Ir para o conteúdo CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA Ir para o menu CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA Ir para a busca no site CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA Ir para o rodapé CIÊNCIA E CONSCIÊNCIA
  • International
  • Acessibilidade
  • Sítios da UFSM
  • Área restrita

Aviso de Conectividade Saber Mais

Início do conteúdo

Doença de Crohn: o inimigo invisível do seu intestino



A Doença de Crohn é uma inflamação crônica do trato gastrointestinal, que costuma afetar mais a região do íleo (parte final do intestino delgado) e o cólon, responsáveis pela absorção de água, sais minerais e vitaminas como K, B1 (tiamina) e B2 (riboflavina). Apesar disso, a doença pode atingir qualquer parte do trato gastrointestinal, acometendo todas as camadas da parede intestinal. Uma de suas características marcantes é a presença de áreas inflamadas intercaladas com tecido saudável, o que dificulta o diagnóstico. A causa da doença não é completamente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada a uma resposta imunológica desregulada, influenciada por fatores genéticos, ambientais, alimentares e infecciosos. A Doença de Crohn afeta igualmente homens e mulheres, sendo mais frequente entre 20 e 40 anos, com maior incidência em fumantes (devido à fumaça do cigarro apresentar efeito inflamatório).

Além disso, diversos fatores contribuem para o desenvolvimento dessa doença, incluindo alterações na motilidade intestinal, caracterizadas por contrações exageradas do intestino, especialmente após a ingestão de alimentos gordurosos ou em situações de estresse. Também se observa uma hipersensibilidade da parede intestinal a estímulos como oxigenação inadequada, infecções e até alterações de origem psicológica. Esses fatores, somados a processos inflamatórios persistentes, infecções e condições como depressão e ansiedade, podem influenciar significativamente no surgimento e agravamento do quadro clínico.

Os sintomas mais comuns da Doença de Crohn incluem dor abdominal, diarreia (com ou sem muco e sangue), febre, perda de peso e enfraquecimento devido à má absorção de nutrientes. Também podem ocorrer manifestações extraintestinais, como dores articulares, aftas, lesões de pele, uveíte (inflamação nos olhos) e formação de pedras nos rins e na vesícula. Entre as complicações mais graves, estão a obstrução intestinal e a formação de fissuras e fístulas (comunicação anormal entre duas ou mais estruturas do corpo que, em condições normais, não se comunicam), sobretudo na região próxima do ânus, ou seja, de perfurações no intestino que podem drenar para a região perineal, para a vagina e para a bexiga.

O diagnóstico é feito a partir da avaliação clínica, histórico do paciente e exames laboratoriais e de imagem. Como os sintomas podem se confundir com outras doenças gastrointestinais, é essencial localizar as áreas afetadas. Os exames utilizados incluem: Colonoscopia, endoscopia digestiva, raios X intestinal (enema opaco), tomografia, ressonância magnética e exames laboratoriais como hemograma, dosagem de proteína C-reativa, ferro e VHS (velocidade de hemossedimentação).

Embora a Doença de Crohn ainda não tenha cura definitiva, o tratamento visa controlar a inflamação, aliviar os sintomas, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A abordagem terapêutica é individualizada, levando em consideração a gravidade, a extensão e a localização da doença, além da resposta aos medicamentos utilizados. O objetivo é manter a remissão clínica, ou seja, um estado em que os sintomas estão ausentes ou reduzidos. Para isso, são utilizados diversos recursos, que podem incluir medicamentos, mudanças na dieta, terapias biológicas e, em alguns casos, cirurgia. Os corticosteroides, como a prednisona, são responsáveis por controlar crises inflamatórias agudas e são eficazes para induzir a remissão, mas seu uso prolongado não é recomendado devido aos efeitos colaterais. Imunomoduladores, que atuam regulando a resposta imunológica do organismo, como azatioprina, 6-mercaptopurina e metotrexato, são utilizados para manter a remissão e reduzir a dependência de corticosteroides.

Além disso, os tratamentos biológicos com anticorpos monoclonais são indicados em casos moderados a graves ou quando os tratamentos convencionais não funcionam. Esses fármacos bloqueiam moléculas específicas envolvidas na inflamação. Para crianças, é usada a nutrição enteral que consiste em uma dieta líquida, rica em nutrientes e de fácil absorção, ajudando a reduzir a inflamação intestinal. É importante destacar que cerca de 57% dos pacientes precisarão de cirurgia em algum momento, devido às obstruções intestinais, fístulas, abscessos, perfurações e hemorragias. A cirurgia não é curativa, mas pode melhorar significativamente os sintomas e a qualidade de vida.

 

Durante os períodos de remissão, a maioria dos pacientes pode levar uma vida praticamente normal, sendo recomendadas algumas medidas para evitar o retorno dos sintomas, como não fumar, praticar exercícios físicos moderados, controlar o estresse na medida do possível, evitar alimentos gordurosos ou ricos em fibras, manter um peso saudável, seguir orientação nutricional especializada e observar o aspecto das fezes, procurando um médico caso observar sinais de sangue.

Referências Bibliográficas:

1. Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn. Disponível em: https://www.abcd.org.br/sobre-a-doenca-de-crohn/ 

2. BRASIL. Ministério da Saúde. 19/5: Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/19-5-dia-mundial-da-doenca-inflamatoria-intestinal 2/#:~:text=O%20Dia%20Mundial%20da%20Doen%C3%A7a,conhecidas%20como%20doen%C3%A7as%20inflamat%C3%B3rias%20intestinais.

3. VEAUTHIER, Brian; Hornecker, Jaime R. Crohn’s disease: diagnosis and managementAmerican Family Physician, v. 98, n. 11, p. 661–669, 2018. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30485038/

4. ESTEVINHO, et al. Uma revisão de escopo sobre doença inflamatória intestinal precoce: definições, patogênese e impacto nos resultados clínicosTherapeutic Advances in Gastroenterology, v. 15, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1177/17562848221142673.

 

Autora:

Gabriela Achunha Razzera, acadêmica do curso de Farmácia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.

Latteshttp://lattes.cnpq.br/7312380567761561

Divulgue este conteúdo:
https://ufsm.br/r-910-552

Publicações Recentes