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Quem retrata as pessoas de Santa Maria



Paola Matos – paolapmatos@gmail.com

Olhar atento aos rostos santamarienses e o desejo de conhecer suas histórias: é assim que o jornalista Marcelo de Franceschi Santos, 26 anos, dá voz às personalidades diversas da cidade. Em sua página “Pessoas de Santa Maria”, no Facebook, ele publica as histórias de vida das pessoas que entrevista pelas ruas. Hoje, é a história dele que está sendo contada e, é claro, dentro dos moldes do seu próprio projeto.

TXT: Marcelo, de onde surgiu a ideia de criar o “Pessoas de Santa Maria”?

M: Hmmm, era julho de 2014 e uma amiga minha tinha se mudado pra São Paulo, assim, e a gente olhava bem aquelas fotos do “Humans of New York”, que é um fotógrafo que faz lá em Nova York, e a gente comentava “ah, olha só que legal essa pessoa, essa história” e tal. Eu tava num momento de crise e tava conversando com ela e ela sugeriu “ah, por que tu não faz aí? Tá trabalhando na rádio, tem um pouco de tempo pra fazer”. Ela tinha visto também umas fotos que eu tinha feito numa viagem pra Buenos Aires e pro Uruguai. Aí eu fiquei um pouco em dúvida, né? “Bah, será? Será que vai dar pra fazer, será que consigo fazer?”. Aí comecei, assim, um dia, saí na rua e encontrei uma conhecida minha, eu sempre via ela nas manifestações contra o aumento da passagem e ela aceitou, meio que foi daí que surgiu a ideia.

TXT: Tu esperava toda essa repercussão da página? Porque, um dia, por curiosidade, eu fui olhar a primeira foto que tu postou, e ela teve um enorme repercussão, né?

M: Sim! Eu não esperava isso. Ia fazer pruns amigos meus, esperava no máximo, sei lá, mil pessoas acompanhando, duas mil no máximo, até. Mas aí uns amigos meus começaram a convidar outros amigos e foi muito legal o apoio que eu tive. Mas não imaginava assim, que ia ter uma recepção tão boa… E… Até hoje eu tomo bastante cuidado com o que eu vou escrever, tenho medo até, um pouco, de atrair “hater”, sabe? Gente que comente insultos, ou que vá ali ironizar as pessoas. Sempre apago quando vai alguém metido a engraçadão ou, como é que chamam hoje em dia na internet? Os zoeiros. Até pra ganhar confiança não só da pessoa que eu retratei agora, como dos próximos.

TXT: E, por acaso, um dos objetivos da página é o de dar voz aos mais diversos tipos de pessoas, mostrando o que cada uma tem a dizer? Porque muita gente tem preconceito contra quem é diferente de si, mas não ouve o que essa pessoa tem a dizer, né?

M: É, era um dos objetivos. Tipo, fazer as pessoas se colocarem no lugar do outro, ter um pouco de empatia com o outro e imaginar “ah, como seria comigo?”, “o que eu faria naquela situação?” ou ver ali que tem um ser humano igual a ti, com as mesmas necessidades, que tá passando por outras circunstâncias, tem outra formação histórica. Às vezes as pessoas tem muita intolerância, sabe? Fazer as pessoas se colocarem no lugar do outro. É um exercício que eu espero tá promovendo com isso. Até, por isso, que eu transcrevo a fala da pessoa literalmente, sabe? A forma da fala é importante pra pessoa pensar um pouco na pessoa que tá falando, imaginar a voz. E na fala ali tá o teu repertório, tá um pouco da tua história, das tuas experiências. Também pra combater um pouco do preconceito linguístico, sabe? “Ah se tu fala errado então tu é burro”. Não, não é assim! Todo mundo tem um saber, todo mundo tem uma inteligência, não é só porque fala “errado” gramaticalmente que significa que ela não saiba nada, que ela não mereça nosso respeito.

TXT: O que tu espera a partir de agora, em relação à página? Tu vai continuá-la?

M: É, eu pretendo continuar até publicar as fotos que eu ainda quero, que acho que vai até agosto, setembro, por aí. Em julho completa um ano, né? Então tem algumas fotos que eu quero fazer, mas eu to ficando um pouco cansado, assim, porque é um pouco desgastante, sabe? Tu tem que reouvir toda conversa com atenção, pensar no sentido daquilo, nas consequências daquilo, transcrever. E eu não gosto de colocar só uma frasezinha que vai definir aquela pessoa, raramente isso acontece, sabe? Tem uma escritora nigeriana chamada Chimamanda Ngozi que fala, tipo, que nós somos várias histórias, nós não somos uma só coisa, e é um perigo tu desumanizar o outro contando só uma coisa. E eu também tenho a minha vida, quero fazer um mestrado, doutorado também, então eu quero reunir esse material e fazer um livro com ele pela Lei do Livro da Câmara de Vereadores, que todo ano eles escolhem um livro pra publicar e distribuir gratuitamente. Então espero que isso aconteça porque vai ser um livro feito pelas pessoas de Santa Maria, pago e usufruído por elas, então espero muito que isso aconteça. Não quero ganhar dinheiro com isso.TXT

Marcelo_de_Franceschi

Bastidores.TXT

A página “Pessoas de Santa Maria” pipocou por meses na timeline do meu facebook e a cada nova história contada eu me encantava mais pelo projeto que o Marcelo estava realizando. Foi por entender a importância de cada relato e, principalmente, a importância de alguém registrar esses relatos que propus conhecermos mais de perto o idealizador da página.

Então convidei o Marcelo para conversar comigo sobre seu projeto, e ele prontamente aceitou. Combinamos de nos encontrarmos em um café no centro da cidade, juntamente com a Camila Jardim, que faria a foto para a matéria. Conversamos por mais de 40 minutos. O Marcelo é uma pessoa muito inteligente (o que fica evidente, pelo projeto que realiza) e também muito humana. Tivemos uma conversa recheada de empatia e preocupação com o mundo em que vivemos. O mundo precisa de mais gente assim.

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