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O signo do horóscopo influencia a personalidade das pessoas?



“Qual é o seu signo?” Você provavelmente sabe a resposta para essa pergunta. E vai além: se você é de Áries, já deve ter ouvido que é determinado e que não leva desaforo para casa; se é de Touro, é provável que já tenha sido chamado de comilão; e, se for de Leão, talvez tenha ouvido que é vaidoso. Mas será que a astrologia realmente influencia nossa personalidade? A resposta é não. Não há evidências científicas que sustentem essa relação, embora a crença seja comum entre uma parcela da população. De acordo com a Pesquisa de Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil de 2023, aproximadamente 1 em cada 4 brasileiros acredita que o horóscopo influencia a personalidade das pessoas, com 24,9% concordando totalmente com essa afirmação.

Para entender por que a astrologia pode ser um bom assunto para puxar papo na mesa de bar, mas não tem comprovação científica e não deve ser usada como explicação para comportamentos e características individuais, é preciso diferenciar crenças de fatos científicos. Enquanto a astrologia se baseia em interpretações simbólicas e tradições culturais, a ciência exige evidências, testes e reprodutibilidade para validar uma afirmação.  

Astrologia x astronomia

Astrologia é a prática que sugere que a posição dos corpos celestes no momento do nascimento influencia a personalidade e o destino das pessoas. Mas é importante não confundir astrologia com astronomia, que é a área que estuda os astros — como planetas, estrelas e cometas — com base em evidências e experimentação. A física Alessandra Buffon pontua que a astronomia tem embasamento científico, enquanto a astrologia é historicamente entendida como uma pseudociência: “Não há nada científico que prove que determinado planeta, em uma determinada constelação, modifique o comportamento de alguém”, destaca.

Entender o céu

Práticas de observação do céu são realizadas desde a Antiguidade. O movimento da Lua, por exemplo, era acompanhado na agricultura para determinar os melhores momentos de plantio e colheita. Com o tempo, os métodos de observação dos astros foram aperfeiçoados com o uso de novos instrumentos, como a luneta utilizada por Galileu, no século 15, e os desenhos que ele fez a partir de suas observações.

Além de estudar o céu para fins científicos e práticos, civilizações antigas também relacionaram os astros a crenças e interpretações sobre a vida na Terra — e é nesse contexto que surgem os signos do zodíaco. Alessandra explica que cada signo corresponde a uma constelação que aparecia atrás do Sol em determinado período do ano. “Por isso falamos que o sol estava na constelação de gêmeos quando nasci, seria essa a ideia”, exemplifica. No entanto, ela alerta que a astrologia ainda segue modelos da Antiguidade, sem levar em conta mudanças ocorridas ao longo dos séculos: “Por conta do movimento de rotação e translação da Terra, além da inclinação do eixo terrestre, a configuração do céu hoje não é a mesma de quatro mil anos atrás, mas isso não foi atualizado pelos astrólogos”, esclarece.

Alessandra também questiona a astrologia ao destacar um ponto frequentemente ignorado: já na Antiguidade, havia 13 constelações no céu, e não apenas 12, como considera a astrologia. A explicação remonta à Grécia Antiga, onde políticas de organização da sociedade se baseavam no número 12 — como no calendário gregoriano, que seguimos até hoje. “O calendário tem 12 meses, então o que foi feito foi colocar cada constelação em ‘uma casinha’, em cada mês”, detalha a professora. No entanto, ela ressalta que essa divisão não corresponde à realidade astronômica. “As constelações têm tamanhos diferentes. A de Escorpião, por exemplo, é muito grande, e demora mais dias para que o sol passe por ela, enquanto a de Libra é bem menor”, diz a Alessandra. Segundo ela, a astrologia desconsidera essas variações e impõe um tempo fixo de 30 dias para cada signo, algo que não condiz com a observação científica: “Esse é outro erro dos astrólogos. É mais fácil provarmos os erros deles do que eles provarem o que estão falando”, afirma.

“Eu até brinco em sala de aula com os meus alunos: se você nasceu quando essa 13ª constelação estava no céu, então você não tem personalidade”, comenta a física. Enquanto professora de Ensino Médio, Alessandra aborda o tema em sala de aula, com os alunos, além de já ter estudado como a astrologia era percebida por outros educadores. Em um artigo de 2022, ela e outros dois autores investigaram como a astrologia era compreendida por alunos do curso de Pedagogia em uma universidade privada no Paraná. O estudo mostrou que “a maioria dos indivíduos era suscetível à manipulação da descrição de sua personalidade, confiando nos resultados, apesar de serem vagos e generalistas”.

O efeito Forer e a ilusão das descrições genéricas

Se não há comprovação científica, por que tantas pessoas acreditam nas previsões astrológicas? Um dos motivos é o chamado Efeito Forer, nomeado em referência ao psicólogo norte-americano Bertram Forer. Ele realizou um experimento com voluntários do exército, submetendo-os a uma suposta avaliação de personalidade. O texto usado no teste era, na verdade, uma compilação de trechos retirados de descrições de diferentes signos astrológicos e continha afirmações ambíguas logo na primeira linha: ‘Você tem necessidade de ser amado e admirado pelos outros, mas também tende a ser crítico consigo mesmo’. Forer percebeu que descrições genéricas, especialmente quando carregadas de elogios sutis, costumam ser aceitas como verdadeiras. Nosso cérebro tende a selecionar memórias que confirmam essas afirmações vagas, ao mesmo tempo em que ignora informações que poderiam contrariá-las.

Alessandra também aplica um teste em sala de aula. Ela entrega a cada aluno um papel com uma descrição vaga de personalidade, sem revelar que todos receberam exatamente o mesmo texto. “Todos ficam surpresos quando percebem que é o mesmo texto do colega. O que acontece é que cada um se identifica com um trecho específico”, relata.

O que realmente define nossa personalidade?

A psicóloga Clarissa Tochetto, docente do curso de Psicologia da UFSM, explica que a personalidade é moldada por um conjunto de fatores, combinando aspectos genéticos (aquilo que carregamos desde nascer) e a interação com o mundo e com as pessoas ao longo da vida. “A personalidade é um conjunto de traços. Cada pessoa tem os seus, eles são relativamente estáveis e refletem formas individuais de se colocar no mundo, o que se traduz em comportamentos”, afirma a docente. 

Clarissa também destaca por que tantas pessoas se identificam com descrições genéricas, como as da astrologia ou de testes de personalidade na internet. “Não têm embasamento científico algum, mas as pessoas gostam de ouvir coisas sobre si, serem avaliadas. E se a descrição for positiva, elas vão querer se encaixar”, aponta. A pesquisadora ressalta que essas descrições não se comparam às análises feitas por profissionais, como psicólogos e psiquiatras, que seguem métodos e técnicas científicas e podem trazer resultados sobre a personalidade que não são necessariamente positivos ou agradáveis.

A teoria mais aceita na Psicologia sobre personalidade é a Big Five, ou teoria dos cinco grandes fatores, cujos estudos começaram na década de 1930. Ao longo do tempo, essa abordagem foi validada por diferentes pesquisadores e em diversas culturas, sempre chegando a cinco fatores que, combinados entre si, explicam a personalidade humana: neuroticismo, extroversão, socialização, conscienciosidade e abertura à experiência. Para evitar pseudociências que empregam termos psicológicos sem embasamento científico, Clarissa recomenda optar por testes baseados nessa teoria.

Na conversa com amigos, ok! Mas, cuidado!

Segundo as especialistas, a astrologia pode ser usada como forma de descontração, seja para iniciar uma conversa na mesa de bar, brincar com amigos ou até mesmo puxar assunto em aplicativos de relacionamento. No entanto, é preciso atenção quando essa prática passa a determinar decisões: “A priori, não faz mal, mas você não pode usar a astrologia para justificar as suas ações, principalmente se elas prejudicarem outras pessoas”, destaca Clarissa. A psicóloga alerta que isso vale também para ações positivas: “Usar a astrologia para justificar coisas boas que acontecem na vida também é problemático, porque, se algo só aconteceu porque o universo quis, o mérito da conquista fica em segundo plano”, pontua.

Alessandra também aponta riscos quando a prática deixa de ser apenas uma diversão e passa a envolver perdas financeiras. Ela ressalta a necessidade de cautela com especialistas em astrologia: “Acho preocupante quando algumas pessoas usam esse conhecimento astrológico para enganar outras e lucrar com isso”, afirma.

Esse alerta se torna ainda mais relevante diante do crescente interesse pela astrologia. O número de aplicativos para gerenciamento de mapas astrais não para de crescer, a astrologia é levada em conta em decisões importantes por muitos profissionais, e alguns astrólogos chegam a ter longas filas de espera para os atendimentos. 

A busca por previsões, no entanto, não é um fenômeno recente — trata-se de uma prática enraizada na cultura e que pode trazer conforto em momentos de incerteza. Ainda assim, o alerta permanece: “Astrologia é pseudociência. Não gaste seu dinheiro com isso”, adverte Alessandra.

 

Veredito: MITO! Não há evidências científicas de que o signo do horóscopo influencie a personalidade das pessoas. A crença na astrologia se baseia em descrições vagas e generalistas, que dão a ilusão de precisão, mas não resistem à análise científica. A personalidade humana é complexa e moldada por fatores genéticos e ambientais, conforme demonstram estudos psicológicos rigorosos.

 

 

Repórter: Milene Eichelberger
Ilustração: Evandro Bertol
Edição: Luciane Treulieb
Revisão: Fabiana Coradini

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