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Fraturas por Estresse: Quando o corpo diz “Chega!”



As fraturas por estresse são pequenas rachaduras no osso causadas por esforço repetitivo ao longo do tempo — mesmo sem uma pancada forte. Elas acontecem com mais frequência em pessoas que praticam atividades físicas intensas e repetitivas, como corrida ou dança. Estima-se que correspondam a 10% a 20% das lesões esportivas e a 10% das lesões ortopédicas em geral. Mesmo um osso saudável pode sofrer esse tipo de lesão quando é exigido além do que consegue suportar, sem tempo suficiente para se recuperar. Aos poucos, pequenos danos vão se acumulando até que a fratura aparece. Os primeiros sinais costumam surgir por volta de três semanas após o aumento da intensidade do treino.

Quem tem mais chance de ter uma fratura por estresse?

As mulheres estão mais suscetíveis a esse tipo de lesão do que os homens. Em treinamentos militares, por exemplo, elas podem ter até quatro vezes mais casos. Entre os mais afetados estão corredores de longa distância, dançarinos e atletas de esportes com impacto repetitivo nas pernas, como salto, ballet ou corrida. As áreas do corpo que mais sofrem são as pernas e os pés, especialmente: a tíbia (osso da canela), os ossos do pé, como os metatarsos (ossos dos dedos), e o fêmur (coxa). Já os braços são raramente atingidos — apenas em esportes bem específicos.

Por que as fraturas acontecem e quais os Fatores de Risco?

A causa é multifatorial. Ou seja, vários fatores contribuem para o surgimento da fratura, mas eles podem ser divididos entre fatores ligados ao estilo de vida de cada pessoa e aqueles ligados ao corpo e a sua composição individual:

  • Fatores extrínsecos (relacionados ao ambiente e estilo de vida):
    • Dieta inadequada, com pouca ingestão de cálcio e vitamina D.
    • Distúrbios alimentares ou hábitos alimentares não saudáveis, especialmente entre mulheres atletas.
    • Treinos muito intensos, com pouca ou nenhuma pausa para descanso.
    • Uso de calçados inadequados ou prática de exercícios em superfícies duras.
  • Fatores intrínsecos (relacionados ao próprio corpo da pessoa):
    • Histórico de fratura por estresse anterior.
    • Sexo feminino (por fatores hormonais e composição corporal).
    • Índice de massa corporal (IMC) muito baixo (associado a déficits nutricionais) ou muito alto (ligado às comorbidades que acompanham a obesidade).
    • Menstruação irregular ou ausente (amenorreia).
    • Alterações biomecânicas, como pés chatos ou cavos, que alteram a distribuição do impacto durante o exercício.

 

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico começa com uma boa conversa do médico com o paciente, levando em conta o histórico de atividade física, alimentação, menstruação (em mulheres) e doenças prévias. Os principais sintomas são dor localizada que piora com o esforço, podendo até ocorrer inchaço.

O exame físico é importante, especialmente para identificar áreas com dor à palpação. Alguns testes específicos, como o “hop test” (teste de saltar com um pé só), ajudam a diferenciar esse tipo de fratura de outras lesões.

Para confirmar o diagnóstico, exames de imagem são fundamentais e os mais utilizados são:

  • Radiografia (Raio-X): geralmente não detecta fraturas nos estágios iniciais.
  • Ressonância magnética (RM): é o exame mais sensível e o padrão-ouro (melhor), pois detecta alterações precoces no osso e nos tecidos ao redor.
  • Tomografia computadorizada (TC): útil em casos específicos, como fraturas no quadril ou pelve.

Além disso, exames de sangue e avaliação da densidade óssea podem ser solicitados, principalmente em casos recorrentes, para investigar possíveis déficits nutricionais ou hormonais.

Qual o tratamento?

A boa notícia é que, na maioria dos casos, não é preciso cirurgia. O tratamento costuma seguir duas etapas:

Fase de repouso  por 6 a 8 semanas, evite atividades que causam dor. Mas podemos manter o corpo em movimento com exercícios de baixo impacto, como natação ou bicicleta ergométrica

Retorno gradual às atividades, depois do descanso, com orientação profissional e fisioterapia, é possível voltar aos treinos de forma segura, desde que a dor tenha melhorado e os exames mostrem que o osso está se recuperando.

E se a dor estiver forte para andar? Pode ser necessário usar muletas ou uma bota imobilizadora. Em casos mais sérios ou em locais mais delicados (como quadril), a cirurgia pode ser indicada.

Além disso, a suplementação com cálcio e vitamina D tem se mostrado eficaz na prevenção e tratamento. Estudos mostraram que atletas que consumiram 2.000 mg de cálcio e 800 UI de vitamina D por dia tiveram menos fraturas. Para isso, é necessário que você consulte seu médico.

Como prevenir?

A prevenção é essencial e inclui:

  • Alimentação balanceada, rica em cálcio, vitamina D e proteínas.
  • Treinos bem orientados, com acompanhamento profissional, com progressão gradual da intensidade.
  • Uso de calçados adequados.
  • Evitar dietas restritivas.
  • Tratar distúrbios alimentares.
  • Atenção especial à saúde menstrual em mulheres atletas.
  • Educação de treinadores, profissionais de saúde e dos próprios atletas.

 Sentiu dor fora do comum? Não ignore! Procure um profissional: médico, fisioterapeuta ou educador físico. Às vezes, dar um passo para trás é o que te permite seguir em frente com mais força e segurança.

Referências Bibliográficas:

 

  1. da Rocha Lemos Costa TM, Borba VZC, Correa RGP, Moreira CA. Stress fractures. Arch Endocrinol Metab. 2022 Nov 11;66(5):765-773. doi: 10.20945/2359-3997000000562. PMID: 36382766; PMCID: PMC10118812.
    Disponível em:
    https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36382766/
  2. Milner CE, Foch E, Gonzales JM, Petersen D. Biomechanics associated with tibial stress fracture in runners: A systematic review and meta-analysis. J Sport Health Sci. 2023 May;12(3):333-342. doi: 10.1016/j.jshs.2022.12.002. Epub 2022 Dec 5. Erratum in: J Sport Health Sci. 2025 Jan 21;14:101019. doi: 10.1016/j.jshs.2024.101019. PMID: 36481573; PMCID: PMC10199137.
    Disponível em:
    https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10199137/

Autor:

Henrique Scherer Buffon – Acadêmico do curso de graduação em Medicina pela UFSM e colaborador do
Portal Ciência e Consciência.

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