No jogo “Detroit: Become Human”, produzido pela Quantic Dream em 2018, robôs humanoides foram desenvolvidos com o objetivo de substituir pessoas em tarefas braçais e repetitivas. Neste sentido, o avanço da tecnologia naquele mundo distópico permitiu que uma parcela relevante dos processos fossem automatizados por robôs. Fora da ficção e de forma menos impactante, há uma crescente no uso deste tipo de ferramenta, o que conhecemos como Robot Process Automation (RPA). Através de tecnologias deste tipo, a humanidade caminha para um futuro parecido com o visualizado pelo jogo, uma vez que torna-se possível realizar tarefas simples e repetitivas por meio de códigos e fluxos programados, também chamados de robôs.
Sob essa ótica, enxergamos tecnologias RPA como agentes de software que agem como humanos ao interagirem com sistemas. Assim, eles imitam a forma com a qual um indivíduo usaria uma aplicação, seguindo um caminho estabelecido e realizando tarefas que fazem parte dos processos do negócio em questão [1]. Este tipo de software é comum em áreas que envolvem processos financeiros, atendimento ao cliente e e-commerce, sendo que exemplos de tarefas que podem ser executadas por ele são a transferência de dados entre aplicações, web scraping e automação de listas de emails. Sendo assim, RPA é utilizado em tarefas bem estruturadas, repetitivas e baseadas em regras, uma vez que o processo deve estar bem definido antes de ser automatizado.
De acordo com um estudo realizado pela BotCity, empresa responsável por produzir e manter um dos mais populares frameworks de RPA, 66% das empresas consultadas na América Latina pretendem aumentar o investimento nessa tecnologia para ganhar escala. Desta forma, entende-se que a automatização de processos por robôs possui grande potencial de crescimento, devido ao interesse das empresas em melhorar seu fluxo de trabalho através desta ferramenta. Isto é justificado pela quantidade de benefícios que a implementação de uma tecnologia RPA gera à empresa, como a redução dos custos, a potencialização do trabalho da equipe e a diminuição de erros.
Ao adotar tecnologias baseadas em automação de processos por robôs, a organização libera seus funcionários de tarefas repetitivas e muitas vezes tediosas, reservando mais tempo para a criatividade e tomada de decisões. Igualmente, ela economiza recursos ao alocar seus funcionários em tarefas mais complexas e importantes e diminui a quantidade de erros humanos que podem surgir destas pequenas tarefas repetitivas [2]. Outro ponto que merece destaque é a melhora da experiência do cliente, que recebe respostas mais rápidas devido à programação do robô que prepara-o para resolver algumas questões de maneira automatizada. Todavia, é necessário estar atento a falhas de segurança: mesmo que tudo fique registrado durante a execução do robô, algum erro em sua execução pode prejudicar toda a operação de um negócio.

Existem várias ferramentas e linguagens que apoiam o desenvolvimento de aplicações RPA. As soluções variam de acordo com a experiência do usuário, uma vez que é possível programar seus próprios robôs ou utilizar plataformas low code com interações prontas para usuários que não tem familiaridade com programação. Dentre as linguagens mais utilizadas estão C/C++, Python e Java [3], relevantes devido à popularidade que possuem e à variedade de bibliotecas referentes à automação de processos que se tem disponível ao programar nelas. Neste sentido, Selenium segue sendo uma importante ferramenta para a automação de processos pelo navegador, assim como Botcity (framework baseado em Selenium) e Playwright. Estes frameworks contam com funções prontas para interagir com elementos web, como clicar em botões, escrever em barras de pesquisa e utilizar teclas específicas como Enter e Tab. Para aqueles que preferem uma plataforma de uso simples e que integre toda a operação, é recomendável utilizar ferramentas low code prontas para iniciar a automatização dos processos por robôs sem precisar mexer em código, dentre as principais ferramentas estão UiPath, Automation Anywhere e Blue Prism [4].
Neste panorama, UiPath é famoso por ser extremamente completo, oferecendo soluções em automação de área de trabalho, automação da web, automação de GUI, captura de tela, automação de mainframe, automação do Excel, entre outras. Já Automation Anywhere possui poucos produtos, porém, atua em diversos setores como serviços financeiros, saúde, seguros, ciências biológicas, manufatura, setor público e telecomunicações, o que também serve para comprovar a flexibilidade no uso de RPA. Por fim, o diferencial da Blue Prism é fornecer recursos como Escalabilidade, Resiliência, Conformidade e Segurança e suportar diversas plataformas.
Ademais, vale ressaltar que a RPA é bem diferente da inteligência artificial. A primeira simula a interação de um humano com o computador, seguindo estritamente o que foi programada para fazer, enquanto a IA combina a automação com análise cognitiva, usufruindo de aprendizado de máquina e processamento de linguagem natural para gerar hipóteses e formular respostas. Contudo, IA e RPA são ferramentas que se complementam muito bem, uma vez que a IA pode integrar o processo de RPA para lidar com caminhos e casos de uso mais completos e complexos [5].
Diante do exposto, automatizar processos com RPA nem sempre é uma tarefa fácil, uma vez que a complexidade do desenvolvimento depende muito da qualidade das aplicações com as quais o robô deve interagir. Para evitar problemas, é importante mapear detalhadamente os caminhos a serem percorridos pelo agente, incluindo caminhos de possíveis erros. Desta forma, é possível antecipar problemas e evitar perdas operacionais ao utilizar recursos de RPA.
Igualmente, os avanços tecnológicos neste campo de pesquisa levantam questões éticas e tecnológicas. Quais tarefas devem ser realizadas por robôs e quais devem ser realizadas por humanos? Estariam os robôs tomando lugares de trabalhadores reais? De acordo com van der Aalst e Bichler, professores doutores da Universidade Técnica de Munique (TUM), ao integrar tecnologias como inteligência artificial e aprendizado de máquina ao uso de RPA, os robôs aprendem tarefas mais complexas e menos regradas. Da mesma forma com a qual humanos aprendem com um instrutor, os robôs poderiam aprender acompanhando humanos realizando determinadas tarefas. Neste sentido, estamos longe de ser substituídos pelos agentes de software e vivermos um cenário parecido com Detroit: Become Human, todavia, é possível que mais e mais trabalhos sejam realizados por meio da RPA com o aprimoramento desta promissora tecnologia e sua integração com outros tipos de ferramentas.

Referências
[1] WILLCOCKS, Leslie P.; LACITY, Mary C.; CRAIG, Andrew. Robotic process automation: contemporary themes and challenges. Journal of Information Technology Teaching Cases, v. 9, n. 2, p. 17-28, 2019. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0166361519304609. Acesso em: 2 set. 2025.
[2] BONES, Anaíra. O que é RPA (Robotic Process Automation) e como funciona? Zendesk Blog, 13 jun. 2024. Disponível em: https://www.zendesk.com.br/blog/o-que-e-rpa-robotic-process/. Acesso em: 2 set. 2025.
[3] BEST programming languages for RPA UiPath. The Knowledge Academy, 16 maio 2024. Disponível em: https://www.theknowledgeacademy.com/blog/best-programming-languages-for-rpa-uipath/. Acesso em: 2 set. 2025.
[4] AS 7 Principais Ferramentas de Automação Robótica de Processos (RPA). Data Science Academy, 27 mar. 2023. Disponível em: https://blog.dsacademy.com.br/7-principais-ferramentas-de-automacao-robotica-de-processos_rpa/. Acesso em: 2 set. 2025.
[5] IBM. O que é a Automação Robótica de Processos (RPA)? IBM, c2024. Disponível em: https://www.ibm.com/br-pt/think/topics/rpa. Acesso em: 2 set. 2025.
[6] SANTOS, F. C.; et al. Robotic Process Automation: a case study in the tax area of a shared services center. JISTEM – Journal of Information Systems and Technology Management, v. 18, e202118002, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jistm/a/m7cqFWJPsWSk8ZnWRN6fR5m/?format=html&lang=en. Acesso em: 2 set. 2025.
[7] VAN DER AALST, W. M. P.; BICHLER, M.; HEINZL, A. Robotic Process Automation. Business & Information Systems Engineering, v. 60, p. 269–272, 2018. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s12599-018-0542-4. Acesso em: 2 set. 2025.
Autor: Gustavo Pott de Oliveira