Projeto é desenvolvido por professoras do Centro
Via Notícias UFSM
A UFSM contribui desde 2008 com a construção de políticas públicas que auxiliam na educação inclusiva no arquipélago de Cabo Verde por meio do projeto Escola para Todos. Voltada para alunos com necessidades especiais de qualquer idade, a iniciativa busca oferecer o mesmo atendimento que os demais estudantes a partir de adaptações expressivas. Para desenvolvimento do projeto, o Ministério da Educação analisou as entidades de ensino superior no Brasil que pudessem agir como referência, e a UFSM foi a selecionada.
A Escola para Todos implementa ações que visam à formação de professores para atendimento aos alunos com deficiência auditiva e visual, o desenvolvimento de documentos orientados como dicionários para o registro de sinais – chamada de Língua Gestual de Cabo Verde – e a reforma de espaços para que haja a acessibilidade necessária.
Para a realização do dicionário, que começou a ser elaborado em 2012, professores da UFSM viajaram a Cabo Verde para conhecerem a realidade dos alunos surdos. Foram realizadas gravações em vídeo dos sinais e o mesmo aconteceu, posteriormente, na UFSM. Houve também o registro em fotos das representações gráficas. Algumas categorias foram elencadas como materiais de higiene, níveis de ensino e transporte. Na categoria transporte, por exemplo, havia palavras “traduzidas” à língua gestual como “carro”, “motor” e “vidro”. No momento, o dicionário está em fase de revisão. Quem desenvolve esse trabalho são as professoras Anie Gomes e Melânia Casarin, do Departamento de Educação Especial da UFSM.
“A educação inclusiva em Cabo Verde é bastante precária”, aponta a coordenadora do projeto, Ana Cláudia Pavão, que também é professora do Departamento de Educação Especial. Para se ter uma ideia, questões básicas da conversação, como “oi, tudo bem?”, “qual é o seu nome?” e “onde você mora?”, não têm nenhum registro na Língua Gestual de Cabo Verde. Para além disso, existe a necessidade de adaptação curricular. Até o momento os estudantes surdos são avaliados da mesma forma que os ouvintes.
As instituições de ensino em Cabo Verde elencaram seis preocupações da educação inclusiva: avaliação; ênfase à tecnologia assistiva aumentativa ou alternativa – que diz respeito à interação com quem tem dificuldade na fala; autismo; deficiência intelectual; deficiência visual e deficiência auditiva.
O Brasil já recebeu alunos cabo-verdianos, a partir do Escola para Todos, nas seguintes cidades: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Maria. Na UFSM, os estudantes participaram de dois cursos semi-presenciais, com uma etapa Santa Maria e a outra em Cabo Verde. Naquela oportunidade, também foi possível conhecer o atendimento oferecido aos estudantes com deficiência no Brasil.
Fases do Escola para Todos
Na primeira fase para tornar o projeto viável, professores da UFSM foram enviados a Cabo Verde. Tinham como missão explorar a educação no arquipélago e reunir informações sobre temas específicos como a formação em braile e em matemática unificada, ajuda técnica e orientação em mobilidade aos participantes.
Na segunda e atual fase, o período de missão da professora Ana Claudia Pavão e de Erli Bolzan, da Pró-Reitoria de Infraestrutura, foi de 15 dias. Os objetivos da missão foram: capacitação de professores, avaliação do dicionário de língua gestual cabo-verdiana e verificação e reforma das salas de recursos.
Na terceira fase, que deve ocorrer em 2017, procura-se construir uma política nacional em Cabo Verde. No Brasil, a política inclusiva data de 2008. Ana Cláudia Pavão avalia que houve e ainda há um diagnóstico do que é bom ou ruim, dos pontos que podem ser melhorados dentro do projeto. “Queremos ajudar Cabo Verde. Levamos nossas experiências para eles e nosso crescimento pessoal é muito grande”, enfatiza.
A Escola para Todos provavelmente terá continuidade, como pontua a professora Ana Cláudia. “O retorno recebido de Cabo Verde é muito positivo”, comenta. Além disso, a embaixada brasileira naquele país também é receptiva à contribuição de uma educação.
O Escola para Todos é um projeto de cooperação internacional dos governos de Cabo Verde e do Brasil, por meio do Ministério de Relações Exteriores. A UFSM é a instituição executora.
Desde que foi concebido, em 2006, cabe ao Ministério da Educação o envio kits com reglete (instrumento criado para a escrita Braille), bengalas e kits pedagógicos às coordenações de ensino das ilhas de Cabo Verde. O órgão é responsável também pela seleção dos instrutores, organização do calendário, execução dos cursos e distribuição do material didático pedagógico aos alunos. A cooperação internacional entre países busca compartilhar esforços para a resolução de problemas sociais. Esse procedimento implica em aprimorar mecanismos de negociação, avaliação e gestão dos projetos, a fim de enquadrá-los às prioridades nacionais. Além disso, atende ao interesse de determinados governos para o crescimento econômico e social mútuo, pois há, por exemplo, o acesso à tecnologia e à capacitação. É o que acontece no caso de Cabo Verde, que sofre com as dificuldades em proporcionar um ensino inclusivo de qualidade aos cidadãos e tem o Brasil como referência para o desenvolvimento educacional.