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Quais os próximos passos da vacinação contra o coronavírus?

Alterações no Plano Nacional de Imunização, atualização e chegada de novas vacinas e testes de medicamentos irão mudar o combate ao coronavírus



Das quatro ondas de infecções às quatro doses de vacina, foram muitos os acontecimentos ocorridos em mais de dois anos de pandemia do coronavírus. Segundo o consórcio de imprensa que reúne dados das secretarias estaduais de saúde, mais de 179 milhões de brasileiros já receberam a primeira dose da vacina; mais de 167 milhões fizeram a segunda ou vacinas de dose única e mais de 100 milhões realizaram a terceira dose – o que, segundo o Plano Nacional de Imunização (PNI), corresponde atualmente ao ciclo básico de imunização contra o coronavírus.

 

As últimas mudanças do Ministério da Saúde em relação ao PNI incluíram a ampliação da terceira dose para adolescentes e da quarta dose para pessoas com idade a partir de 50 anos e uma dose adicional (quinta) para imunodeprimidos. A queda natural da imunidade seis meses após a vacina traz o questionamento sobre qual será o futuro da campanha de imunização.

Descrição da imagem: ilustração horizontal e colorida, em tons de azul e verde, de uma pessoa em uma estrada de terra no meio de uma paisagem. A estrada corta um gramado verde e desemboca no meio de duas montanhas. No meio das montanhas, ilustração de um frasco de vacina e uma seringa sobre uma estrela de doze pontas amarelo pastel. Na frente das montanhas, fileira de árvores do tipo pinheiros em tons de azul marinho e azul acinzentado. Sobre o gramado e ao lado da estrada, há uma placa de madeira em formato de flecha. O fundo é cinza.

Professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e um dos cientistas brasileiros que participaram no desenvolvimento da vacina de Oxford, Alexandre Schwarzbold apresenta duas hipóteses: a primeira seria realizar uma campanha de vacinação sazonal antes da chegada do inverno – período com maior incidência de vírus respiratórios, como a gripe (influenza A, B e C). A segunda é que, com a diminuição da circulação do vírus, a vacinação seja direcionada para perfis de risco como pessoas idosas e imunodeprimidas.

 

Ana Paula Seerig, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFSM e Secretária Adjunta de Saúde de Santa Maria, acredita que a campanha de vacinação contra o coronavírus passe a ser realizada no mesmo formato da vacina para gripe. 

 

Apesar de ainda não haver um posicionamento do Ministério da Saúde para a criação de uma campanha anual, mudanças futuras são uma certeza para a secretária. Ela relata que, com tantas alterações no decorrer da campanha, até mesmo os profissionais da saúde ficaram perdidos. “A gente brinca que hoje [a campanha] está assim, mas até de noite ou amanhã pode mudar. Com tantas mudanças, nós que somos profissionais da saúde, que lemos todas as notas e informações, às vezes temos que parar e pensar no que está acontecendo”, destaca.

Pandemia e Endemia

A diminuição do número de óbitos e de novos infectados por meio da vacinação fez com que o termo pós-pandemia se tornasse corriqueiro. Essa nomenclatura gera um debate sobre se o momento vivido atualmente seria uma epidemia, endemia e até se a pandemia realmente ficou no passado.

 

Como Schwarzbold explica, pandemia é uma epidemia – quando uma doença atinge diferentes localidades em nível municipal, estadual e nacional – em escala global. Já a endemia é quando a doença está dentro do seu nível histórico, controlada e sem risco de sobrecarregar o sistema de saúde.

 

O que torna difícil “bater o martelo” sobre a atual situação da Covid-19 é o fato de que o estágio de combate ao vírus muda de forma significativa ao redor do globo. O professor contextualiza que, ao mesmo tempo em que a China apresenta baixos índices epidêmicos por manter sua política de “covid zero”, alguns países africanos seguem com baixa cobertura vacinal e um número elevado de novos casos.

 

O pesquisador analisa que o Brasil, assim como Portugal, Espanha, Itália e outros países europeus, vive uma fase de transição entre pandemia e endemia por conta da sua ampla cobertura vacinal. Schwarzbold explica que, apesar da taxa de transmissão ser baixa em comparação com os momentos mais severos da pandemia, ela continua alta em comparação com outras doenças. “Antes da epidemia, não havia um vírus que se transmitisse tanto entre as pessoas. É preciso um organismo internacional, como a OMS, para dizer que o mundo inteiro está em nível endêmico. Existem alguns indicadores que apontam para uma endemia, mas eles precisam se manter estáveis por muito tempo”, ressalta. 

 

Um exemplo de local com nível endêmico, segundo o pesquisador, seria o município de Santa Maria, onde a Covid-19 não gera sobrecarga no sistema de saúde e também não apresenta taxa de transmissão muito maior do que outros vírus causadores de doenças respiratórias. No entanto, o professor ressalta que a grande circulação viral que se mantém em determinados locais do mundo pode gerar novas variantes capazes de trazer de volta o cenário epidêmico à cidade.

Desigualdade e impactos na saúde pública

Independentemente da nomenclatura – pandemia, epidemia, endemia – o caminho para que o coronavírus fique definitivamente para trás é mais distante do que deveria para algumas pessoas por conta da desigualdade. Segundo dados do site Our World In Data, ligado à Universidade de Oxford, aproximadamente 80% da população de países considerados de alta renda receberam pelo menos uma dose da vacina. Em países classificados como baixa renda, menos de 18% da população já recebeu a primeira dose do esquema vacinal.

 

No entanto, não é preciso cruzar fronteiras internacionais para perceber essa desigualdade. De acordo com o Mapa da Vacinação, no estado de São Paulo, quase 90% da população acima de 18 anos já fez a dose de reforço, enquanto em Roraima essa taxa é inferior a 22%.

 

Em sua atuação na linha de frente contra o coronavírus, Ana Paula Seerig relata contrastes dentro do município de Santa Maria. “Quando a gente vai nas comunidades mais distantes ou que tem um acesso reduzido ao serviço de saúde, ainda vê pessoas que não fizeram nenhuma dose de vacina”, conta a secretária adjunta de saúde. 

 

Segundo ela, a falta de infraestrutura como transporte urbano e a vulnerabilidade socioeconômica são os principais fatores que dificultam o acesso à vacinação por pessoas de regiões periféricas do município, que possui baixa cobertura de atenção primária (ações do sistema de saúde que visam prevenir doenças).

 

Além da dificuldade de acesso, a população mais pobre sofre os efeitos da doença de forma mais severa. “Quanto maior a desigualdade social, maior o risco à saúde. Uma pessoa com covid em um ambiente familiar que permita o isolamento, acesso a uma máscara de qualidade, à alimentação e à hidratação adequada é diferente de um paciente com covid em uma casa de dois cômodos, em que não é possível fazer o isolamento”, destaca Ana Paula.

 

A secretária adjunta de saúde ressalta o maior custo gerado no tratamento de casos graves da doença e até mesmo casos de covid longa, cujas consequências ainda não são totalmente conhecidas. Como gestora da equipe de saúde de Santa Maria, ela cita atendimentos a pessoas que contraíram a doença no ano passado e ainda apresentam dificuldades respiratórias, perda de memória e de olfato e que ainda precisam ser atendidas pelo sistema de saúde.

Atualizações e novas ferramentas para enfrentar o vírus

Outra novidade a caminho é o processo de atualizações nas vacinas para abranger variantes que não existiam no início do seu desenvolvimento. O professor destaca que, com uma cobertura mais ampla das variantes e menor circulação viral, a imunidade coletiva se torna possível por meio da vacinação.

 

A ômicron é a variante para qual os pesquisadores têm focado seus esforços, pelo fato de atualmente ser a que mais escapa do controle vacinal – apesar de a vacinação prevenir casos graves, ela não possui a mesma eficiência para diminuir a transmissibilidade. Além disso, a variante tem pelo menos quatro subvariantes. Segundo Schwarzbold, todas apresentam nível de gravidade semelhante à ômicron. “A atualização da plataforma serve para a vacina chegar na frente do vírus, para que ele não tenha tempo para mutar e que não se replique em quantidade suficiente para criar variantes de risco”, afirma o docente.

 

Alguns imunizantes ainda aguardam a aprovação da Anvisa para ingressarem no Plano Nacional de Imunização, como a vacina da Clover Biopharmaceuticals, que contou com a participação da UFSM em seus testes. O professor aponta que há possibilidade de o plano de vacinação contar com oito a dez fornecedores de imunizantes distintos, o que amplia as ferramentas de combate ao vírus. A parceria da UFSM com a Clover será retomada para os testes de uma vacina destinada para crianças com menos de cinco anos – que não são contempladas atualmente pelo PNI.


Além das vacinas, a UFSM irá realizar teste de medicamentos para o tratamento do coronavírus ainda neste ano. Segundo o professor, os medicamentos em si ainda são segredos industriais de três empresas distintas. Um dos remédios será aplicado em pacientes com comorbidades logo no início da doença, com o objetivo de evitar que ela evolua para casos graves. Os outros dois serão utilizados para combater a doença em estágio grave.

Inovações criadas durante a pandemia

Se, por um lado, a pandemia foi um período de muitas adaptações, por outro, também trouxe muitos avanços no campo científico, que serão úteis para combater outras doenças. O primeiro a ser destacado por Schwarzbold são as vacinas genéticas, lançadas pela primeira vez no mercado após 20 anos de desenvolvimento em laboratórios.

 

De acordo com o pesquisador, a tecnologia inédita no desenvolvimento de vacinas apresentou grande eficácia e segurança e tende a se tornar cada vez mais comum. “A utilização dessas vacinas irá avançar muito. A Modena já está estudando aplicar a vacina genética para vários vírus. Nós vamos ver um avanço muito grande no controle das doenças virais nas próximas décadas”, destaca. A vacina contra a chikungunya é outra desenvolvida em plataforma genética e que já está disponível.

 

Uma das vacinas em desenvolvimento é para o vírus sincicial respiratório, que causa pneumonia em idosos e em bebês, além de ser um dos responsáveis pelo desenvolvimento de bronquiolite em recém-nascidos. Há também a vacina para a dengue, que a UFSM irá desenvolver juntamente com o Butantan. Outra imunizante que está em fase de desenvolvimento é para a prevenção de uma forma grave de herpes que pode causar meningite.

 

Outra mudança foi a consolidação da aplicação heteróloga (com diferentes imunizantes), como por exemplo, receber a vacina da Coronavac na primeira e segunda dose e a da Pfizer na terceira. Apesar de conhecido, o conceito ainda não havia sido posto em prática de forma sistemática. Schwarzbold conta que, antes das pesquisas, a própria comunidade científica tinha dúvida sobre as consequências dessa aplicação, como queda na eficácia ou até mesmo efeitos colaterais graves. No entanto, os resultados dos estudos descartaram essas hipóteses. “As aplicações heterólogas – imunização com diferentes imunizantes – são as mais eficientes. Para o coronavírus, essa aplicação já é recomendada por muitos programas de imunização, inclusive do Brasil”, destaca.

Expediente:

Reportagem: Bernardo Salcedo, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Design gráfico: Luiz Figueiró, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

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