Ir para o conteúdo Revista Arco Ir para o menu Revista Arco Ir para a busca no site Revista Arco Ir para o rodapé Revista Arco
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

9 curiosidades sobre morcegos que você não sabia

Estudante de Biologia da UFSM pesquisa relações entre morcegos, seres humanos e ambientes urbanos



Os morcegos são seres envoltos em crenças místicas e, às vezes, podem causar medo nas pessoas. Mas será que, cientificamente, há evidências sobre os males que os morcegos podem causar? Conhecidos popularmente na literatura, no cinema e na ficção como animais que se alimentam de sangue, eles normalmente são associados a bruxas, vampiros e ao super-herói Batman, o homem-morcego. No entanto, bem longe de serem os vilões da história, os morcegos, na verdade, são animais capazes de se ajustar ao cenário urbano sem representar ameaça alguma ao ser humano.

Um projeto de pesquisa chamado Morcegos Urbanos de Santa Maria foi criado na UFSM para o Trabalho de Conclusão de Curso da acadêmica de Biologia Fabiana Perrando Coradini, com orientação do Professor Everton Rodolfo Behr e coorientação da doutoranda Cristina Cerezer. A inquietação inicial, que culminou no projeto de pesquisa, foi a necessidade que Fabiana sentia de sair a campo como futura bióloga. “Quero estar no meio do mato, mexendo com bichos. É isso que me faz feliz”, afirma a estudante de Ciências Biológicas.

Os morcegos, também chamados pelo nome científico quirópteros (por conta da classificação na Ordem Chiroptera) são criaturas capazes de dizimar uma série de insetos que atacam lavouras e, assim, manter uma plantação bem cuidada sem o uso de pesticidas. Dessa forma, os morcegos polinizadores e os predadores de insetos auxiliam o mercado que movimenta bilhões de dólares por ano: o da agricultura. Eles são adaptáveis e equilibram o ambiente. “Apesar de a gente falar morcego de forma genérica, não existe um só tipo de morcego”, comenta Fabiana sobre a diversidade dos animais, que somam 180 espécies no Brasil e possuem diferentes hábitos alimentares e comportamentais. Confira, a seguir, uma lista com nove curiosidades sobre esses animais.

1 – Os morcegos não se alimentam apenas de sangue
Das 180 espécies de morcegos que existem no Brasil, apenas três delas se alimentam de sangue: uma delas se alimenta de sangue de mamíferos e aves; outra, somente de aves; e a Desmodus rotundus tolera o consumo de sangue humano, mas na verdade se alimenta de mamíferos e aves. O ambiente deve estar muito degradado e com as presas naturais reduzidas para que esse morcego tome a atitude de se alimentar de um ser humano.

2 – Existem morcegos “naturebas”

Alguns morcegos são classificados como nectarívoros quanto à alimentação, porque possuem como cardápio preferido o néctar das flores e o pólen. Grande parte dos morcegos brasileiros preferem insetos, já a maioria ao redor do mundo é frugívoro, ou seja, se alimentam de frutos.

3 – Entre a natureza e o meio urbano

Esses bichinhos são bem adaptáveis e enquanto uns não dispensam a rusticidade de uma caverna, outros encontram espaço no conforto do centro urbano. Muitos morcegos ainda se abrigam em furnas (manifestação geológica natural que libera vapor d’água), árvores e cascas de árvores (soltas ou acopladas). No geral, os morcegos precisam de um ambiente natural e não impactado pelo homem para poderem encontrar comida mais facilmente e viverem em harmonia com a natureza. Fabiana comenta que essa concepção está mudando: “Alguns estudos apontam que determinadas espécies se dão melhor no ambiente urbano do que no ambiente natural, mas isso ainda requer muito estudo”.

É possível encontrar morcegos em todo o globo terrestre, exceto nos pólos. A principal região que abriga os morcegos é a neotropical, que envolve a América do Sul e uma porção da América Central. Ainda, é entre os trópicos que vivem as mais diferentes espécies de morcegos. O local é propício para a vida dos animais, pois oferece uma abundância de insetos e frutos, e o clima contribui para a sobrevivência e reprodução dessas espécies.

O morcego Myotis ruber, também conhecido como Morcego-borboleta-avermelhado, se alimenta de insetos, esteve ameaçado de extinção e possuía alto grau de vulnerabilidade no Rio Grande do Sul. Atualmente, ele já saiu da Lista Vermelha de extinção, que aponta a espécie que corre maior risco.

4 – Quem ameaça o morcego

Como todas as criaturas vivas, o morcego faz parte de uma cadeia alimentar que harmoniza o ambiente. Os predadores dos morcegos são corujas, gaviões, morcegos carnívoros e a ave anu-branco. Os gaviões capturam os morcegos durante o forrageio (momento em que o animal sai para procurar alimentos próximos da terra) ou nos abrigos em que ambas espécies dividem. O anu-branco entra nos abrigos dos morcegos e costuma predar principalmente os filhotes do grupo.

5 – O felino também ataca 

O ambiente urbano ocasionou o surgimento de um novo predador para os morcegos: o gato. Durante a pesquisa realizada por Fabiana, foi relatado por um dos moradores entrevistados uma “chacina” realizada por um gato que caçou alguns morcegos. Além dos gatos, os cachorros também capturam morcegos que estão próximos ao chão ou dentro de casa. A pesquisadora alerta que a interação entre esses animaizinhos pode acabar provocando alguma doença característica dos morcegos nos pets: “de qualquer forma, é muito importante manter os animais de estimação vacinados”.

6 – Poucos morcegos contraem a raiva

Embora o vírus da raiva seja a principal doença relacionada aos morcegos pelos zootecnistas, veterinários e senso comum, as pesquisas em diversidade (que visam conhecer a estrutura e a composição de morcegos de um certo local)  mostram que menos de 30% dos bichinhos apresentava o vírus. Fabiana considera essa taxa muito baixa, levando em conta que a doença pode estar presente em qualquer mamífero silvestre, até mesmo em morcegos que não se alimentam de sangue. Ela conta como essa doença, na crença popular, passou a ser sinônimo de morcego: “O estigma da raiva caiu sobre os quirópteros devido ao hábito hematófago (alimentar-se de sangue) de uma espécie de morcego, o Desmodus rotundus”. A pecuária invadiu o habitat natural dessa espécie e, por conta disso, a vaca, o cavalo, a ovelha e até o javali substituíram as presas naturais e se tornaram as novas vítimas do morcego. A partir desse momento, os morcegos são percebidos como um problema para os seres humanos.

7 – Não há motivo para temer

A última contaminação de raiva por morcego na região central do estado foi em 2007. É possível controlar a disseminação do vírus mantendo a vacinação das criações rurais em dia. Cuidar de áreas que necessitam de preservação permanente é importante para os morcegos viverem no seu habitat sem precisar buscar novas presas, como animais domésticos.

8 – Morceguinhos também plantam

Os morcegos frugívoros possuem um papel importante no reflorestamento de áreas desmatadas. Quando eles voam para se alimentar, eles acabam eliminando sementes viáveis de plantio pelas fezes.  Pesquisadores da Unesp e da Embrapa desenvolveram aromas de frutas para atrair morcegos que possam espalhar sementes em regiões devastadas. As áreas escolhidas para o replantio foram o sul da Mata Atlântica e a parte central da Floresta Amazônica. Esse reflorestamento realizado por morcegos é mais completo do que se fosse utilizado o método tradicional.

9 – Ninguém escapa do radar

Talvez você já tenha ouvido a música Sem Radar da banda carioca de rock alternativo LS Jack, que fez sucesso nos anos 2000. A letra faz referência ao radar do morcego, também conhecido como ecolocalização, que serve para detectar a distância e a posição dos objetos ou corpos ao redor.

Frequentemente, pessoas relatam que os morcegos dão “voos rasantes”. Segundo Fabiana, existem dois motivos principais para isso. O primeiro é que os morcegos frugívoros voam por cima e por baixo das plantas das quais eles pretendem se alimentar, o vôo baixo pode parecer uma ameaça caso alguém esteja por perto. O segundo motivo é que os animais voam em direção à pessoa para localizá-la pelo radar e perceber se o indivíduo representa uma ameaça.

Os morcegos percebem ameaça, se estressam e também sofrem quando atacados. Geralmente possuem o impulso de fugir dos seres humanos por reconhecerem o perigo nessas interações. Para Fabiana, que esteve em abrigos diurnos, é possível perceber que eles se escondem quando aparece um “intruso” no seu ambiente natural. “Nos abrigos da espécie Tadarida brasiliensis, ouvi uma vocalização típica que se repetia em todos os locais, como se fosse um aviso de perigo para os demais indivíduos da colônia”, comenta a pesquisadora. Os morcegos que vivem em Santa Maria não atacam os seres humanos, mas podem tentar morder se forem capturados.

A pesquisa terá continuidade para além da monografia. Se algum morcego entrou na sua residência ou no seu local de trabalho e você desconfia de um possível abrigo de morcegos, você pode entrar em contato com os pesquisadores pela página no Facebook Morcegos Urbanos de Santa Maria – Projeto de Pesquisa e ajudar a realizar o Mapeamento de Morcegos – BATMAP, seguindo os seguintes passos:

Foto reprodução: página do facebook Morcegos Urbanos de Santa Maria – Projeto de Pesquisa

Reportagem: Mirella Joels

Ilustração: Noam Wurzel

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-601-5287

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes