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O caminho da espada



Kendô: um treino para moldar a mente e o corpo

Reportagem: Janaína Wille e Melissa Konzen – Fotografia: Amanda Xavier;

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Primeiro, todos se ajoelham e meditam. Essa é a hora de saudar e agradecer por mais um treinamento. Depois, é necessário dar início ao aquecimento. Esticam os braços, alongam as pernas, mexem a cabeça. Só então vestem o Bogu sob o Hakama e pegam a Shinai para treinar os movimentos: golpes, trabalho de pés, agilidade, além da exteriorização de energia por meio do Kiai. Um processo lento e árduo que é característico do Kendô – arte marcial japonesa, cujo significado literal é “o caminho da espada”.

Na UFSM, um grupo de acadêmicos se reúne nas quartas-feiras e sábados para treinar a arte marcial. A equipe foi formada em abril de 2015, quando a Senpai Vanessa Gil se mudou de Rio Grande para Santa Maria, a fim de realizar seu Doutorado em Física. O seu primeiro contato com a modalidade foi ao acaso: enquanto caminhava pelo Instituto Federal de Rio Grande (IFRS), a kendoka viu um cartaz de divulgação e decidiu participar de um treino experimental. “Era muito diferente de tudo o que estou acostumada. Era um monte de gente gritando, batendo. Eu pensei: ‘que coisa louca, vou lá’”, conta Vanessa Gil.

Na bagagem, ela trouxe para a Universidade a paixão pela cultura japonesa e a vontade de seguir os treinamentos. Após divulgar a ideia, formou a primeira turma, com o apoio do projeto Segundo Tempo Universitário, do curso de Educação Física.  Devido ao programa não ter seu edital renovado para o primeiro semestre de 2017, atualmente a atividade é vinculada ao Projeto de Lutas do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM) – que engloba também a Capoeira e o Taekwondo. A parceria consiste em um acordo de concessão do Ginásio Poliesportivo do Colégio. Segundo o professor voluntário, Augusto Pio Benedetti, que atua na área de Educação Física, “a escola está dando oportunidade para que essas atividades pouco incentivadas tenham local de aperfeiçoamento”.

Vanessa, a mais experiente do grupo, pratica a arte do Kendô há três anos. Como líder, possui voz ativa, conduz o treino e passa as instruções aos colegas. Entre os 20 integrantes do projeto, há apenas três mulheres. Em escala estadual, essa proporção não muda muito: elas são apenas dez num universo de 100 praticantes. Para a Senpai, é desafiador comandar uma equipe majoritariamente masculina. “A maioria são homens, infelizmente. Mas eu tento buscar mais meninas”, afirma.

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O Kendô é uma prática psicológica de reflexão, postura e equilíbrio espiritual, apesar da utilização de espada e armadura, além dos gritos que passam a impressão de ser um esporte violento. Desse modo, contribui no aspecto disciplinar e no autoconhecimento dos limites físicos e mentais. O kiai, o ápice do exercício, é o momento de liberação de energia. Embora seja uma atividade que exige dedicação, ela não interfere nos estudos, muito pelo contrário, como atesta o estudante de Música e Tecnologia, Carlos Kerber, que participa do grupo há um ano: “a arte marcial ajuda a manter-se regrado e focado durante o semestre”.

Embora esteja em atividade há pouco tempo, o projeto já conseguiu resultados expressivos. Em março deste ano, o grupo viajou a Suzano (SP) para participar do 35º Campeonato Brasileiro de Kendô. Lá, conquistaram o 3º lugar na categoria Aspirante em Equipes, com destaque para a acadêmica Elis Palazuelos, que ficou em 3ª colocada na categoria Aspirante Feminino. Bernardo Raddatz, um dos kendokas que faturou o prêmio por equipe, ressalta que o desempenho superou as expectativas: “Foi uma surpresa porque não temos Sensei. Então, treinando praticamente sozinhos, já conseguimos resultados”. Ele revela, ainda, que o grupo convida, uma vez por mês, o Sensei Mário Flores, da Associação de Kendô Iaido de Porto Alegre (AKIPA), para participar dos treinamentos. É ele o responsável técnico da equipe perante a Confederação Brasileira de Kendô (CBK).

Mesmo com os bons resultados obtidos, o grupo encontra dificuldades para adquirir os equipamentos necessários. Como o Kendô é uma arte marcial que não visa obtenção de lucro, as atividades são gratuitas. O material que possuem atualmente é fruto de doações que Vanessa conseguiu em Rio Grande. Sem nenhum financiamento, eles se preparam agora para os campeonatos de 2018 e, para isso, dependem de contribuições. Quem tiver interesse em participar do grupo ou fazer doações, pode entrar em contato pelo email: kendo.ufsm@gmail.com ou página no Facebook.

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O que é o Kendô?

Praticado no Japão desde o século XVI, o Kendô mistura técnicas de esgrima com estudos com espada. A vitória tem valor secundário, uma vez que o real objetivo da prática é o crescimento pessoal e o auto aprimoramento. Na arte marcial, o praticante deve golpear seu adversário, quebrando sua postura. Entretanto, ele não deve desperdiçar golpes em vão, nem golpear pontos incorretos. Os alvos principais são: topo da cabeça, garganta, ombros, tórax e lados do peito e a parte de cima das mãos e pulsos. Um golpe é válido quando há ki ken tai – que consiste na união entre demonstrar espírito por meio do Kiai, golpear com a Shinai no lugar certo e com a parte correta da espada, além do movimento do corpo.

GLOSSÁRIO:

Bogu: conjunto de armadura

Hakama: peça de roupa tradicional japonesa

Kendoka: praticante de Kendô

Kiai: liberação de energia por meio da fala

Senpai: aluno mais experiente

Sensei: mestre

Shinai: espada de bambu

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