O sono desempenha um papel crucial na manutenção da saúde física e mental, sendo essencial para a recuperação do organismo e o equilíbrio de diversas funções biológicas, fundamental para a capacidade de aprendizado, o bem-estar emocional e a consolidação da memória, e um pilar indispensável para a qualidade de vida.
Durante o período noturno, o indivíduo geralmente passa por quatro a seis ciclos de sono, cada um composto por quatro estágios distintos: três estágios não-REM (N1, N2, N3) e o estágio REM. O estágio REM é particularmente associado à ocorrência dos sonhos, que é considerada uma atividade cerebral comum durante o sono. Todo indivíduo ao dormir sonha, mas nem todos lembram dos sonhos. Antes de chegar no estágio REM, o corpo passa pelos três estágios não-REM, sendo o N3 caracterizado pela ocorrência do sono profundo.
O sono profundo geralmente tem uma duração média de 70 a 90 minutos e ocorre predominantemente nas primeiras horas do ciclo de sono. Sabe-se que durante esse período, há uma redução significativa na frequência cardíaca, no tônus muscular e na taxa respiratória, enquanto as ondas cerebrais apresentam um padrão de baixa frequência e alta amplitude (padrões rítmicos da atividade elétrica dos neurônios ficam lentos), refletindo uma atividade neuronal mais sincronizada. Devido a essas características, o despertar torna-se mais difícil nesse estágio. Cientistas se questionam e acreditam que, enquanto dormimos, o cérebro é responsável por recordar de tudo que foi vivenciado no dia a dia, fazendo com que a memória de curto prazo, que está presente em uma região denominada hipocampo consiga levar essa informação para outra região conhecida como neocórtex, onde vai ocorrer a consolidação da memória de longo prazo.
Há duas décadas, cientistas sabiam que as ondas cerebrais lentas e síncronas do sono profundo são importantes para a formação da memória, todavia, eles não sabiam o porquê desse fato acontecer, até o presente momento. Pesquisadores da Universidade de Charité, em Berlim, na Alemanha, analisaram tecido cerebral humano do neocórtex intacto de 45 pacientes que tinham passado por cirurgia para tratar epilepsia ou tumores cerebrais, para entender os processos que guiam a formação de memórias no sono profundo. Com um equipamento, eles simularam as flutuações síncronas de voltagem dos neurônios do sono profundo e analisaram a resposta das células nervosas.
Os cientistas observaram que as ondas cerebrais lentas são responsáveis por influenciar a força das conexões sinápticas entre os neurônios da região do neocórtex, ou seja, no sono profundo, essa região do cérebro está mais receptiva a novas informações. Em algum momento específico que está ocorrendo a saída de energia baixa para a região do neocórtex, ocorre uma saturação e, consequentemente, um aumento de energia, fazendo com que as conexões sinápticas dos neurônios aumentem ao máximo. Durante o período que está ocorrendo esse recebimento de energia, se o cérebro se lembra de alguma memória que vivenciou ao longo do dia, ela acaba por ser transferida para o armazenamento de longo prazo. Por conta disso que no sono profundo novas memórias são formadas, mesmo por esse curto período de conectividade.
Entender como a memória pode ser consolidada pode auxiliar em terapias para melhorar a memória de indivíduos idosos que tenham problemas com suas lembranças, ou até mesmo para pessoas portadoras de doença neurodegenerativa, como é o caso do Alzheimer. Usar impulsos elétricos sutis ou sinais acústicos para influenciar as ondas cerebrais durante o sono, pode ser um caminho para melhorar a memória de quem necessita. Mais estudos devem ser feitos para elucidar os supostos mecanismos do armazenamento de memória a longo prazo.
Referências Bibliográficas:
1. MITTERMAIER, F. X. et al. Estados potenciais de membrana bloqueiam a consolidação sináptica no tecido neocortical humano. Comunicações da Natureza, v 10340, n. 15, 2024. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-024-53901-2
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2. REVISTA SUPER INTERESSANTE Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/por-que-o-sono-profundo-e-importante-para-a-formacao-de-memorias/
3. LOMBROSO, P. Aprendizado e memória. Braz. J. Psychiatry. v. 26, n. 3, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/kFQxYnRjVMs7fG5cffRHCjv/?format=html
Autora:
Graziela Moro Meira, acadêmica do curso de Farmácia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e colaboradora do Portal Ciência e Consciência.