Ir para o conteúdo Revista Arco Ir para o menu Revista Arco Ir para a busca no site Revista Arco Ir para o rodapé Revista Arco
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

9 fatos sobre a criação de galinhas livres de gaiolas que você precisa saber

A ação é parte do projeto de extensão "Produção de ovos coloniais da região central", do Colégio Politécnico da UFSM



Você já ouviu falar que galinhas tomam chá? E em agricultura familiar? Você sabe o que é segurança alimentar? Em conversa com o zootecnista e professor do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Gustavo Pinto da Silva, que também é co-orientador do projeto de extensão e coordenador da PoliFeira do Agricultor, surgiram informações curiosas sobre a criação de galinhas livres de gaiolas e assuntos relacionados com a temática. Confira:

Ilustração colorida na horizontal. Ao centro, duas galinhas sentadas em lados opostos de uma mesa redonda. Ambas galinhas estão vestidas com chapéus e babeiros. Na mesa, um bule de chá, uma xícara e um prato de biscoitos. Uma delas está levando outra xícara à boca. A outra galinha aparenta gesticular.

1 – A ação do projeto veio através de um olhar diferenciado tanto para o produtor, quanto para o consumidor

A ideia surgiu na PoliFeira do Agricultor em conjunto com a Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Rural dos Agricultores Familiares de Santa Maria (Coopercedro). O intuito da realização desse sistema de criação aviária é buscar um posicionamento e um olhar diferenciado sobre a produção convencional de ovos. Além de fomentar a economia local, a ação possibilita ao agricultor geração de renda, segurança alimentar e uma produção ligada à sustentabilidade.  Quanto ao consumidor, o objetivo está em atender compradores com um olhar mais atento ao ato do consumo. Isto é, ele optar pelo produto que traz mais benefícios na cadeia produtiva, nesse caso proporcionando o bem-estar animal e valorizando o trabalho de pequenos produtores.

2 – As aves possuem acesso a piquetes (área externa)

Existem vários sistemas de criação de galinhas poedeiras: 

  • criadas em gaiolas – às vezes com 12 aves por gaiola; 
  • cage free – criadas soltas, mas em locais fechados. Possui algumas regulamentações nas questões envolvendo o espaço e a alimentação, também proíbe a debicagem (a explicação está no próximo item), porém é permitido o uso de vacinas e de antibióticos, além de possivelmente ocorrer o canibalismo entre as aves; 
  • livres de gaiolas (free range, caipira/colonial e orgânico) – a galinha possui acesso ao piquete (área externa).

As diferenças entre essas três nomenclaturas é decorrente da alimentação e do espaço. No free range, além da ração, as galinhas comem pasto da área externa. No colonial, a parte nutricional já é mais restrita, sem transgênicos e sem corante na ração. E, no orgânico, é permitido até 20% de produtos convencionais na formulação da ração, no entanto também sem transgênicos.

Fotografia colorida na horizontal. Aglomeradas à direita da foto, se encontram diversas galinhas de coloração alaranjada. Elas estão soltas em um gramado verde. Apenas lá no fundo se vê uma cerca, demarcando o espaço.
Galinhas soltas na área externa

3 – O ato da debicagem ocorre no sistema convencional da criação aviária

A debicagem é o processo de corte parcial e cauterização das pontas superior e inferior do bico de galinhas poedeiras, realizado no sistema convencional de criação, em gaiolas ou sem gaiolas, porém em um local fechado. Mas por que isso é feito? Quando os animais são confinados, fatores do ambiente – como a luminosidade, a nutrição e o espaço pequeno –  influenciam o comportamento natural e geram um aumento de estresse. Assim ocorre o canibalismo entre as aves e por consequência, a morte de várias delas. A debicagem evitaria que isso acontecesse. Na criação de galinhas livres de gaiolas, não há esse risco.

4 – Chás fazem parte da rotina das galinhas livres de gaiolas do projeto

A fitoterapia é uma prática à base de plantas usada no tratamento e prevenção de doenças, auxiliando na imunidade. A técnica não é apenas para humanos e pode ser utilizada em animais. Sendo assim, a fitoterapia à base de chás, como de laranjeira e araçá, é aplicada na rotina das galinhas, para o controle de vermes e para proporcionar uma melhora na imunidade. Além disso, a homeopatia – medicamentos naturais de origem vegetal, animal ou mineral – é igualmente adotada pelos agricultores do projeto. Diferentemente do método convencional, o qual utiliza antibióticos e praguicidas para o controle de doenças.

5 – Alimentação alternativa

Para produzir os ovos, as galinhas têm uma série de desafios nutricionais. A rotina é focada em uma alimentação alternativa, que visa se distanciar cada vez mais da soja, do milho e de produtos transgênicos. As aves precisam em torno de 100 gramas de ração por dia para manterem um equilíbrio de aminoácidos, de vitaminas e de energia. Por enquanto, na criação das galinhas livres de gaiolas da PoliFeira, a ração comercial é utilizada – mas existe a possibilidade de ela começar a ser produzida pelos próprios agricultores. Além da ração, é recomendado o uso de outras fontes de alimentação complementar. Diante disso, cada produtor possui suas especificidades no fornecimento, como distribuir aos animais mandioca, couve, repolho e azolla – uma planta aquática. Partes do tronco de bananeiras cortados ou rachados ao meio também podem ser consumidos pelos animais, pois servem como um vermífugo natural.

Fotografia colorida na horizontal. Várias galinhas de coloração alaranjada se encontram em uma área interna, uma granja. Nela, se encontram recipientes para a comida das galinhas e estruturas como grades de madeira na diagonal.
Aves na granja de um dos produtores do projeto

6 – Galinhas criadas ao ar livre geram ovos com maior teor de vitamina D

Como o processo de criação das galinhas é o mais natural possível, os ovos produzidos têm características nutricionais diferentes dos gerados pela chamada ‘indústria dos ovos’. Galinhas criadas ao ar livre geram ovos com maior teor de vitamina D, maior teor de proteínas, duas vezes mais vitamina E, duas vezes mais Ômega 3, 38% mais de vitamina A, 15% mais de energia vital (termo relacionado com a saúde e o bem-estar), apresentam maior resistência à penetração de salmonella e têm a cor marcante da gema. Vale ressaltar que a coloração da gema não indica qual o sistema de criação do animal, porque na indústria dos ovos são utilizados pigmentos sintéticos na ração para deixar a cor mais intensa. A criação mais natural, portanto, proporciona tanto o bem-estar animal quanto uma melhor qualidade do produto e segurança alimentar para o consumidor. 

Fotografia colorida na horizontal. Rótulo das embalagens de ovos coloniais. Ao fundo e à esquerda, a imagem de uma galinha gradualmente se integrando no resto do fundo da imagem, de coloração amarela.
Rótulos das embalagens dos ovos coloniais

7 – Regulamentos sanitários precisam ser feitos

O sistema livre de gaiolas com acesso ao piquete requer vários tipos de regulamentação sanitária. A propriedade precisa ser registrada na inspetoria veterinária, necessita de cerca ao redor do limite permitido e precisa de um controle de aves e de roedores para conter a entrada deles na barreira sanitária, já que podem transmitir doenças. Ademais, os ovos não podem ser lavados, devido à retirada da película sanitária natural. Quando isso ocorre, precisam ser vendidos com uma validade mais curta. A limpeza do ambiente é feita com água, sabão, iodo, água sanitária e concentrado de ervas. Por último, antes de serem vendidos, precisam passar pelo entreposto de ovos, local da inspeção do produto. No Colégio Politécnico, foi desenvolvido um entreposto para o projeto. O outro da região central fica localizado no município de Agudo.

Fotografia colorida na horizontal. Imagem de um pequena casa com a placa na frente que diz "Entreposto de ovos".
Entrepostos de ovos do Colégio Politécnico

8 – Sete dos produtores do projeto participam da PoliFeira

A ação conta com sete produtores que participam da PoliFeira do Agricultor, atualmente, na Avenida Roraima, em Camobi. Um é de Jari, um de Dilermando de Aguiar, dois de Santa Maria, um de Faxinal do Soturno, um de São João do Polêsine e um de Restinga Seca.

Imagem colorida de mapa da central do estado do Rio Grande do Sul. São demarcadas algumas cidades que participam do projeto da Polifeira.
Mapa das granjas dos produtores que participam do projeto

9 –  Mais de 50 empresas brasileiras anunciaram o fim, antes ou a partir de 2025, de ovos provenientes da criação convencional de aves

Empresas como Carrefour, Pão de Açúcar, Burger King, McDonald’s e Giraffas anunciaram o fim, antes ou a partir de 2025, de ovos provenientes da criação convencional. Contudo, apesar de a notícia ser positiva, existem problemáticas a serem pontuadas:

a) O sistema cage-free, apontado como substituto para a indústria dos ovos, não significa que vai haver bem-estar animal;

b) No Brasil, a legislação não reconhece diferenças entre os tipos de criação convencional, cage-free e colonial. Por isso, basta atender aos critérios sanitários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para rotular o produto com o nome que mais convenha o produtor. 

c) Criações numerosas de galinhas poedeiras dificilmente conseguem aplicar a lógica do sistema livre de gaiolas, pois há toda a questão do cuidado na alimentação, na limpeza, no espaço e na saúde dos animais. A criação favorece e é aplicável para pequenos produtores rurais, pela quantidade menor de galinhas. Nesse sentido, a indústria aviária, muitas vezes, é a fornecedora das empresas e das multinacionais que apenas visam o lucro, portanto, o bem-estar animal é deixado de lado.

d) Nos últimos anos ocorreu uma maior procura por ovos provenientes de uma criação alternativa à convencional. Diante disso, algumas embalagens já existentes no mercado possuem o selo da Certified Humane, da Humane Farm Animal Care (HFAC), entidade internacional de certificação de bem-estar animal que exige alguns parâmetros na criação de galinhas cage-free e caipira. Contudo, de acordo com a reportagem do O Joio e o Trigo – “Quando a embalagem esconde a realidade: choques, maus-tratos e fraudes na vida das galinhas ‘livres de gaiola’” -,  algumas empresas da indústria dos ovos que usavam o selo em seus rótulos conseguiram burlar alguns parâmetros, como, por exemplo, colocar cerca de choque elétrico no perímetro, não permitir a saída das galinhas para o ar livre todo dia ou apenas poucas horas por dia. Assim, a sobrecarga do animal continua igual ao do sistema convencional.

Onde posso encontrar os ovos coloniais do projeto em Santa Maria?

– PoliFeira do Agricultor (Avenida Roraima, todas às terças-feiras, das 7h às 12h30 – Camobi);

– Feira da Roraima (Av. Roraima, às quartas-feiras e aos sábados – Camobi);

– Feirão Colonial (Centro de Referência Dom Ivo Lorscheiter, aos sábados – Nossa Sra. Medianeira);

– Feirão Regional (Praça dos Bombeiros, às terças-feiras – Bonfim); 

– Coopercedro (Praça Saturnino de Brito – Centro);

– Vovó Naná Produtos Coloniais (Av. Itaimbé, 211 – Centro);

– Casa Colonial Camobi;

– Fruteira do Alemão (Rua do Acampamento, 599 – Centro);

– Mercado Tri (Rua Duque de Caxias, 3550 – Nonoai);

– Supermercado Bella Vista (Av. João Luiz Pozzobon, 1599 – Km 3);

– Supermercado Royal (Av. João Machado Soares, 132 – Camobi);

– Supermercado Vera e Filhos (R. Júlio do Prado Lima – Nossa Sra. Medianeira);

– Beltrame Supermercados;

Expediente

Reportagem: Eduarda Paz, acadêmica de Jornalismo e voluntária da revista Arco

Ilustrador: Filipe Duarte, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista

Fotografias: Projeto de Extensão PoliFeira do Agricultor

Mídia Social: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Eloíze Moraes e Martina Pozzebon, estagiárias de Jornalismo

Editora de Produção: Esther Klein, acadêmica de Jornalismo e bolsista

Edição Geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-601-8538

Publicações Relacionadas

Publicações Recentes