Por João Fortunato (Jornalista, Mestre em Comunicação e Cultura Midiática e especialista em Gestão de Crises e Media Training)
Ser um bom líder não é apenas comandar com autoridade e gerenciar bem os afazeres do cotidiano, mas também e sobretudo durante as situações de crise, quando o equilíbrio emocional, o raciocínio ágil e a razão devem prevalecer, sem, é claro, deixar de lado a empatia e a solidariedade.
Dizem que é na hora da adversidade que se reconhece o verdadeiro líder. Não tenho dúvidas da verdade desta máxima. É quando todos estão submergindo que o líder nato emerge para o “resgate” dos demais. O governador Eduardo Leite, do RS, nesta tragédia que infelizmente abraça o seu Estado, não tem se revelado o líder que se esperava ou se imaginava que seria. No início politizou a situação e depois começou a falar coisas que não soaram nada bem aos ouvidos de seus pares políticos e da população, de dentro e fora do Rio Grande do Sul.
Primeiro, quando a imensidão das águas começava a tomar conta das cidades gaúchas, ele se aproveitou da situação para alfinetar o governo federal e o presidente da república. Quis lacrar com a sua bolha. Nada contra, faz parte do jogo democrático. Só que o momento indicado não era aquele. O seu foco deveria estar direcionado única e exclusivamente para a tragédia que acometia o Estado que dirige.
Na ocasião, muitos hão de se lembrar, o governador disse que o drama do Estado não poderia ser visto do alto, que o presidente teria que descer de seu helicóptero para ver de perto, ou seja, experimentar no chão alagado e enlameado a dor da realidade. Observação totalmente descabida, fora de hora e oportunista. Ele, assim como todos os brasileiros, sabe que o presidente Lula, como cabalmente demonstrado em diferentes ocasiões, não tem receio de pisar na lama e, é notório, que o que mais gosta é de estar junto da população. O governador foi infeliz e, por isso, muito criticado. Não era hora de fazer política, sobretudo porque o Sul, naquele momento, não tinha ideia do quanto precisaria do apoio federal.
Mas Leite não aprendeu a lição. Depois dessa, se envolveu numa discussão com o jornalista André Trigueiro, que é especializado em questões ambientais, durante uma entrevista ao vivo num dos programas de maior audiência da Globonews. O seu destempero se deu porque o jornalista cobrou dele a adoção de medidas preventivas. Negou, tentou desmentir o jornalista e encenou um bate-boca desnecessário. Mais tarde, numa longa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, admitiu que apesar dos alertas, “não investiu mais porque o que se impunha era a questão fiscal”. Admitiu agora porque não dá mais para tapar o sol com a peneira, a falta de investimento em ações preventivas ficou evidente com o tamanho da catástrofe.
Depois, veio à público questionar a indicação do gaúcho Paulo Pimenta, ex-ministro das comunicações, para o cargo de representante do governo federal no processo de reconstrução do Rio Grande do Sul. O indicado terá o papel de fiscalizar os investimentos oriundos do caixa de Brasília. De acordo com o governo federal, Pimenta foi o escolhido porque é nativo do Estado e o conhece bem. O problema da indicação é que Pimenta tem interesse em se candidatar ao governo gaúcho e Leite, pensando novamente nas urnas, pôs a boca no trombone. Discussão igualmente fora de hora. Teme perder o protagonismo no processo de reconstrução. Tomara que ambos se entendam, pois o que deve ser priorizado é o bem-estar do povo atingido, a restauração do cotidiano normal das pessoas e a reconstrução do Estado, sem esquecer agora das ações preventivas conforme apontado por especialistas.
Como se tudo isso fosse pouco, o governador veio ainda a público pedir para que cessassem as doações aos atingidos pela tragédia porque temia pela sobrevivência do comércio local. As respostas contrárias à sua observação sem sentido vieram de prefeitos, comerciantes e dos próprios atingidos. Percebido o erro, correu para tentar corrigi-lo, mas aí já era tarde. Tudo já havia sido registrado.
E como prova de que não aprendeu com as enchentes de 2023 a ser o líder necessário para o gerenciamento desta crise (2024) sem precedentes que abalou o Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite, sobre o não atendimento das comunidades quilombolas atingidos pela tragédia, disse que o volume de pessoas desalojadas e em abrigos dificulta o atendimento “em todas as pontas”. É inaceitável a desculpa do mandatário gaúcho. Melhor parar por aqui porque o rosário que pode ser desfiado é ainda mais longo!
O governo do Rio Grande do Sul e o seu governador em particular precisam urgentemente de um suporte profissional e especializado em comunicação de crise. Se já existe, não parece estar atendendo as necessidades. Além disso, o governador precisa urgente de um Media Training voltado para situações de crise. Tem que aprender a lidar com o contraditório sem perder o equilíbrio emocional. Ser um porta-voz destemperado, que quando pressionado sai chutando as canelas dos jornalistas, não é a melhor postura. O Rio Grande do Sul tem inúmeros profissionais especializados e muito competentes em comunicação de crise e media training de crise que poderiam apoiá-lo e impedir este desgaste este desnecessário.
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