A busca pelo emagrecimento vem crescendo cada vez mais nos últimos anos. Muitas pessoas desejam perder peso não apenas por questões estéticas, mas também como forma de melhorar a saúde e reduzir riscos de doenças como hipertensão, diabetes e complicações cardiovasculares. No entanto, o processo de emagrecimento costuma ser lento, exigindo mudanças no estilo de vida, como a busca por uma alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos, sono adequado e manejo do estresse. Esse caminho muitas vezes é desafiador, levando parte da população a procurar alternativas que acelerem os resultados, entre elas as chamadas “canetas emagrecedoras”.
Esses medicamentos injetáveis ganharam destaque nos últimos anos. Eles funcionam imitando a ação de hormônios naturais ligados à fome e à saciedade. O exemplo mais famoso é o Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida. Originalmente aprovado para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2, o fármaco estimula a secreção de insulina pelas células do pâncreas, agindo de maneira semelhante ao GLP-1, um hormônio incretina secretado pelas células L do intestino, que regula os níveis de glicose no sangue e a atividade do glucagon, outro hormônio envolvido no controle da glicemia. O GLP-1, ao estimular a secreção de insulina, também provoca diminuição do apetite, aumento da sensação de saciedade e retardamento do esvaziamento gástrico. Esses efeitos facilitam o processo de emagrecimento, e é por isso que o medicamento Ozempic se popularizou entre pessoas que buscam alternativas para perder peso.
Contudo, o Ozempic não é a única opção disponível. Outro medicamento amplamente estudado é a liraglutida (Saxenda), também um agonista do receptor de GLP-1, usada especificamente para o tratamento da obesidade em doses maiores que as empregadas para o diabetes. Mais recentemente, a tirzepatida (Mounjaro) se destacou por atuar em dois hormônios ao mesmo tempo, o GLP-1 e GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose), o que potencializa o efeito na perda de peso. Em estudos clínicos de fase 3, participantes chegaram a perder em média mais de 15% do peso corporal em pouco mais de um ano de tratamento.
Apesar de todo esse avanço, cresce também o “uso off-label” (fora da indicação oficial em bula) dessas medicações. Muitas pessoas, sem diagnóstico de diabetes ou obesidade, têm recorrido a essas canetas apenas por desejo estético de emagrecimento. Esse comportamento é preocupante, pois o uso sem acompanhamento médico pode causar efeitos adversos como náuseas, vômitos, diarreia, constipação, refluxo e até complicações mais graves, como pancreatite. Além disso, ao suspender o tratamento sem mudanças no estilo de vida, há risco de efeito rebote, com recuperação do peso perdido.
Outro aspecto que explica a rápida popularização dessas medicações é o fim das patentes de alguns desses fármacos, o que abre caminho para versões genéricas ou biossimilares mais baratas. Se, por um lado, isso amplia o acesso, por outro pode favorecer o uso indiscriminado, sem orientação adequada, aumentando os riscos para pessoas que não têm indicação clínica.
A obesidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma doença crônica, multifatorial, relacionada a fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Portanto, seu tratamento deve ser amplo, envolvendo médicos, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos. As canetas emagrecedoras representam um avanço importante no arsenal terapêutico, mas não devem ser vistas como soluções mágicas. Elas são ferramentas que podem ajudar no tratamento, especialmente em pacientes com obesidade ou doenças associadas, mas precisam ser acompanhadas por mudanças de hábitos e acompanhamento profissional.
Em resumo, o emagrecimento pode ser um processo bastante desafiador para quem passa, e que necessita de muita paciência e apoio de todos que estão em volta. A mudança de hábitos, a busca por uma alimentação saudável e a realização de exercício físico são elementos chave para conseguir a tão sonhada mudança, seja ela por motivos estéticos ou por questões de saúde. O uso de remédios como o Ozempic ou demais medicamentos nunca deve ser a primeira e única opção, e deve vir sempre seguida por acompanhamento médico.
Referências Bibliográficas:
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Autora:
Débora Luísa Filipetto Pulcinelli, acadêmica do curso de Farmácia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.
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