ambos na Bahia e abrangendo vegetação de florestas montanas mas sob distintas condições geográficas e o Parque Estadual de Dois Irmãos, em Pernambuco, totalizando três diferentes áreas, além da região de Una.

Ressalta-se que em algumas das áreas supracitadas, parte da flora e grupos de fauna (e.g. anfíbios, répteis, formigas, mamíferos voadores e terrestres) encontra-se parcialmente documentada em projetos pretéritos e cujo material está depositado na instituição sede dessa proposta (UESC), na UFRPE, na UFPE e nos acervos científicos do Centro de Pesquisas do Cacau, uma das principais instituições parceiras. A proposta aqui apresentada terá suporte técnico científico de diferentes Programas de Pós-Graduação em destaque os programas de Botânica, Ecologia e Zoologia da UESC, o programa de Botânica da UEFS, o programa de Ecologia e Biomonitoramento da UFBA, além do Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais e Programa de Pós Graduação em Ciências do Solo, na UFRPE.