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Mulheres Sustentáveis e Transformadoras: Jaqueline Ineu Golombieski e o ODS 6




A Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu em 2010 o acesso à água limpa e segura como um direito humano essencial. No entanto, grande parcela da população mundial não têm acesso sequer a um saneamento básico de qualidade. Estima-se que 1 em cada 10 pessoas (785 milhões) ainda carece de serviços básicos, incluindo os 144 milhões que bebem água não tratada, segundo o estudo Progress on drinking water, sanitation and hygiene: 2000-2017: Special focus on inequalities” (Progressos sobre água, saneamento e higiene: 2000-2017: Foco especial nas desigualdades), promovido pelo  Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

A falta de saneamento afeta principalmente os países mais pobres e, além de causar impactos ambientais graves, como a poluição hídrica, ele promove surtos de enfermidades derivadas da falta de tratamento de água. Diarreia, esquistossomose, dengue, leptospirose, febre tifóide, essas e outras doenças semelhantes causam a morte de milhares de pessoas anualmente. Pensando nessa problemática, a ONU estabeleceu o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 6, que prevê água potável e saneamento para todos, na Agenda 2030.

“Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas, e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente.”

Artigo 3 do ODS 6

Diante desse contexto, o quadro Mulheres Sustentáveis e Transformadoras voltado ao ODS 6 traz a Profa. Jaqueline Ineu Golombieski, coordenadora do projeto “Avaliação de parâmetros físicos, químicos e biológicos de água de abastecimento na região noroeste do estado do RS”, que atua diretamente com esse objetivo. A docente ministra disciplinas para o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFSM-FW e orienta no Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (PPGCTA). 

O projeto de Golombieski iniciou-se em 2017 e tem como objetivo desenvolver ações de conscientização e que promovam o acesso à informação sobre a qualidade da água e a potabilidade de águas subterrâneas de abastecimento (poços tubulares) de importância ambiental, econômica e sanitária na região noroeste do Rio Grande do Sul. A ideia surgiu com base em uma demanda de outro projeto. 

A professora coordenava, e ainda coordena, o projeto “Monitoramento de água em viveiros de piscicultura”. Em uma das visitas de campo desse projeto, um proprietário rural de Taquaruçu do Sul pediu para que eles fizessem a análise da água de uma nascente. Eles atenderam esse pedido e a partir daí surgiu a ideia de criar um projeto especialmente para essas análises. 

Os acadêmicos envolvidos no projeto coletam amostras de água de poços, fontes e nascentes das pequenas propriedades, de maioria rural, de Frederico Westphalen e entorno, e fazem as análises físico-químicas (quantidade de sais minerais, pH, etc) e biológicas (coliformes totais e Escheria coli, bactéria que naturalmente faz parte da nossa flora intestinal, mas se ingerida causa enfermidades como diarreia e febre). Hoje, o projeto atende 22 municípios da região. 

Depois de finalizarem as análises, a equipe retorna ao local para explicar o resultado ao responsável pela propriedade. A professora salienta a importância da troca de vocabulário acadêmico pelo mais coloquial nessas situações: “Não adianta eu ser um cidadão com vários títulos se eu não conseguir passar meu conhecimento adiante”, diz Golombieski. Então são elaboradas cartilhas informativas com o resultado das análises, com vocabulário adaptado, e uma apresentação de ações viáveis para a solução dos problemas descobertos. Golombieski estimula que os participantes das ações transmitam confiança e façam um serviço de qualidade: “Nós mostramos o nosso rosto, nós assinamos com o nosso nome”, diz a coordenadora aos alunos. 

A professora diz que a escolha das propriedades é, até o presente, aleatória, pois são os próprios alunos que indicam os locais que podem ser interessantes para o projeto. A extensão, nesse caso, ganha papel maior ainda, visto que as cidades e pessoas conhecidas pelos estudantes são diretamente afetadas positivamente pelo trabalho. Golombieski conta que já não sabe quantos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) baseados nesse projeto foram realizados, mas acredita que cada um dos municípios listados já foi alvo dessas produções. 

Durante a pandemia, o contato com os proprietários diminuiu muito. Em 2020, o projeto estava quase paralisado. Porém, duas alunas pediram para continuarem com suas pesquisas, pois estão próximas do final do curso e precisam completar seus TCC’s para conseguirem se formar. A professora conta que leva as alunas em seu próprio carro para fazer a coleta das amostras: “Sabemos que a Universidade tem que dar o suporte, mas muitas vezes os recursos são pequenos. A gente também tem que entender que são muitos departamentos e o recurso é curto, vem um pouquinho para cada um. Às vezes não é suficiente para fazermos tudo o que queremos fazer”, explica Golombieski. 

Quando a professora não pode transportar as estudantes e as amostras, a própria família das acadêmicas o fazem. Antes mesmo do período de pandemia também, os familiares dos alunos do projeto são peça chave para o andamento das ações. Diante desse contexto, Golombieski diz: “O projeto não é somente da professora Jaqueline, mas de todos”. 

O projeto tem vencimento previsto para julho de 2022, mas a professora quer dar continuidade a ele, agora com mais municípios na listagem. 

“Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento”

Artigo B do ODS 6

Para entender a paixão de Golombieski pela questão da sustentabilidade, é preciso rever uma trajetória, que vai além das salas de aula da Universidade. Começando pela intrínseca vontade da professora em ensinar. Desde pequena,conta que já gostava de brincar de escolinha e, principalmente, ser a professora da brincadeira. 

Conforme foi crescendo, a época de vestibulares se aproximava e ela acabou entrando em um cursinho preparatório. Lá, ela se identificou muito com a professora de Biologia e acabou se apaixonando pela área das ciências biológicas. Então, Golombieski decidiu prestar vestibular para o curso de Ciências Biológicas, e sendo aprovada  na Universidade Federal de Santa Maria. 

Durante a sua graduação, a professora notou sua simpatia com os animais, em especial os peixes, e logo após sua formação em 1997, ela iniciou seu mestrado em Zootecnia na área de fisiologia de peixes pela UFSM. Após alguns anos, Golombieski começou seu segundo mestrado, agora em Agronomia.

Durante o segundo mestrado, ela pensou em desistir da carreira acadêmica, mas depois de ter engravidado, Golombieski diz: “Meu filho foi minha inspiração. Ele me abriu a perspectiva para continuar”. A professora conta que fez história no grupo de mestrado em Agronomia. Na época, não existiam muitas mulheres em sua sala e ela não era formada em Agronomia, características que fizeram a professora se sentir insegura quanto à confiança que seus colegas de classe lhe davam. Mas isso logo passou, quando eles viram o potencial dela. Golombieski relembra ainda um episódio de uma festa de final de ano na UFSM com a turma do mestrado e um dos professores do curso disse: “O grupo tem uma história antes da Jaqueline e depois da Jaqueline”. Isso porque depois dela, vieram outras alunas procurando mestrado em Agronomia.

Depois de uma longa batalha, noites sem dormir e muita vontade em ser exemplo para seu filho, a professora se formou e após alguns meses, ela passou no concurso e se tornou professora adjunta da UFSM-FW.

Ela sempre recebeu muito apoio de seus orientadores na sua trajetória acadêmica e busca apoiar seus alunos também: “Eu tento fazer pelos outros tudo que fizeram por mim”, finaliza a professora. 

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