Gabriel Medeiros Figueiredo dos Santos é um jovem santamariense de 23 anos do signo de sagitário com ascendente em aquário e possui as modestas qualidades: é calmo, um bom ouvinte e companheiro. Além disso, é músico e compositor há pelo menos 10 anos, faz parte de uma banda e tem projeto de seguir carreira solo.
Gabriel usa a escrita como subterfúgio para se manter de cabeça erguida, já escreveu mais de 40 músicas e mais de 100 poemas. Um dos seus poemas foi submetido e aprovado para a 10ª edição da Revista Científica do Curso de Produção Editorial.
É a primeira vez que teremos um poema em nossa revista e esperamos que sirva de inspiração para outras pessoas que tenham poemas e poesias guardadas no fundo da gaveta.
O compositor gosta muito de ler livros, ver filmes/séries e ouvir bastante música. Para encontrá-lo, basta procurar @mefisga.briel, no Instagram e no YouTube Gabriel Medeiros.
Os bloggers da Revista O QI prepararam algumas perguntas para Gabriel:
O QI: É a primeira vez que você está publicando em uma revista ou então você já publicou algum de seus poemas? Se sim, qual é a sensação de publicar em uma edição incrível como essa?
Sim, é a primeira vez que publico algum dos meus poemas em uma revista. Geralmente eu só compartilho com meus amigos mais próximos ou no máximo posto no stories do Instagram, e para mim, estar publicando este poema nessa revista é ótimo, tanto por dar mais visibilidade ao meu trabalho, quanto por fazer parte desse projeto que me foi apresentado pelo meu amigo Rodrigo Osório.
O QI: Como é o processo criativo do jovem santamariense com suas letras e poemas?
Não é um processo forçado nem induzido. As letras apenas surgem de dentro de mim como se fossem uma necessidade fisiológica, como se eu estivesse vomitando. Não é uma analogia bonita nem elegante, mas é a melhor forma que eu encontrei de descrever.
Meu processo criativo é bastante imagético, a letra surge muitas vezes de uma imagem ou um cenário na minha cabeça, sendo uma tentativa de expressar a imagem com as palavras. lsso é melhor exemplificado em duas músicas que eu fiz para a banda em que eu toco, as músicas chamadas:
“Por do Sol”:
O sol é o mesmo em todo lugar Aqui ou lá
Não adianta procurar
A felicidade
aonde ela não está….
e “Vermelho é teu Sangue”:
Não vai mudar
Não importa o que tu faça
Vermelho é teu Sangue
Acende os olhos
Vai ter que aceitar
A natureza da vida
E não a deixar
Passar despercebida….
Por meio da letra e da música também tento expressar uma imagem mental do que essas imagens e simbologias representam pra mim. Já musicalmente o processo é diferente, depende de outros fatores, se é uma criação solo ou coletiva. Se é solo é uma criação mais intuitiva, o som vem na minha cabeça e eu tiro no violão/guitarra e assim vou completando a música, se é uma criação coletiva é um processo muito mais conversado para debater os conceitos para saber o que cada um pensa e o como podemos juntar um pouco de cada na composição.
O QI: E como está sendo, para você, continuar criando em tempos de pandemia?
Certamente está sendo diferente dos tempos “normais”. A vida cotidiana mudou tanto em tão pouco tempo, a distância dos amigos, uma aparente repetição dos dias, uma constante incerteza do que pode acontecer com nosso corpo, com nossos familiares e o sentimento de estarmos se nutrindo de #TBT’s com uma saudade de tempos tão próximos e ao mesmo tempo tão longínquos de nossa realidade.
Isso traz por vezes uma letargia, o que torna, muitas vezes, mais difícil de abstrair das preocupações diárias para conseguir inspiração para escrever algo. Estranhamente nos primeiros meses de quarentena, o choque causado pela situação absurda trouxe bastante “material” para conseguir escrever e me expressar artisticamente e também tentar trazer uma calma para mim e aos outros, como em uma música minha chamada “Amarga” que tem um trecho que é: “Um dia tudo vai ser uma lembrança amarga…”, para tentar colocar na cabeça que apesar de todo esse caos sairemos vivos.
Com esse “choque” inicial de ter que reformular toda a rotina, a sensação de estar vivendo todos os dias a mesma coisa trouxe uma dificuldade maior de conseguir criar algo novo.
O QI: Quais as suas inspirações? Quais as suas dificuldades?
A minha inspiração vem primeiramente de minha vida, o conjunto da minha obra tem um tanto de autobiográfico, vêm das dores e sabores da vida, tanto das coisas boas quanto das coisas ruins que me acontecem acabam inevitavelmente desaguando lírica e/ou musicalmente. Muito do que me move em direção a composição é um desejo de eternizar um pensamento, um momento.
Se eu estou num momento ruim eu escrevo de uma forma otimista para que no futuro eu veja a letra e perceba que eu consegui realizar a superação presente na letra, se eu estou num momento bom eu escrevo pra celebrar. Por exemplo, criei dois discos (embora não os tenha gravado ainda, então acabam mais por serem um conjunto de canções reunidas em volta de um conceito), um se chama “Maio ou Sossego” de 2019 e o outro se chama “Teu Olhar Num Sonho Me Acordou” de 2020.
Apesar de apenas um ano separarem a criação deles, ambos representam momentos bem distintos de minha vida, no Maio ou Sossego é onde adentra o poema “Tempo”, que vem de um momento de ansiedade e expectativa para com o futuro, com um sentimento de ter que decidir tudo em um piscar de olhos, como se não houvesse “tempo” para parar e pensar com calma em um caminho a se seguir, a letra foi uma forma de tirar esse peso, aceitar que eu não tenho controle sobre tudo na minha vida “Sei que não tenho o tempo, o tempo me tem” e a vida é mais sobre aproveitar o tempo e fazer dele algo bonito, traçar caminhos mas não ficar pensando neles caso alguns dos caminhos estejam impossíveis de serem perpassados.
Já o “Teu Olhar Num Sonho Me Acordou”, apesar de ter sido idealizado na pandemia, vem de um momento psicológico e emocional muito melhor para mim, por naquela época ter conhecido minha namorada, que me ajudou e ainda ajuda muito a me desfazer das minhas ansiedades. Apesar de usar os obstáculos da vida como combustível para criação, às vezes fico esgotado e entro em uma seca criativa, não é nem como se eu não criasse nada, mas as coisas que crio não me contentam, como se eu não conseguisse expressar o que eu quero dizer, são como ciclos, épocas de alta produtividade e de baixa produtividade, os ciclos de alta produtividade me revigoram e os de baixa me frustram, é como se eu precisasse tirar algo de mim.
O QI: Agora me fala, o que você faz quando sobra um tempo (fazendo um trocadilho ao poema que vem aí) e não está compondo?
Quando me sobra um tempo, ou também, quando eu não consigo compor nada, eu não tento forçar nada, então fora os estudos, eu passo o tempo lendo alguns livros (Meus autores preferidos são Gabriel Garcia Márquez, Ursula K. Le Guin, Philip K. Dick) e escuto muita música (ultimamente tenho escutado mais a St Vincent, o Jeff Buckley e Clube da Esquina), conversando com os amigos, e passando um tempo com os irmãos, passo um tempo com minha namorada. Aproveito o tempo com coisas que gosto com pessoas que gosto, e dentro do possível, tento regar sementes para um futuro desembaraço.
O QI: Curiosidades sobre o autor do poema que estará na 10ª edição da Revista O QI, que será lançada em breve:
Pode parecer piração, mas uma coisa que me aconteceu diversas vezes, é o fato de compor uma letra que inicialmente não faz sentido com o que estou vivendo, e depois de um tempo acontece algo na minha vida que faz todo sentido com a letra, como se eu estivesse prevendo minha própria história. Falo isso, porque de certa forma, aconteceu isso na “Tempo”, escrevi ela na metade de 2018, e nela tem os verso “Aceito de presente mapas, mas meu caminho eu mesmo traço”, até então tinha um sentido somente figurado, até que em 2019 eu entrei para o curso de Geografia, uma matéria relacionada com mapas, curso que me trouxe de presente pessoas maravilhosas que mudaram minha vida, conheci minha namorada chamada Rech no curso e também conheci a Gabriele Kobs que fez a capa para o meu álbum “Maio ou Sossego”.
Publicado originalmente no blog do WordPress em 05 de Outubro de 2021