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O que a água levou



É a terceira vez que desisto dela. Vou e volto na esperança de que as coisas mudem. Vivo feliz, faço minhas coisas e… de repente… tudo está embaixo d’água novamente. Via todos os dias o rio descer e subir, assim como minha ansiedade. Pelo apego nós nos submetemos a coisas que nos fazem mal. Aquela casa tinha todas minhas coisas e memórias. Tudo se foi junto com a água como se fosse nada. 

Tem gente que ainda não acredita nas mudanças climáticas. Quero ver elas sentirem na pele, na carne. Quando perdi tudo também não quis acreditar, mas depois tive que encarar a realidade. 

Dormir em alojamento não é pra qualquer um. Sem privacidade, todos vivendo a mesma situação, mas ninguém se conhece. Nem eu mesma me conhecia, quem dirá aquelas pessoas. Ganhei um colchão, cobertores e roupas de doação. Estava frio e tive sorte de tudo aquilo me servir. Às vezes as coisas não cabem em todos. Assim como a culpa do rio ter subido e ter nos deixado sem teto. Essa culpa ninguém quer que sirva. 

Nenhuma das empresas que jogam resíduos no rio se voluntariaram para nos ajudar. Nenhuma delas se culpabiliza por não termos mais onde morar. E nenhuma delas vai mudar sua forma de agir com a natureza. Nenhuma delas foi afetada com isso tudo diretamente, assim fica fácil não se importar. 

As coisas estão voltando ao normal aos poucos. Com o tempo a gente vai aprendendo a não se apegar tanto ao material. Aqui no norte do estado foi mais tranquilo que na região metropolitana. Mesmo longe conseguimos compartilhar o mesmo sentimento, talvez de formas diferentes. Mas é bom saber que não estamos sozinhos. 

 

Por Raquel Teixeira Pereira | Bolsista PET Educom Clima

*O Rio Grande do Sul ultrapassou a marca de 2 milhões de pessoas afetadas em 446 municípios. Os números oficiais também mostravam que 537 mil tiveram que deixar suas casas e 81 mil estavam alojadas em abrigos. Essa crônica foi inspirada na vivência de uma pessoa afetada pela enchente.

Saiba Mais

Inundações no Rio Grande do Sul: a cronologia da tragédia – BBC News Brasil

Ansiedade, transtorno e depressão: o grito silenciado da saúde mental pós-enchente no RS – Brasil de Fato 

Chuvas no RS: ‘Perdi tudo, não quero ir para casa’

À espera da chave: atingidos seguem sonhando com um novo lar um ano após enchente no RS que destruiu 100 mil casas 

 

“Em outubro, após a terceira enchente, decidi morar com a minha tia por um curto período. No final do ano, vi o rio subir e descer tantas vezes, e agora a minha casa está completamente embaixo d’água. Não quero mais voltar para lá, alugarei outra” 

Depoimento de uma vítima da enchente para o site de notícias UOL 

 

Nível do rio Uruguai subiu quase 13 metros | Imagem: Vinícius Chequim/Cidade Regional
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