Quando o tema da saúde e assistência pública é mencionado normalmente lembra-se de grandes filas em postos de saúde, falta de recursos e/ou de profissionais da área, sofrimento por parte dos usuários. Levando em conta essas dificuldades, o Simpósio, organizado pelo Curso de Psicologia em parceria com o Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFSM concentrou o seu debate na problematização do SUS (Sistema Único de Saúde) e do SUAS (Sistema Único de Assistência Social). O evento contou com o apoio do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH/UFSM), da Comissão de Avaliação (UFSM) e do Conselho Regional de Psicologia (CRP/07).
No entanto, os temas que intersectam o SUS e o SUAS (Sistema Único de Assistência Social) foram discutidos por um viés mais aprofundado, aliando os conhecimentos da academia e do mercado de trabalho, trazendo à tona todas as questões que envolvem os profissionais, os usuários do sistema público de saúde e os futuros psicólogos. Além de alunos da área da Psicologia da UFSM, estavam presentes alunos da Terapia Ocupacional, Serviço Social, e alunos do curso de Psicologia da Unifra e profissionais inseridos no SUS e no SUAS.
As atividades iniciaram no dia 4 de setembro, no auditório do Prédio da Antiga Reitoria, com a participação do rapper Jota Pe, que trouxe letras politizadas e de crítica social. Em seguida houve uma mesa de debate que contou com a professora Dra. Cristiane Redin Freitas (Universidade de Santa Cruz – UNISC) e a psicóloga Alíssia Gressler Dornelles (Prefeitura de Vera Cruz, RS).
A mesa foi coordenada pelas professoras Drª Samara Silva Santos e Drª Adriane Roso. A primeira fala foi ministrada por Cristiane e intitulada “O psicólogo, os usuários e o SUAS: possibilidades e contradições”, com questões objetivas e coerentes como: “Cadê a política para quem a necessitar?”. Segundo ela há muitas contradições no Plano Nacional de Assistência Social que acabam gerando riscos sociais, ou seja, tem a violência como resultado muitas vezes. Com todos os seus problemas, a legislação da política social é uma vitória, mas ela deve se tornar um direito social sem oprimir ninguém e se desassociar do assistencialismo, antiga e viciosa prática que se inseriu no contexto da assistência social.
Um ponto muito debatido, tanto pela palestrante quanto pelos outros participantes, foi o CRAS e suas atribuições e deficiência. De acordo com o site do Ministério de Desenvolvimento Social, o MDS, o CRAS é “uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência social sendo responsável pela organização e oferta dos serviços sócio assistenciais da Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e DF. Em outras palavras, são órgãos públicos ou privados que apoiam a assistência social. Durante a sua palestra, a professora Cristiane afirmou que é um desafio “lutar por mais profissionais no CRAS” e, em entrevista à Assessoria de Comunicação do CCSH, ela disse: “meu desafio para os assistentes sociais e psicólogos seria a luta para ampliar esse número de profissionais para dar um bom atendimento aos usuários, já que é um direito eles merecem um atendimento digno.” O número de profissionais trabalhando no campo da Assistência Social pública é insuficiente e o número de usuários é bem mais alto, além de que o estudante que está se formando não sairia preparado para atender o grande público, mas para atender em clínicas. (leia a entrevista da professora aqui).
Seguindo as discussões da mesa, a psicóloga Alíssia Gressler Dornelles tratou do tema “O Sistema Único de Saúde (SUS) e o que é único em cada sujeito: a psicologia no campo das políticas públicas”, com questões sobre a forma que a psicologia se insere no contexto do SUS e quais as formas de tratamento e acompanhamento dos usuários. Em entrevista concedida à Assessoria de Comunicação do CCSH, além dessas questões, foram levantados pontos como a deficiência de profissionais no SUS e no SUAS e como a política partidária influencia na saúde pública. Ela também contou como foi sua primeira experiência no SUAS e quais desafios que estão ligados ao profissional da psicologia. (leia a entrevista com a psicóloga aqui)
Durante o evento, ficou claro que o SUAS e suas atribuições e deficiências são um tanto “desconhecidas” por muitas pessoas. Há falta de recursos, de pessoal e de infraestrutura aos psicólogos e aos usuários. Portanto, o profissional que aceita o desafio de trabalhar em um contexto tão adverso e procura fazer o melhor possível pela população, deveria ser mais valorizado e ouvido pelos governantes, pois sua atuação é extremamente importante e vai muito além do que “ouvir e aconselhar” as pessoas.
No segundo dia do evento, houve mais uma mesa de debate com a participação de André Luis Leite de Figueiredo Sales, representante do CRP/07, Psicólogo Mestre em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS, com o tema “O Sistema Conselhos e o SUAS”. Caminhando entre o público, André falou sobre as funções do SUAS “consolidar o cidadão como sujeito de direitos”. Indo além, a questão da psicoterapia foi levantada pois, devido a falta de recursos, o psicólogo tem (mais um) o desafio de readequar o seu método de trabalho. Segundo André, é preciso “ampliar o hall de teorias do psicólogo. A Psicologia é uma profissão muito diversa e o SUAS é um campo ontologicamente formado por interesses distintos, por contradições estruturais e insolúveis”.
Em seguida, Maria Luiza Leal Pacheco, Psicóloga Mestre em Psicologia pela PUCRS, assumiu a palavra com o tema “CREAS: um lugar para poder se falar de abuso sexual”. Maria falou sobre suas experiências profissionais e sobre o abuso sexual de crianças, violência doméstica e a vulnerabilidade da população, citando casos ocorridos no Pará, onde atuou. Segundo a palestrante, o tema abuso sexual é complicado de lidar, principalmente em contextos em que é visto como um “costume” ou algo “normal” (há casos onde a iniciação sexual é o abuso das crianças é consentido pelos pais), sendo necessário trabalhar o sujeito, a família e o local onde vivem.
No mesmo dia, além da mesa de debate, houve uma mostra de fotografia com o tema “Qual o meu compromisso social” e rodas de conversa sobre pesquisa e prática no contexto do SUS e SUAS encerrando o evento. Além disso, ocorreu a escolha da melhor foto da mostra, com Luana Martins de Brum em primeiro lugar, e Thatiane Veiga Siqueira em segundo e Michele Pivetta de Lara e Maria Eduarda Freitas Moraes empatadas em terceiro.
Eduardo Molinar, acadêmico do Curso de Jornalismo e bolsista da Assessoria de Comunicação do CCSH.