- Ativação do Gabinete de Crise de Comunicação – Quando e com base em quais critérios a Secom-RS instalou o Gabinete de Crise durante as enchentes de 2024, e que aprendizados de timing e governança ficaram para futuros eventos extremos?
A ativação do Gabinete de Crise de Comunicação ocorreu ainda nos primeiros dias da catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul no início de maio de 2024. O volume crescente e repentino de demandas da imprensa — local, nacional e internacional —, somado à necessidade urgente de repassar informações de utilidade pública e atualizações sobre as ações do governo, exigiu uma resposta rápida e estruturada da Secretaria de Comunicação.
Com base na análise do cenário e na experiência da equipe, foi decidido implementar uma estratégia de governança com a criação de “núcleos de atendimento e produção de conteúdo”. Esses núcleos passaram a atuar de forma coordenada em frentes específicas: atendimento à imprensa, gestão de crise, divulgação de boletins, produção de materiais audiovisuais, gerenciamento das redes sociais e apoio aos órgãos do governo na interlocução com a sociedade.
A estrutura permitiu agilizar os fluxos de informação, garantir alinhamento institucional nas mensagens e assegurar maior previsibilidade nos tempos de resposta — inclusive em situações de alta complexidade. Um dos legados mais relevantes desse processo foi a consolidação de um grupo intersetorial altamente funcional, que segue ativo até hoje por meio de um canal permanente de comunicação (via WhatsApp), voltado a temas sensíveis e à continuidade da cobertura da reconstrução do Estado.
Entre os principais aprendizados, destacam-se:
- a importância da ativação precoce de uma governança de crise;
- a necessidade de equipes dedicadas e com funções bem definidas;
- a força de uma comunicação transparente, ágil e centralizada para enfrentar eventos extremos e proteger vidas.
Esse modelo de atuação passará a integrar os protocolos da Secom-RS para futuras situações de emergência, processo em elaboração junto a pesquisadores externos.
- Arquitetura do Núcleo de Combate à Desinformação – Como foi estruturado esse Núcleo — equipe, procedimentos de checagem, escalonamento e publicação — para garantir velocidade e acurácia no enfrentamento das fake news?
Em maio de 2024, diante da crescente circulação de conteúdos falsos e distorcidos durante a crise climática no Rio Grande do Sul, a Secretaria de Comunicação (Secom-RS) instituiu uma força-tarefa dedicada ao enfrentamento da desinformação. A iniciativa resultou na criação do Núcleo de Combate à Desinformação, vinculado ao Gabinete de Crise de Comunicação.
A estrutura do núcleo foi composta por jornalistas experientes, com amplo domínio dos temas em maior evidência no contexto emergencial. O fluxo de trabalho seguia critérios rigorosos de verificação: todas as informações suspeitas eram inicialmente compartilhadas em um grupo interno de WhatsApp, onde passavam por triagem preliminar. A partir daí, eram conduzidos os procedimentos de checagem com base em fontes oficiais, especialistas técnicos e bancos de dados públicos.
Havendo confirmação de que se tratava de desinformação, o núcleo definia a estratégia de resposta: produção de conteúdo esclarecedor (em formato de texto, imagem e vídeo), publicação nas redes sociais oficiais e, quando necessário, divulgação de notas à imprensa ou inserções em veículos de comunicação. O trabalho contou com apoio de agências independentes de fact-checking, além da colaboração da Meta (empresa responsável por Facebook, Instagram e WhatsApp), que atuou na sinalização e contenção da disseminação de conteúdos falsos.
Além disso, o governo estadual manteve diálogo constante com a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) para viabilizar investigações e responsabilização legal dos autores da disseminação de fake news — especialmente em casos que colocavam em risco a integridade de serviços públicos e a segurança da população.
Como legado, o Núcleo estabeleceu um protocolo de ação ágil, transparente e tecnicamente embasado, que passa a integrar os mecanismos permanentes de enfrentamento à desinformação no âmbito do governo do Estado.
- Parcerias externas e responsabilização legal – Quais mecanismos de colaboração foram estabelecidos com plataformas digitais, agências de fact-checking e órgãos de investigação para derrubar conteúdos nocivos e responsabilizar autores de desinformação, e que lacunas jurídicas ou técnicas ainda persistem?
Durante a crise climática de 2024, a Secretaria de Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul (Secom-RS) atuou de forma integrada com diferentes parceiros externos para enfrentar a desinformação de maneira ágil, técnica e responsável. No âmbito das plataformas digitais, foi estabelecida colaboração direta com a Meta, proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp, o que permitiu agilizar a sinalização de conteúdos enganosos, ampliar o alcance de informações oficiais e aplicar mecanismos de contenção à circulação de fake news.
Além disso, o Núcleo de Combate à Desinformação da Secom manteve diálogo contínuo com agências de fact-checking independentes, que contribuíram com validação técnica e amplificação da checagem de fatos em larga escala, reforçando a credibilidade das informações disseminadas pelo governo.
No campo da responsabilização legal, houve articulação com a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) para apuração de casos mais graves de desinformação, especialmente aqueles que colocavam em risco a segurança da população ou prejudicavam o funcionamento de serviços públicos. Esses casos foram encaminhados para investigação e, quando cabível, abertura de procedimentos legais.
Apesar dos avanços, persistem lacunas jurídicas e técnicas que dificultam uma atuação ainda mais eficaz. Entre os principais desafios estão:
– a ausência de normativas específicas que responsabilizem de forma mais célere os autores de desinformação em contextos emergenciais;
– limitações no acesso a dados de origem de conteúdos falsos, especialmente em aplicativos com alto grau de criptografia e circulação fechada;
– e a necessidade de maior agilidade das plataformas na remoção de conteúdos nocivos sinalizados por autoridades públicas.
Esses pontos reforçam a urgência de uma regulamentação nacional mais robusta, que dê respaldo legal à atuação dos órgãos públicos e promova maior responsabilização das plataformas na contenção da desinformação, especialmente em momentos de calamidade pública.
- Segmentação regional das mensagens de alerta – Poderia explicar como funcionam os canais de comunicação criados para as 28 Regiões Funcionais (grupos de WhatsApp, e-mails, comunidade de jornalistas) e de que forma essa reestruturação impactou a credibilidade e o alcance das informações de serviço?
Na verdade, o Estado é organizado em 9 Regiões Funcionais de Planejamento, estrutura que a Secom-RS passou a adotar de forma mais estratégica para ações de publicidade, divulgação institucional e relacionamento com a imprensa.
Com isso, a Secretaria reestruturou os canais já existentes, segmentando-os conforme cada uma das 9 regiões. Grupos de WhatsApp e listas de e-mails foram reorganizados para garantir que os jornalistas e veículos de comunicação recebessem apenas informações relevantes para sua área de cobertura, aumentando a pertinência e o engajamento com os conteúdos enviados.
Os profissionais da imprensa foram realocados nos grupos correspondentes à sua respectiva região, o que tornou o fluxo de notícias mais direcionado, evitando excesso de informações irrelevantes e ampliando a efetividade da comunicação. Além disso, foi mantido um grupo geral, que reúne jornalistas de todo o Estado, destinado à divulgação de conteúdos de interesse mais amplo ou estadual. Foi mantido ainda um grupo da Defesa Civil Estadual, que tem a participação de inúmeros jornalistas de fora do Estado dispostas a acompanhar os alertas meteorológicos e seus efeitos.
Essa segmentação trouxe resultados concretos: maior agilidade na disseminação de alertas, ganho de credibilidade junto à imprensa regional e aumento do alcance das informações de utilidade pública, especialmente em situações emergenciais. A iniciativa reforça a estratégia de uma comunicação pública mais descentralizada, próxima da realidade local e alinhada às necessidades dos veículos regionais.
- Integração da abordagem “Uma Só Saúde” – Como a Secom articulou mensagens preventivas multissetoriais (leptospirose, vacinação, doações) para minimizar ruído e pânico, considerando a interface entre saúde humana, animal e ambiental?
Diante de um cenário complexo, com riscos simultâneos como leptospirose, doenças respiratórias, contaminação da água, perdas de vacinas, documentos e necessidade de cuidado com animais resgatados, a Secom estruturou um fluxo de comunicação alinhado com os órgãos técnicos do governo (como SES, SEMA, Defesa Civil, Secretaria da Agricultura e outras) para garantir coerência, clareza e responsabilidade nas mensagens à população. Tínhamos acompanhamento diário com as áreas técnicas, para atualizar os conteúdos conforme a evolução da situação e evidências científicas.
A Secom também atuou para alinhar discursos entre secretarias e autoridades, reduzindo ruídos e garantindo que a informação circulasse de forma coordenada e confiável, contribuindo para manter a calma da população e estimular comportamentos preventivos. A secretaria também articulou e viabilizou a produção de cartilhas e documentos de orientação para as situações mais preocupantes, como o retorno às residências após o refluxo das águas e boas-práticas para estruturação e manutenção de abrigos públicos de pessoas e animais.
- Transparência via portais e dashboards de dados – Quais métricas de acesso, engajamento e feedback cidadão orientaram a atualização diária do portal SOS Rio Grande do Sul e dos painéis do Plano Rio Grande durante a fase de reconstrução?
A Secretaria de Comunicação (Secom-RS), em parceria com a Procergs e demais órgãos do governo, adotou um modelo de transparência ativa e responsiva para manter a população informada sobre ações emergenciais e de reconstrução, por meio do portal SOS Rio Grande do Sul e dos painéis interativos do Plano Rio Grande. Dados de acesso às páginas relacionadas à tragédia climática, demandas da imprensa e comentários nas redes sociais ajudaram a identificar os temas de maior interesse a serem debatidos e publicizados em nossas comunicações.
Importante ressaltar também que a arquitetura do site SOS Enchentes foi pensada, desde o início de seu desenvolvimento, para um formato estruturado a partir da visão do usuário, para tornar imediata e intuitiva a identificação dos tópicos de informação. O site foi programado com botões móveis de formato padrão, que permitiram a reorganização, em tempo real, a hierarquia dos assuntos na página inicial para seguir a relevância de cada tema a cada momento.
- Capacitação e cultura profissional em comunicação de risco – Que programas de formação ou diretrizes éticas estão em curso para fortalecer competências dos jornalistas concursados e comissionados em verificação de fatos e gestão de crise?
A crise climática de 2024 representou um marco de aprendizado para toda a estrutura de comunicação do governo do Estado. A partir dessa experiência, a Secretaria de Comunicação (Secom-RS) iniciou a construção de protocolos formais de comunicação de risco e crise, com o objetivo de fortalecer a atuação de seus profissionais e aprimorar a resposta institucional em cenários de emergência.
Esses protocolos estão sendo desenvolvidos com base em boas práticas nacionais e internacionais, e incluem diretrizes éticas, padrões de checagem de informações, estratégias de contenção de desinformação e modelos de fluxos ágeis de comunicação com órgãos técnicos e públicos prioritários.
Assim que finalizados, esses materiais servirão de base para um programa de capacitação contínua, voltado a jornalistas efetivos, comissionados e demais integrantes das equipes de comunicação da Secom e das secretarias do governo. A proposta inclui oficinas, simulações práticas, guias operacionais e conteúdos digitais.
Além disso, a Secom pretende ampliar o alcance dessas orientações por meio de ações formativas voltadas também aos profissionais da imprensa regional, estimulando uma cultura colaborativa de enfrentamento à desinformação e de comunicação responsável em contextos de crise.
Esse esforço representa um passo importante na institucionalização da cultura de comunicação pública de risco, com foco em ética, precisão, agilidade e transparência como pilares fundamentais para proteger a população e preservar a confiança nas informações oficiais.
- Avaliação de impacto das estratégias – Um ano após a enchente, quais indicadores (tempo médio de resposta, checagens publicadas, remoções de conteúdo, pesquisas de percepção) são usados para medir a efetividade do combate à desinformação, e há planos de auditorias externas ou novos estudos que subsidiem ajustes futuros?
O enfrentamento à desinformação durante a crise climática de 2024 exigiu respostas rápidas, coordenadas e, muitas vezes, em tempo real. Diante do volume excepcional de informações falsas circulando e da urgência na disseminação de dados confiáveis, o foco da equipe de comunicação esteve voltado prioritariamente à resposta ágil e contínua, com base em um monitoramento ativo de redes sociais, veículos de imprensa e canais diretos de contato com a população.
Embora ainda não exista um sistema estruturado de avaliação formal com indicadores consolidados, buscamos continuamente nos antecipar às dúvidas e questionamentos mais recorrentes, ajustando a estratégia de comunicação de forma dinâmica e responsiva.
O trabalho foi conduzido de forma colaborativa, com apoio de plataformas digitais, agências parceiras e órgãos de segurança, e os aprendizados acumulados nesse processo já estão sendo considerados para a construção de protocolos mais robustos, que poderão no futuro incluir ferramentas de medição, análise de impacto e eventuais estudos técnicos de avaliação externa.
Mais do que números, o resultado mais significativo até aqui tem sido a confiança mantida nos canais oficiais de informação e a capacidade de manter um fluxo constante e transparente de orientações em um momento de grande fragilidade social.
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*Maicon Bock é secretário-adjunto de Comunicação do Governo do Rio Grande do Sul. Jornalista formado pela Unisinos e pós-graduado em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, tem mais de 20 anos de experiência na área da comunicação, com atuação nos setores público, privado e na imprensa.
Passou por veículos como Zero Hora, Correio do Povo, Jornal VS e portal Terra. Em 2012, foi eleito Repórter do Ano. No Metro Jornal, onde atuou como editor-chefe por sete anos, o veículo foi reconhecido duas vezes consecutivas como Veículo do Ano pela Associação Rio-grandense de Propaganda (ARP).
Na comunicação política e institucional, atuou na presidência da Assembleia Legislativa, foi assessor especial de gabinete na Prefeitura de Novo Hamburgo, consultor de comunicação na Critério e coordenador de imprensa do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).