A Inteligência Artificial (IA) vem transformando a dermatologia e a estética, oferecendo inovações promissoras, mas também levantando desafios éticos, técnicos e clínicos. Seu uso em análise de imagens cutâneas, diagnóstico, monitoramento de tratamentos e personalização de skincare tem crescido rapidamente, conforme apontam revisões recentes da literatura.
A maior parte das ferramentas de IA utiliza técnicas de visão computacional e redes neurais profundas para analisar fotos ou vídeos da pele. Esses algoritmos aprendem padrões a partir de grandes bases de dados e podem identificar lesões, texturas, pigmentações e até sugerir classificações de risco. Quando bem treinados, modelos podem superar a acurácia de especialistas humanos em tarefas específicas. Além disso, a IA pode acompanhar a evolução da pele, comparando imagens ao longo do tempo, o que é útil para monitorar tratamentos estéticos, detectar pequenas alterações e medir resultados de forma objetiva.
Apesar do potencial, há limitações importantes. Um desafio central é o viés nos dados de treino. Muitos modelos foram desenvolvidos com bases que não representam adequadamente todos os tipos de pele, especialmente tons mais escuros, o que pode reduzir a acurácia e gerar diagnósticos incorretos ou recomendações inadequadas. Outro ponto crítico é a falta de explicabilidade: muitos algoritmos funcionam como uma “caixa-preta”, tornando difícil entender ou validar suas decisões. Além disso, a regulação dessas tecnologias ainda é incipiente, o que torna a implementação segura um desafio.
A IA também levanta questões éticas e de privacidade. Como trabalha com imagens faciais, dados extremamente sensíveis, é fundamental garantir armazenamento seguro, uso autorizado e políticas claras de consentimento. Estudos recentes indicam que princípios éticos como justiça, inclusão, transparência, responsabilidade e confiabilidade devem nortear o desenvolvimento e a aplicação desses sistemas. A equidade é um aspecto central: algoritmos que não foram treinados em uma população diversificada podem favorecer certos grupos e prejudicar outros.
Mesmo com limitações, a IA apresenta aplicações úteis na estética. Ela permite avaliação objetiva de textura, manchas e rugas, facilita o acompanhamento do progresso de tratamentos, apoia a personalização de produtos e procedimentos e aumenta o engajamento dos usuários com a saúde da pele. Quando integrada de forma responsável à prática clínica, a IA pode complementar o trabalho do profissional, mas nunca substituí-lo.
O futuro da IA na estética aponta para uma integração ainda maior com aparelhos clínicos, plataformas de teledermatologia e produtos dermocosméticos personalizados. Para isso, é essencial que os modelos sejam treinados em conjuntos de dados diversos, que suas decisões sejam explicáveis e que profissionais de saúde continuem envolvidos, garantindo uso seguro, ético e eficaz.
A Inteligência Artificial trouxe inovação e praticidade ao universo da estética, mas ainda possui limitações significativas. Ela pode apoiar o cuidado com a pele, fornecendo informações rápidas e objetivas, mas não substitui profissionais qualificados nem fornece diagnóstico clínico. O uso seguro e eficiente da tecnologia depende da combinação entre ferramentas inteligentes, supervisão humana, ética e regulamentação adequada.
Referências Bibliográficas:
Zbrzezny, A. M., & Krzywicki, T. Artificial Intelligence in Dermatology: A Review of Methods, Clinical Applications, and Perspectives. Applied Sciences, 2025. https://www.mdpi.com/2076-3417/15/14/7856
Daneshjou, R., Vodrahalli, K., Novoa, R. A., Jenkins, M., et al. Disparities in Dermatology AI Performance on a Diverse, Curated Clinical Image Set. arXiv, 2022. https://arxiv.org/abs/2203.08807
Ethical considerations for artificial intelligence in dermatology: a scoping review. British Journal of Dermatology, 2024. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38330217
Autora:
Bruna Fernanda da Silva Freitas, aluna do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.
Lattes: https://lattes.cnpq.br/9446511046806460