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De cara nova



União

Júlia Schnorr – juliaschnorr@gmail.com
Renata Franciele Grzegorek – renataf.grzegorek@gmail.com

A União Universitária recebe novos moradores a cada semestre. Ela é uma casa de passagem, onde os estudantes moram provisoriamente até conseguirem uma vaga definitiva na Casa do Estudante Universitário (CEU). Muitos estudantes encontram-se sozinhos pela primeira vez em suas vidas, pois mudaram de cidade e sentem a ausência dos pais. Por esse motivo, a União também serve como um lugar de acolhimento, mas, para isso, o local tem de ser agradável. Apesar dos estudantes se ajudarem durante o período em que ficam na União, como ficou popularmente conhecida, o prédio necessitava de melhorias, pois apresentava problemas estruturais. Os banheiros eram um dos principais, pois havia somente dois chuveiros e um vaso sanitário em cada banheiro, o que gerava filas e desconforto. Uma reforma era necessária.

A iniciativa partiu da própria direção da CEU II, que busca proporcionar mais conforto aos alunos que chegam à instituição. As obras iniciaram em dezembro de 2012 e a previsão é que terminem até o final do primeiro semestre de 2013. No início das reformas, os estudantes que estavam nos alojamentos da União, foram temporariamente transferidos para o bloco 46, que há pouco havia sido concluído. Como o número de estudantes que foi morar no novo bloco era pequeno, o que era para ser uma mudança temporária virou definitiva.

O orçamento total de quase R$ 180 mil vai garantir modificações na cozinha, nos banheiros, nos alojamentos, na sala de estudos e na construção de um novo laboratório de informática, mais amplo que o antigo. O laboratório ainda não está finalizado e durante a reforma encontra-se fechado para o público. A cozinha também foi reformada para que os estudantes pudessem melhor ocupar este local. O antigo espaço para cozinhar era pequeno e mal conservado, o que causava dificuldade para os acadêmicos.

A condição dos banheiros era uma das principais reclamações. Os banheiros masculino e feminino ficavam próximos, mas como eram pequenos, foram transformados em um único banheiro feminino. Um novo banheiro foi construído para os homens. O espaço ampliado agora conta com três chuveiros e três vasos sanitários em cada banheiro, além de um local reservado para que os estudantes possam lavar suas roupas. Por enquanto há revezamento do banheiro masculino, ora apenas as mulheres ocupam e em outro momento apenas os homens. Esse revezamento se faz necessário pelo fato de apenas o banheiro masculino estar pronto até o momento.

Morador da União desde abril de 2013, o estudante de Música Bacharelado – Trombone Hélio da Silva de Abreu, passa parte do seu dia no Centro de Artes e Letras e diz não se importar com o barulho da reforma: “Os futuros moradores da União terão um espaço muito bom”. Por outro lado, os também moradores da União, o estudante de História Luciano Viçosa e de Sociologia Bruna Fonte, dizem que não conseguem estudar devido ao barulho da reforma. E como as tomadas de energia elétrica ainda não foram instaladas, os jovens ocupam o “canto do guardinha”, com seus notebooks. Eles reclamam que, por haver muito barulho, há a dificuldade de concentração para estudar. Por mais que existam esses problemas, Luciano e Bruna dizem que conheceram a União antes da reforma e que acreditam que o lugar ficará muito melhor para os futuros moradores.

“Gostaria que os moradores conservassem a União, pois tudo que foi planejado foi pensado para o melhor de todos os estudantes”, reflete a arquiteta do projeto, Gianine Pivetta Mello, que também é assinado pelo engenheiro civil Daniel Belinasso. A profissional Gianine ressalta que muitos estudantes pensam que a obra é feita de qualquer jeito. “É muito pelo contrário, são pessoas planejando para pessoas, querendo que estes estudantes se sintam bem, acolhidos, pois é uma espécie de casa provisória, mas que precisa ser aconchegante”, acrescenta a arquiteta. A empresa responsável pela reforma é a João Carlos Ravanello Cia Ltda.

Segundo um dos guardas que trabalha na União, Ediomar Mendes, apenas o alojamento feminino não teve nenhuma mudança. O alojamento masculino recebeu uma nova pintura, a parte elétrica foi trocada e o teto foi rebaixado. Nos banheiros, o teto teve o complemento de gesso.

 

Reforma do banheiro feminino nos acabamentos finais

Uma modificação no projeto inicial da reforma do banheiro precisou ser efetuada. A arquiteta Gianine considera que este é um ponto negativo da reforma, mas ressalta que não havia outra solução: uma viga invertida dividiu o banheiro feminino em dois. Os vasos sanitários ficaram de um lado e para tomar banho é necessário deslocar-se para o outro lado.

O fato da União fazer parte de um prédio antigo possibilitou a construção desses novos banheiros. Se não fosse uma laje intermediária, não haveria como concluir a reforma, pois no térreo, embaixo do banheiro, há a cozinha do Restaurante Universitário. O cano de esgoto do novo banheiro foi colocado entre essa laje intermediária, o que permitiu que ele não ficasse exposto na cozinha do RU. Para o projeto de reforma, a arquiteta Gianine e o engenheiro Belinasso pensaram em vários detalhes para melhorar o dia-a-dia dos alunos. Nos banheiros foi feita uma ventilação higiênica e durante a obra foram realizadas pequenas mudanças no planejamento inicial que aceleraram a mesma.

História da União Universitária

Para a Assistente da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, Marta Gasparetto: “a União Universitária é a porta de entrada para os universitários que irão morar na Casa do Estudante, um rito”. Mas não foi sempre assim. Antes da União, os estudantes eram encaminhados diretamente para a Casa do Estudante Universitário (CEU). Nesta época, apenas homens moravam na residência estudantil. As mulheres residiam na parte superior do atual Bar do Pingo, na esquina das ruas Floriano Peixoto e Astrogildo de Azevedo. Este lugar ficou conhecido como CEU III, pois naquela época já existiam a CEU I, no Centro, e a CEU II, no Campus da UFSM. As mulheres passaram a morar na Casa do Estudante do Campus a partir de uma ocupação realizada pelas estudantes, na década de 1980.

A UFSM é reconhecida por possuir um dos melhores programas de Assistência Estudantil do país. Isso foi construído ao longo dos anos através da luta do movimento dos estudantes. O final da década de 1980 marca um novo período na assistência estudantil da UFSM. É neste momento que começa surgir a União Universitária. A procura por moradia acabou sendo maior que o número de vagas na CEU e estudantes que teriam direito à residência gratuita acabaram ficando sem lugar para morar. O diretor da Casa do Estudante nos anos de 1985-1986 durante a gestão “Despertar” Lauro Bernardi conta que o espaço da União já existia, mas com a função de lazer: “Me formei em agosto de 1987 e logo o pessoal da CEU II ocupou este espaço como forma de pressão para ampliar as vagas e garantir que os prédios fossem, bloco por bloco, acabados’’, conta Bernardi. O professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Sérgio Gadini, fez o curso de Jornalismo na UFSM entre 1987 e 1990. Ele viveu na moradia estudantil e fez parte de mais de uma diretoria da CEU II: “Iniciamos a proposta de ampliar a luta pela moradia ocupando a União Universitária, a partir de 1988”, relembra o jornalista.

Atual professor adjunto e diretor do campus da Universidade Federal da Fronteira Sul, Paulo Mayer, permaneceu sete anos na UFSM, seis deles como participante da direção da CEU II. De família humilde, Mayer valorizava a luta conjunta dos estudantes por moradia e permanência na instituição. O professor conta que os acadêmicos ocuparam a União a partir do momento em que a demanda foi maior que a oferta: “Na época achávamos injusta a simples classificação por renda que a PRAE fazia, então colocávamos todos os pretendentes na União para que vivessem coletivamente as dificuldades de morar ali, muitos que tinham melhores condições desistiam, mas quem precisava acabava ficando”, relembra Mayer. A instalação dos estudantes na União foi, a seu ver, uma atitude necessária e pedagógica, pois a UFSM não tinha uma política definida de gestão de vagas, além da direção da CEU II, julgar que não havia bons critérios de identificação das pessoas com necessidades ou vulnerabilidade socioeconômica. A intervenção na CEU II era mínima.

O movimento estudantil foi sedimentando às vitórias. “Primeiro garantimos que as mulheres pudessem morar na CEU”, relembra Mayer. Mas essa luta não foi fácil. A mídia local anunciava que não era de “bom tom” mulheres morarem com homens. “Imagina morar mulheres junto com os homens?”, brinca o professor. A segunda vitória foi a garantia de moradia para estudantes estrangeiros. Os avanços aconteciam no cotidiano, sem nada no papel. No entanto, a conquista era real.

O atual professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha, Campus Santo Augusto, Tarcizio Samborski morou na União em 1989. O agrônomo formado pela UFSM diz que os estudantes ficavam no salão maior, atual alojamento feminino. Os colchões eram espalhados pelo chão. “Ficávamos até surgirem vagas, era um processo que tinha dois sentidos: um de dar visibilidade para a luta da moradia e outro de selecionar quem realmente precisava ou estivesse afim de ficar na CEU”, relata Tarcizio Samborski.

Antes de ocorrer a ocupação que formaria a União, em torno de 400 acadêmicos possuíam o benefício fornecido pela PRAE. Hoje o número de estudantes que moram na Casa do Estudante é de aproximadamente dois mil alunos. Para o ingresso na CEU, um processo seletivo é realizado, uma espécie de entrevista para conceder o benefício socioeconômico e selecionar quem precisa do auxílio para sua permanência na universidade. Samborski diz que os estudantes chegavam na União e quem tinha parentes ou conhecidos, deixava os pertences em seus quartos. “Eu não conhecia ninguém, mas o ambiente era muito legal”, conta o agrônomo.

A reforma da União é só mais um passo para melhorar a moradia estudantil da UFSM, pois o espaço representa um melhor auxílio aos jovens que buscam adaptar-se a um novo ambiente. A reforma resulta de mais uma das lutas por moradia e justiça social.

Construção do novo laboratório de informática promete acesso de qualidade aos usuários

Bastidores da .txt

Quando se iniciou o processo de apuração sobre a reforma na União Universitária, para mostrar como foi o processo da sua criação, não imaginávamos que conheceríamos uma história tão incrível. Foi muito interessante descobrir de que forma se procedeu a construção desta casa de passagem dos universitários que têm a possibilidade de morar na Casa do Estudante. Os ex-moradores entrevistados se mostraram com grande entusiasmo ao relembrar de como foi a própria experiência na passagem pela Casa do Estudante e o papel que tiveram na construção do espaço.

Revisitar a União durante o período de reforma foi muito proveitoso. Poder comparar o período anterior à reforma com as atuais melhorias na estrutura, e que proporcionarão maior qualidade de vida aos estudantes que poderão usufruir do espaço. Ao conversar com os atuais moradores da União foi possível notar a animação deles, ao constatar a preocupação da Universidade na recepção dos alunos que chegam à Instituição, dessa maneira, os alunos sentem-se motivos a continuar na UFSM.

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