A Linguagem Simples, ou Plain Language, é uma abordagem de comunicação que busca tornar textos e informações mais acessíveis, claros e fáceis de entender. Sua aplicação no campo de interface e experiência do usuário (UX) é cada vez mais relevante, pois contribui diretamente para uma melhor usabilidade e acessibilidade aos usuários em ambientes digitais.
Breve Contexto Histórico da Linguagem Simples
O movimento da linguagem simples começou a ganhar força no século XX, especialmente a partir dos anos 1940 no Reino Unido e nos Estados Unidos, como uma resposta à complexidade excessiva de documentos oficiais e jurídicos. O objetivo era garantir que todos, independentemente de seu nível de escolaridade, pudessem compreender informações essenciais para a vida em sociedade. Nos anos 1970, o governo dos Estados Unidos intensificou esse movimento, exigindo que documentos públicos fossem menos burocráticos e mais compreensíveis. Em 1978, o presidente Jimmy Carter emitiu ordens executivas para tornar regulamentos federais mais claros. O marco legal mais recente foi a Lei da Escrita Simples de 2010, assinada pelo presidente Barack Obama, que tornou obrigatória a redação clara em documentos federais.
Dessa forma, a linguagem simples se consolidou como um direito civil, defendendo o direito de todos de entender as informações que impactam seu cotidiano. Hoje, está presente em mais de cinquenta países e em diversos idiomas, sendo reconhecida como uma prática fundamental para a cidadania e a inclusão.
Relevância da Linguagem Simples no Design de Interfaces Digitais
No contexto do design de interfaces digitais, a linguagem simples é um ponto chave para criar experiências mais intuitivas. Interfaces digitais — como sites, aplicativos e sistemas — são pontos de contato fundamentais entre pessoas e serviços. Quando a comunicação é confusa, técnica ou excessivamente formal, o usuário pode se sentir perdido, frustrado ou até mesmo excluído.
A aplicação da linguagem simples em UX pode trazer uma série de benefícios como:
- Facilita a localização e compreensão de informações, reduzindo o tempo e o esforço do usuário para realizar tarefas.
- Aumenta a acessibilidade, especialmente para pessoas com menor escolaridade, deficiência cognitiva ou que não dominam o idioma principal da interface.
- Reduz erros de uso, dúvidas e a necessidade de suporte, tornando a experiência mais fluida e agradável.
- Constrói confiança e aproxima a marca do usuário, ao adotar um tom mais humano e empático.
Sendo assim, a Linguagem Simples acaba se tornando uma estratégia de design centrada no usuário, que considera suas necessidades, limitações e contexto de uso.
Microinterações, Feedbacks e Acessibilidade
Além do texto claro, a experiência do usuário é profundamente impactada por micro interações e feedbacks visuais. Micro interações são pequenas respostas do sistema a ações do usuário, como animações, mudanças de cor em botões, notificações e transições suaves. Elas funcionam como “apertos de mão digitais”, orientando o usuário, confirmando ações e transmitindo informações de objetiva e rápida, sem sobrecarregar a interface.
Por exemplo, ao clicar em um botão de envio, uma animação sutil ou uma mensagem de “Enviado com sucesso” fornece feedback imediato, reduzindo a incerteza e tornando a navegação mais fluida. Durante o carregamento de uma página, um ícone animado ou uma mensagem simples como “Carregando, por favor, aguarde…” mantém o usuário informado, evitando frustrações ou esperas desnecessárias.
Esses detalhes, quando alinhados às diretrizes da linguagem simples, diminuem a fricção existente na interação humano-computador. Pessoas com deficiência, baixa escolaridade ou que não dominam o idioma principal da interface se beneficiam de instruções objetivas, feedbacks claros e ausência de jargões. A atenção aos detalhes e à clareza textual contribui para uma experiência mais democrática.
Aplicando a Linguagem Simples em Interfaces Digitais
Para alinhar sua interface digital às diretrizes de linguagem simples, é importante seguir alguns passos práticos:
- Conheça seu público
Antes de escrever, compreenda quem são seus usuários, quais são suas necessidades, expectativas e nível de familiaridade com o tema. Isso ajudará a escolher o vocabulário e o tom adequados. - Use frases curtas e objetivas
Prefira frases com até 20 ou 25 palavras, evitando períodos longos e complexos. Isso facilita a leitura e a compreensão, especialmente em telas pequenas. - Escolha palavras comuns e evite jargões
Utilize termos do dia a dia e evite palavras técnicas ou estrangeirismos. Se o uso de termos técnicos for inevitável, explique-os de forma clara e simples. - Estruture o conteúdo de forma lógica
Organize as informações de modo que o usuário encontre rapidamente o que procura. Use títulos, subtítulos, listas e destaques para facilitar a navegação e a escaneabilidade do texto. - Use voz ativa
Prefira a voz ativa à passiva, pois ela torna as frases mais diretas e fáceis de entender. Por exemplo: “Preencha o formulário” em vez de “O formulário deve ser preenchido”. - Teste com usuários reais
Realize testes de usabilidade e peça feedback sobre a clareza das informações. Ajuste o conteúdo conforme as dificuldades identificadas. - Humanize a comunicação
Adote um tom acolhedor e empático, mostrando que a interface foi pensada para ajudar o usuário, não para dificultar sua vida.
Exemplo Prático
Considere um aplicativo de pagamentos. Em vez de “Efetuar a transação bancária”, prefira “Transferir dinheiro”. Ao clicar em “Transferir”, o botão pode mudar de cor e exibir uma animação de carregamento, seguida de uma mensagem simples: “Pronto! Sua transferência foi feita”. Se houver erro, uma mensagem clara como “Não foi possível transferir. Tente novamente.” deve aparecer imediatamente.
Conclusão
A Linguagem Simples, combinada com micro interações bem projetadas, feedbacks claros e uma hierarquia bem estruturada, torna-se uma poderosa aliada na inclusão digital. Nunca foi tão fácil fornecer serviços e transmitir conteúdos de maneira acessível. Ao seguir essas diretrizes, designers e desenvolvedores podem criar experiências mais humanas, beneficiando tanto os usuários quanto as organizações, que ganham sua fidelidade ao oferecer um bom serviço.
Comprometer-se com a clareza e a interação intuitiva se torna, acima de tudo, um ato de respeito ao usuário.
Referências
https://www.thelegaldesigner.com.br/post/dia-mundial-da-linguagem-simples-e-sua-import%C3%A2ncia-para-o-legal-design
https://comunicasimples.com.br/linguagem-simples/
https://brasil.uxdesign.cc/a-evolu%C3%A7%C3%A3o-da-esp%C3%A9cie-e-a-linguagem-simples-c1596286be49
https://prensali.substack.com/p/linguagem-simples
https://gtindependence.com/pt/o-que-%C3%A9-linguagem-simples-e-como-ela-melhora-a-acessibilidade/
https://www.gov.br/gestao/pt-br/acesso-a-informacao/estrategia-e-governanca/estrutura-de-governanca/Manualdelinguagemsimples_comoplanejardesenvolveretestartextosquefuncionam.pdf
Autor: Enzo Zanini Becker