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Muito mais que música, muito mais que arte



Bruna Homrich – homrichbruna@gmail.com
Diosana Frigo – diosanafrigo@gmail.com
Gabriela Gelain – gabrielagelain@hotmail.com

A Boate do Diretório Central dos Estudantes (DCE), inserida no campo da cultura de resistência, deve ir além do “som legal” e da “cerveja barata” e apresentar-se como um espaço que possa ser pensando politicamente no que tange às lutas do movimento estudantil (ME). É isso que nos mostra o estudante do 9º semestre do curso de Educação Física, Guilherme Sturmer Lovatto, em entrevista concedida à Revista .txt no dia 25 de abril de 2011.

Revista .TXT – O que te faz ir à Boate do DCE nas sextas-feiras em detrimento dos outros espaços culturais da cidade?

Guilherme Sturmer Lovatto – A Boate do DCE deve ser entendida como um ponto de resistência do Movimento Estudantil (ME) frente aos outros espaços culturais da cidade que compreendem que cultura não possui relação política com a realidade social brasileira e santa-mariense e acabam por mercadorizar estas alternativas. Por mais que hoje o DCE também não faça um enfrentamento coerente a essa concepção, pensando politicamente este espaço, vou até lá para reivindicá-lo como espaço de estudantes para estudantes. O som, as pessoas e a cerveja fazem deste espaço essencial às sextas-feiras, embora considere que tal construção deva ser compreendida dentro de uma outra perspectiva.

.TXT – Qual sua postura em relação à Boate do DCE? Você a vê como um local de troca intelectual, de troca de experiências e fomentação de movimentos sócio-políticos ou puramente como uma “boate”?

Guilherme – Hoje, ela é tida somente como uma boate. Isso se manifesta quando escutamos a estudantada falar em Boate do DCE, mas muitas vezes não compreendem a relação que possui com o movimento estudantil. Isso é fruto da atual conjuntura de despolitização e individualismo exacerbado que parte dos processos de burocratização e amoldamento à ordem. E isso, longe de chegar a uma compreensão neutra da realidade que faz a gente se amoldar, pode ser combatido; Se combate com a ação política na realidade, de se utilizar do espaço para problematizar as lutas do ME em Santa Maria no próprio espaço da Boate. Porém, hoje a Boate é gerida e utilizada somente como fonte de recurso financeiro, o que acaba distanciando a Boate de sua ação política frente aos processos de mobilização social.

.TXT – Você pensa que é satisfatório o espaço que o DCE reserva para os artistas locais? O DCE cumpre o papel de incluir socialmente a grande maioria de segmentos culturais existentes em Santa Maria, ou seja, que vão além dos muros da nossa Universidade?

Guilherme – Acho que não. Santa Maria é tida como a “cidade cultura”, mas pouca cultura, no sentido restrito da palavra, se vê por aqui. Não temos uma política que possibilite a construção de uma cultura popular em Santa Maria, mas sim uma política de cultura de massas, que impossibilita a população trabalhadora de se entender enquanto sujeitos históricos de sua construção. Hoje quando se fala em lazer pra juventude, se fala em festas e isso se expressa no próprio DCE. Tem a inserção de bandas locais nele, mas não passa disso. Cultura é muito mais que arte, música ou algo do tipo, mas sim o acumulado histórico de uma determinada organização social. É por isso que precisa se repensar o espaço da Boate do DCE de forma política. E isso não se faz pensando somente na Boate, mas na forma como o movimento estudantil vem sendo construído em Santa Maria. Ou seja, perpassa o local da Boate do DCE e se expande para além de seus marcos, assim como deve ser expandido para a análise da realidade social mundial, brasileira e local.

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