A notícia da Vale como uma das patrocinadoras oficiais da COP30, que acontecerá em 2025, em Belém, gerou reações intensas. Para alguns, é um sinal positivo de que grandes corporações estão assumindo um papel ativo nas discussões sobre o futuro do planeta. Para outros, é uma contradição evidente: como uma empresa associada a desastres ambientais de proporções históricas pode ocupar o palco de um evento voltado à sustentabilidade?
Desde as tragédias de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019, a Vale carrega uma marca difícil de apagar. Mais do que perdas materiais, esses episódios deixaram cicatrizes humanas, sociais e ambientais profundas. A lama não destruiu apenas rios e comunidades, destruiu também a confiança de grande parte da população na palavra “responsabilidade corporativa”.
Mesmo assim, nos últimos anos, a empresa tem investido fortemente em projetos de comunicação, inovação e sustentabilidade. São campanhas, relatórios, compromissos públicos e ações de reparação que buscam mostrar uma Vale diferente, mais consciente, transparente e comprometida com o meio ambiente. Do ponto de vista das Relações Públicas, essas iniciativas fazem parte de um processo puro de gestão de crise e reconstrução de imagem. Afinal, toda organização que enfrenta uma crise precisa dialogar com seus públicos, assumir responsabilidades e mostrar, com atitudes, que está disposta a mudar.
Mas há um ponto sensível nessa história. Quando o discurso de sustentabilidade surge de empresas que tiveram grande responsabilidade em desastres ecológicos, é natural que o público desconfie. O patrocínio à COP30 pode ser visto como uma tentativa de reconexão com a sociedade mas também pode ser interpretado como uma ação de greenwashing, termo usado para descrever práticas de marketing enganoso que criam uma imagem “verde” mas sem uma mudança profunda na estrutura ou nas práticas da empresa.
No caso da Vale, é importante reconhecer que a empresa vem adotando medidas de reparação e ampliando a discussão sobre sustentabilidade. Mas também é necessário lembrar que as comunidades afetadas pelas barragens ainda convivem com as consequências da lama, da perda de renda e da destruição ambiental.
A presença da Vale na COP30 nos coloca diante de uma pergunta maior: até que ponto as grandes corporações podem ser parte da solução climática se elas também são, historicamente, parte do problema? Talvez o mais importante não seja escolher um lado, mas manter o olhar crítico e o questionamento vivo.

Por Isadora Konzen | Integrante do PET Educom Clima.