Filha de um operário e de uma empregada doméstica, Lélia de Almeida nasceu na cidade de Belo Horizonte/Minas Gerais, em 1º de fevereiro de 1935. O sobrenome Gonzalez foi herdado do espanhol Luiz Carlos Gonzalez, com quem se casou no final da década de 1960 (RATTS; RIOS, 2010, p.55).
Aos oito anos, Lélia deixou a capital mineira, partindo em direção ao Rio de Janeiro com toda a família, onde permaneceu até o fim de sua vida, em julho de 1994. A exemplo do que ocorre com uma parcela considerável das mulheres negras desse país, ela exerceu as funções de empregada doméstica e babá, conforme relatou em entrevista concedida ao jornal O Pasquim, em 1986: Quando criança, eu fui babá de filhinho de madame, você sabe que criança negra começa a trabalhar muito cedo. Teve um diretor do Flamengo que queria que eu fosse para casa dele ser uma empregadinha, daquelas que viram cria da casa. Eu reagi muito contra isso então o pessoal terminou me trazendo de volta para casa (O Pasquim, n. 871, 1986, p. 8). Apesar das dificuldades, em 1954, Lélia Gonzalez concluiu o Ensino Médio no Colégio Pedro II, tradicional instituição de ensino carioca. Quatro anos depois, graduou-se em História e Geografia. Em 1962, tornou-se bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual da Guanabara, atual UERJ. Como professora universitária, lecionou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Gama Filho, também na capital fluminense (VIANA, 2006, p. 49). Autora dos livros Lugar de negro, publicado em 1982 (em coautoria com Carlos Hasenbalg) e Festas Populares no Brasil, lançado em 1987, Lélia Gonzalez teve participação destacada em um dos momentos mais significativos da história da população negra no Brasil: ao lado de outros militantes, fundou em 1978, na cidade de São Paulo, o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR, sigla mais tarde reduzida para MNU), que em seu manifesto denunciava a falácia do mito da democracia racial, reivindicava o fim da violência e da discriminação sofrida pelos negros cotidianamente, além de exigir políticas públicas em benefício da comunidade afro-brasileira.
Também no Movimento Negro, Lélia chamou atenção para o sexismo, que muitas vezes impunha ao segmento feminino contínuos processos de silenciamento. Nas palavras de Lélia, “os companheiros de movimento reproduzem as práticas sexistas do patriarcado dominante e tratam de excluir-nos dos espaços de decisão” (GONZALEZ, 2018, p. 315). Foi justamente a dificuldade de falar e de serem ouvidas que fez com que militantes negras percebessem a necessidade de participar de maneira efetiva do movimento feminista. Contudo, nesses espaços, elas também encontraram inúmeros desafios, como a omissão do racismo e de suas consequências na vida das “mulheres de cor”. De acordo com Lélia Gonzalez, a “cosmovisão eurocêntrica e o neocolonialismo” (GONZALEZ, 2018, p. 309) das ativistas brancas impediam debates e proposições que desaguassem em medidas efetivas para o enfrentamento da condição de exclusão e subalternidade na qual as mulheres afro-brasileiras se encontravam. para mais (link http://www.letras.ufmg.br/literafro/ensaistas/1204-lelia-gonzalez )
