O DNA, ou ácido desoxirribonucleico, é uma das moléculas responsáveis por carregar a informação genética necessária para o desenvolvimento, funcionamento e reprodução de um organismo. Ele está presente nas células vivas, desempenhando um papel essencial na transmissão de características de geração para geração.
Contudo, ainda há dúvidas entre a população brasileira sobre sua presença em diferentes tipos de células, como as das plantas. De acordo com a pesquisa Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil mais recente, a afirmação “As células das plantas não têm DNA; só as células animais possuem DNA.” confundiu parte dos entrevistados: quase 30% deles concordou totalmente com o enunciado, 11,4% concordou em partes e 17,5% não soube responder.
DNA: de bactérias a alfaces e seres humanos
A sequência de nucleotídeos, moléculas que formam o DNA e o RNA, é responsável pelo armazenamento e pela transmissão da informação entre as gerações de indivíduos de uma espécie. Como explica a professora Lenira Sepel, “em qualquer célula, seja de uma bactéria, de uma alface ou de um humano, sempre haverá DNA”. Ela destaca ainda que o DNA é a única forma pela qual as células conseguem armazenar informações de maneira estável e transmiti-las de uma linhagem para outra.
Embora o DNA esteja presente em todos os seres vivos, a forma como ele é armazenado varia entre diferentes tipos de células. A principal diferença entre bactérias, plantas, fungos e animais está no local onde o DNA é mantido. As bactérias, por exemplo, são células simples, conhecidas como procariontes, e não possuem compartimentos celulares internos; por isso, o DNA fica disperso no citoplasma. Já as células de plantas, fungos e animais são mais complexas, classificadas como eucariontes, e contam com um sistema de membranas internas que organiza diferentes ambientes, incluindo o núcleo, onde o DNA é protegido.
Já as partículas virais não são formadas por células, mas todas possuem ácidos nucleicos que armazenam sua informação genética. Com base na molécula utilizada para esse armazenamento, os vírus podem ser divididos em dois grandes grupos: os vírus de DNA e os vírus de RNA, também conhecidos como retrovírus. Estes últimos são os únicos que utilizam moléculas de RNA como material genético.
DNA das plantas
O DNA das plantas contém as “instruções” necessárias para produzir proteínas, que fazem as células operarem corretamente e garantem o funcionamento do organismo como um todo. Essas proteínas ajudam as plantas a realizar todas as suas funções, como crescer, se reproduzir e se adaptar às mudanças do ambiente. É por meio dessas proteínas que as células conseguem reagir ao que acontece ao seu redor e às diferentes fases do ciclo de vida da planta.
Por exemplo, quando começa o período de produção das flores, vários genes que estavam inativos começam a ser ativados. De forma simplificada, podemos dizer que a transcrição desses genes gera RNAs que serão transformados em proteínas responsáveis pela produção das flores. Esses genes carregam as informações para determinar a cor e o formato das pétalas. Se uma planta terá flores com pétalas de borda lisa ou recortada, depende dos genes que ela herdou. O mesmo acontece com todas as outras características hereditárias que a planta manifesta.
Uma das explicações para a associação do DNA apenas às células animais é o fato de que as plantas são menos “percebidas” no ambiente. A professora Lenira Sepel explica o conceito de “cegueira botânica”, que se refere à dificuldade de reconhecer as plantas como seres vivos, o que leva a não atribuir a elas as características essenciais de qualquer organismo. Ela sugere que mudanças no ensino escolar, como “observar, nomear e registrar as plantas presentes nos ambientes”, têm um impacto importante na ampliação da percepção da diversidade vegetal que nos acompanha no cotidiano.
Biotecnologia e alimentos transgênicos
O uso do DNA de plantas tem impulsionado avanços significativos na ciência, especialmente no melhoramento agrícola. Com o desenvolvimento da genética molecular, o processo de aprimorar plantas tornou-se mais rápido e eficiente, permitindo, por exemplo, a criação de plantas transgênicas, que podem incorporar características inéditas às espécies. A professora Lenira Sepel explica: “A possibilidade de transferir DNA de uma bactéria para uma planta foi uma inovação da biotecnologia do século 20, que estimulou pesquisas para produzir vegetais mais adaptados às necessidades humanas, como melhorias nutricionais e no cultivo.”
No Brasil, alimentos transgênicos são vistos como uma solução potencial para combater a fome e garantir a segurança alimentar. Segundo a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a biotecnologia pode melhorar a produção de alimentos e permitir o desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas. No entanto, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor aponta riscos associados aos transgênicos, como o aumento de alergias e a resistência a antibióticos, devido a compostos introduzidos no processo de engenharia genética.
Além disso, a resistência de algumas plantas transgênicas a agrotóxicos pode favorecer o surgimento de superpragas, levando a um aumento no uso de pesticidas e impactos ambientais negativos. A professora Lenira alerta para esses riscos e questiona: “Como uma sociedade que não reconhece as plantas como seres vivos, com células contendo DNA, pode discutir com sabedoria a aplicação dessas biotecnologias?”
Veredito: MITO! As células das plantas também contêm DNA, que é essencial para toda a operação celular e o funcionamento do organismo. Assim como nas células animais, o DNA nas células vegetais armazena as informações genéticas necessárias para o desenvolvimento e funcionamento da planta.
Texto: Júlia Zucchetto
Ilustração: Vinicius Gumisson Motta
Edição: Luciane Treulieb
Revisão: Fabiana Coradini