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A Automação Invisível: como fluxos inteligentes estão redesenhando o trabalho sem que a gente perceba



Na atual era da transformação digital, observa-se uma revolução silenciosa que está redefinindo fundamentalmente a natureza do trabalho contemporâneo. Enquanto debates sobre robôs e inteligência artificial dominam manchetes, uma transformação mais sutil e penetrante ocorre nos bastidores das organizações: a automação invisível por meio de fluxos inteligentes que operam sem alarde, redesenhando processos de trabalho de forma quase imperceptível.

Diferentemente da automação industrial tradicional, que substitui tarefas físicas por máquinas visíveis, a automação contemporânea manifesta-se através de sistemas digitais que integram aplicações, processam dados e executam tarefas complexas sem intervenção humana direta. Segundo a Pipefy (2024), a automação low-code minimiza a quantidade total de programação necessária para automatizar um processo ou fluxo de trabalho. Com ela, as equipes de negócios usam uma interface visual para criar fluxos de trabalho e automações por conta própria, em vez de depender de um desenvolvedor. Plataformas como n8n, Zapier e Microsoft Power Automate permitem que profissionais não técnicos criem fluxos automatizados que conectam diferentes sistemas, transformando dados entre aplicações e executando sequências de ações baseadas em triggers específicos.

Este fenômeno tem se manifestado em diversos setores da economia, configurando um ecossistema de interações automatizadas que operam nos bastidores das organizações. No departamento de recursos humanos, sistemas automatizados processam currículos, agendam entrevistas e geram relatórios de desempenho sem que candidatos ou funcionários percebam a mediação algorítmica. No setor financeiro, algoritmos inteligentes que simulam o comportamento humano de negociação tomam decisões independentes baseadas na análise da estratégia, atitude e linguagem do oponente. Na área de marketing, ferramentas automatizadas segmentam audiências, personalizam campanhas e otimizam anúncios baseados em comportamentos de usuários, criando experiências aparentemente humanas mas fundamentalmente algorítmicas.

A invisibilidade desses processos constitui simultaneamente sua maior força e principal desafio. Por um lado, a automação silenciosa elimina gargalos operacionais, reduz custos e permite que profissionais se concentrem em atividades estratégicas de maior valor agregado. Organizações que implementam automação low-code reportam aumentos de produtividade significativos em processos administrativos, enquanto reduzem erros humanos em tarefas repetitivas.

Contudo, essa invisibilidade também gera preocupações significativas relacionadas à transparência e controle organizacional. Conforme destacado pela SciELO Brasil (2024), a transparência identifica o conhecimento mínimo do usuário sobre o funcionamento do sistema, enquanto a explicabilidade significa tornar inteligível as razões das decisões tomadas. Quando processos críticos operam em “caixas pretas” algorítmicas, gestores enfrentam dificuldades para compreender como decisões são tomadas, identificar pontos de falha e garantir conformidade regulatória. A ausência de visibilidade pode resultar em dependência tecnológica excessiva, onde organizações perdem capacidade de intervir manualmente quando sistemas automatizados falham.

Além disso, a proliferação de automações invisíveis levanta questões éticas e trabalhistas complexas. Funcionários podem executar tarefas sem compreender plenamente como algoritmos influenciam suas decisões, enquanto a coleta e processamento automatizado de dados pessoais ocorre sem transparência adequada. Como observado pela Talent Academy (2023), a automação tem o potencial de aprofundar as desigualdades sociais, ampliando a lacuna entre os trabalhadores qualificados e os menos qualificados. A transformação gradual de funções profissionais através de automação incremental pode resultar em desqualificação silenciosa, onde competências humanas são progressivamente substituídas sem reconhecimento explícito.

Para mitigar esses desafios, organizações precisam desenvolver estratégias que equilibrem eficiência operacional com transparência e controle humano. Isso inclui documentar fluxos automatizados, estabelecer protocolos de auditoria algorítmica e capacitar funcionários para compreender e supervisionar sistemas automatizados. Políticas de governança digital devem garantir que a automação complemente, ao invés de substituir integralmente, o julgamento humano em decisões críticas.

A perspectiva é que a automação invisível continuará expandindo, tornando-se ainda mais sofisticada com avanços em inteligência artificial e aprendizado de máquina. Segundo a McKinsey & Company (2017), até 30% das horas trabalhadas em todo o mundo poderão ser automatizadas até 2030, dependendo da velocidade de adoção, com o tempo gasto com habilidades tecnológicas avançadas no ambiente de trabalho aumentando em 50% nos Estados Unidos. O desafio fundamental não é resistir a essa transformação, mas sim desenvolvê-la de forma responsável, garantindo que fluxos inteligentes sirvam para amplificar capacidades humanas enquanto preservam transparência, controle e dignidade do trabalho. Somente através dessa abordagem consciente e deliberada poderemos aproveitar os benefícios da automação invisível sem comprometer os valores fundamentais que definem o trabalho humano.

 

Referências

MCKINSEY & COMPANY. Jobs lost, jobs gained: What the future of work will mean for jobs, skills, and wages. 2017. Disponível em: https://www.mckinsey.com/featured-insights/future-of-work/jobs-lost-jobs-gained-what-the-future-of-work-will-mean-for-jobs-skills-and-wages/pt-br. Acesso em: 11 jul. 2025.

PIPEFY. Automação low-code: a “bala de prata” para os negócios? 2024. Disponível em: https://www.pipefy.com/pt-br/blog/automacao-low-code/. Acesso em: 11 jul. 2025.

SCIELO BRASIL. Inteligência artificial: promessas, riscos e regulação. 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdp/a/n89PjvWXTdthJJKwb6TtYXy/. Acesso em: 12 jul. 2025.

TALENT ACADEMY. Como a automação e a IA estão mudando o mundo do trabalho. 2023. Disponível em: https://talentacademy.com.br/como-a-automacao-e-a-ia-estao-mudando-o-mundo-do-trabalho/. Acesso em: 12 jul. 2025.

Autor: Leonardo Mattos



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