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Ativismo climático na era digital



O uso das redes sociais como ferramenta para a mobilização ambiental

Na semana em que se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente, é muito provável que você tenha se deparado com postagens de temas como sustentabilidade, crise climática ou preservação ambiental. Isso porque em tempos de emergência ambiental, o ativismo climático encontrou ferramentas poderosas: as redes sociais. Plataformas digitais como Instagram, X (antigo Twitter), TikTok e YouTube se tornaram espaços para que ativistas se conectem com pessoas em todo o mundo, ampliem a conscientização sobre a crise climática e mobilizem ações. Além de dar visibilidade a causas, elas também podem ser usadas para disseminar informações, divulgar eventos e coletar dados relevantes para a gestão de desastres climáticos. Um estudo conduzido pelo Programa de Comunicação sobre

Mudanças Climáticas de Yale, em parceria com a Meta, revelou que a maioria dos entrevistados em 108 dos 110 países expressa preocupação com as mudanças climáticas, destacando o papel das redes sociais na conscientização global.

O professor e doutor em Direito, Rafael Santos, é pesquisador na Universidade Federal de Santa Maria. Ele explica que o ativismo digital é a forma contemporânea de mobilização social que se vale das tecnologias da informação. “Com o uso da internet e das redes sociais como instrumentos para reivindicar direitos, denunciar injustiças e influenciar decisões políticas, não substitui o ativismo tradicional, mas amplia seu alcance e agilidade”.

Essa ampliação acontece por meio de  vídeos curtos, lives, threads ou newsletters. Um dos maiores exemplos dessa força fica visível   no movimento #FridaysForFuture, uma ação liderada e organizada por jovens que começou em agosto de 2018, depois que Greta Thunberg e outros ativistas se sentaram em frente ao parlamento sueco todos os dias letivos durante três semanas para protestar contra a falta de ação em relação à crise climática. Ela postou o que estava fazendo no Instagram e no Twitter e logo viralizou.

Campanhas de organizações como o “Fundo Brasil”, com a ação “O mundo que queremos”, e protestos organizados por grupos como o “Greenpeace”, com as hashtags #GrevePeloClima e #GreveGlobalPeloClima, também mostram como as redes sociais potencializam a mobilização social. Essas ações digitais ajudaram a construir um senso de urgência compartilhado, pressionando autoridades, mobilizando comunidades e gerando cobertura midiática internacional.

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Vozes indígenas e resistência

“As redes sociais são hoje uma arena essencial para a disputa de sentidos em torno das pautas ambientais. Elas permitem que grupos tradicionalmente marginalizados — povos indígenas, comunidades ribeirinhas, coletivos de jovens — ganhem visibilidade e denunciem retrocessos ambientais em tempo real”, comenta o professor Rafael Santos.

A exemplo disso, temos a professora e ativista indígena, Ingrid Sataré Mawé, que utiliza do espaço da internet para dar visibilidade a seus posicionamentos e lutas. Ela comenta que a internet se tornou ferramenta essencial de denúncia, escuta e conexão entre os povos: São consideradas ferramentas importantes pela agilidade. “Além de que nos possibilita conhecer grande parte dos povos que têm acesso à internet, podendo compartilhar nossa cultura e falar da nossa tarefa enquanto guardiões do planeta”.

Brasília – Duiwe Orebewe Xavante fala sobre a comunicação social dos indígenas – Foto Joédson Alves/Agência Brasil

Fake News

A propagação de desinformação e fake news são problemas constantes do mundo moderno pelo fato de se espalharem muito rapidamente pela internet e influenciarem muitas pessoas em assuntos como política, economia, ciência e saúde. Com as questões climáticas não é diferente. O combate à desinformação é uma preocupação crescente que muitos especialistas e ativistas têm enfrentado. “A gente sabe que os grupos que produzem violência, que produzem fake news, usam robôs e utilizam da automação  para disseminar seus discursos e nós, muitas vezes, não damos conta de combater tudo isso, porque nós fizemos uma escolha realmente de utilizar a força humana de uma forma muito verdadeira para estar ocupando esse espaço”, destaca Mawé.

A percepção sobre as mudanças climáticas é outra questão que sofre impacto neste cenário. Uma reportagem do jornal “Libération” revela que a exposição intensiva de jovens às redes sociais tem influenciado negativamente esse campo. Segundo as pesquisas citadas, pessoas entre 18 e 29 anos se informam principalmente por redes como TikTok e Instagram, mas muitas vezes são expostas à desinformação — 62% dos influenciadores, por exemplo, não checam suas fontes. Isso tem levado a manifestações de negacionismo climático entre jovens de 16 a 24 anos.

É necessário, portanto, nos informarmos de forma crítica e responsável. Como destaca o professor Santos, o  primeiro passo é se informar com responsabilidade. “Engajamento ambiental requer consciência crítica, base científica e compromisso ético com a verdade. Compartilhar dados verificados, ouvir especialistas e amplificar vozes dos territórios afetados são atitudes fundamentais.”

Ativismo ou performance?

Com o crescimento e popularização da pauta ambiental na internet, surgem as empresas e personalidades que tentam ocupar e se apropriar desse espaço de visibilidade e com isso surgem problemas como o  greenwashing – termo que se refere a marcas que se apropriam do discurso ecológico para parecerem sustentáveis sem de fato mudar suas práticas.

A professora Mawé lembra que muitos ativistas acabam cedendo às grandes empresas que praticam greenwashing. “Tem gente que pensa só na própria promoção como figura pública e esquece do nosso objetivo maior, que é o coletivo: enfrentar a emergência climática”. Para combater a “lavagem verde” é preciso   vigiar   todos os dias. “Nas redes, estamos sempre expostos e surgem muitas ofertas para benefício individual. Por isso, lembramos sempre que nossa luta é coletiva, não só por nós, mas também pelas próximas gerações que vão sofrer se não agirmos agora.”

Outro desafio é transformar o engajamento digital em ação concreta. Não se pode negar o impacto das redes na conscientização. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) revelou que 70% dos brasileiros se informam sobre questões ambientais por sites da internet; 67% pelo Whatsapp; e 66% por outras redes sociais, e 52% deles se declaram muito preocupados com as mudanças climáticas. Mas é necessário relembrar que curtidas e compartilhamentos não são mudanças estruturais.

Cientistas afirmaram no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – Mudança Climática 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade que pessoas e ecossistemas mais vulneráveis são os mais impactados pelas mudanças climáticas. Portanto, para alcançar a justiça climática, isto é, reconhecer que as mudanças climáticas são um problema e que têm impactos muito diferentes sobre as pessoas, dependendo de seu status social, situação econômica e outros fatores, é necessário também estar em contato na rua, fazendo as cobranças que são necessárias e não ficando apenas no âmbito da internet de uma forma muito superficial. Afinal, como cita o ativista político brasileiro, Chico Mendes: “Ecologia sem luta de classes é jardinagem”.

Entretanto, é importante relembrar que se as redes sociais forem utilizadas de maneira eficaz, diversas estratégias de ativismo digital podem ser adotadas para ampliar a conscientização sobre as questões climáticas e contribuir de forma concreta para o futuro do planeta. “É verdade que o engajamento digital, por si só, não substitui a formulação técnica de políticas públicas, mas ele pode ser decisivo para colocar um tema na agenda, influenciar a opinião pública e acionar mecanismos institucionais.

Quando bem articulado com o trabalho de organizações e parlamentares, o ativismo digital tem potencial concreto de transformar o debate em norma”, argumenta o pesquisador Rafael Santos.

Por Gabriela de Menezes | Integrante do PET Educom Clima. 

Brasília – José Paulo Sampaio, da rede Wayuri, fala sobre a comunicação social dos indígenas – Foto Joédson Alves/Agência Brasil
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