
Por Patrícia Kolling*
“Não haverá futuro possível sem os povos indígenas no centro das decisões globais. Ignorar os povos indígenas é comprometer qualquer chance real de enfrentar a crise climática”, essa é a essência da primeira NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) indígena, uma decisão política elaborada na Pré-COP Indígena, um encontro que reuniu 30 organizações indígenas da Bacia Amazônica e de todos os biomas do Brasil, entre 2 e 5 de junho, em Brasília (DF).
O documento, conforme notícia, exige que os Estados-membros da Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) reconheçam a proteção dos territórios indígenas como ação climática prioritária. Também defende a criação de zonas livres de exploração extrativista em terras indígenas e a incorporação dos saberes tradicionais como estratégia legítima de restauração ambiental.
Como o evento citado acima, outros tantos têm acontecido no Brasil para a organização da participação dos movimentos sociais na COP-30 (30ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climática), que pela primeira vez acontece no Brasil, em novembro de 2025, em Belém, Pará. O site Amazônia Real destaca que os movimentos sociais e organizações da sociedade civil da Amazônia, da América Latina e do mundo têm protagonizado uma mobilização histórica para garantir que as vozes dos territórios mais afetados pela crise climática sejam ouvidas nos espaços de decisão do evento. Além de serem ouvidos, eles exigem participar das decisões globais que estarão acontecendo durante o evento.
Paralelamente, a conferência mundial acontecerá a Cúpula dos Povos rumo à COP30, com a participação de 700 entidades representando indígenas, ribeirinhos, quilombolas, população negra, juventudes periféricas. Mais de 15 mil pessoas são esperadas na Cúpula dos Povos. “Queremos discutir soluções reais para os problemas ambientais e sociais sem nos limitarmos ao debate técnico, como as relacionadas à transição energética justa ou infraestrutura de matriz energética” destaca Iury Paulino, coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
O diretor do MPEG (Museu Paraense Emilio Goeldi, Nilson Gabas Júnior, reforça que as comunidades tradicionais da Amazônia precisam ser ouvidas e participar ativamente das decisões. “Não dá para falar de meio ambiente nem reconhecer a biodiversidade sem falar das pessoas que moram na amazônia e ajudam a preservá-la”, destaca o pesquisador.
Além das atividades previstas no campus da Universidade Federal do Pará, em Belém, a Cúpula dos Povos também pressiona por metas climáticas mais ambiciosas e pelo fim da presença de lobistas dos combustíveis fósseis nas COPs . Essas pautas são complexas, e mais do que citadas precisam ser debatidas pelos veículos de comunicação jornalísticos. Grandes interesses estão em jogo, e falar em profundidade sobre o assunto exige coragem.
Como diz texto da Folha de S. Paulo, a Cúpula dos Povos cobra decisões eficazes para o enfrentamento da crise climática, além de retomar o protagonismo da sociedade civil.
Enfim, espera-se uma COP diferente, e a imprensa, principalmente os veículos focados nas questões ambientais, tem destacado este grito dos povos da floresta para fazerem parte de forma efetiva das decisões mostrando, que são os mais afetados pelas mudanças climáticas. Na grande imprensa, as vozes dos movimentos sociais ainda está tímida. Mas, ainda há tempo para que a imprensa, se prepare para cobrir o evento com a criticidade e complexidade necessária. Pela primeira vez o evento acontece em solo amazônico, o que já é diferencial, e os veículos de comunicação podem fazer uma cobertura que vá além das reuniões das grandes cúpulas e repercuta as pautas e reivindicações dos povos tradicionais.
*Professora do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Araguaia. Jornalista, mestre e doutora em Comunicação. Integrante do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).
**Publicado originalmente no Observatório de Jornalismo Ambiental.