O historiador e referência nacional em Relações Internacionais, Amado Luiz Cervo (1941–2025), faleceu em novembro deste ano, e deixou um legado que ultrapassa fronteiras acadêmicas. Autor consagrado, professor renomado e um dos principais analistas da política externa brasileira, Cervo permanece presente na UFSM por meio da doação de cerca de 3 mil livros ao acervo da Biblioteca Setorial do CCSH, realizada em 2019. As obras doadas têm como temas história geral e das relações internacionais, com obras clássicas, históricas e contemporâneas, e com títulos de autoria própria e de terceiros. Os textos estão escritos em português, inglês, espanhol, francês e italiano. Além disso, outros temas presentes são a história das civilizações e de países, cultura, filosofia, direitos humanos, teologia, literatura e biografias. O gesto marcou profundamente a comunidade universitária e consolidou a instituição como guardiã de parte de sua memória intelectual.
Nascido em Faxinal do Soturno, município da região da Quarta Colônia, Cervo cresceu na zona rural, e descrevia a sua infância como simples e integrada à natureza. Após o ensino médio, iniciou a faculdade de Filosofia em Viamão, mas interrompeu o curso para ir atrás de outra oportunidade: estudar na França. Em 1964, partiu rumo à Europa e ingressou na Universidade de Estrasburgo, onde concluiu a graduação, mestrado e doutorado em História.
De volta ao Brasil em 1970, integrou o corpo docente da Universidade de Passo Fundo e, posteriormente, da Universidade de Brasília. Lecionou também no Instituto Rio Branco, onde influenciou gerações de diplomatas. Sua obra mais conhecida, História da Política Exterior do Brasil, tornou-se leitura obrigatória na formação diplomática. O seu primeiro livro, O Encontro de Civilizações, está presente no acervo da biblioteca do CCSH
A doação de sua biblioteca pessoal à UFSM representou um marco para o CCSH. A decisão foi resultado de conversas conduzidas pelo professor Günter Richter Mros e pela professora Maria Medianeira Padoin, que apresentaram ao professor a importância de manter seu acervo em uma instituição localizada na região onde nasceu. Antes disso, Cervo tinha como destino provável uma universidade privada de Brasília. A aproximação com a UFSM e a homenagem recebida na ocasião reforçaram seu sentimento de reconhecimento e acolhimento, fatores decisivos para que escolhesse a instituição como guardiã de sua biblioteca.
Na ocasião da doação, Cervo recebeu a Medalha de Visitante Ilustre da UFSM, reconhecimento por sua contribuição à ciência e à educação. Sua influência segue viva entre estudantes, diplomatas e pesquisadores que encontram em seus textos ferramentas fundamentais para compreender a inserção internacional do Brasil.
Considerado por muitos como a maior referência dos estudos de Relações Internacionais no país, Cervo deixa não apenas livros, mas uma trajetória intelectual que transformou o campo. Seu legado permanece nas estantes do CCSH, nos diplomatas que formou, nos alunos que ensinou e nas reflexões que deixou à todos.