O Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFSM torna pública a indicação do trabalho “Sioma Brietman, a vida com retoques: história oral, narrativa e arqueologias das mídias na construção de trajetórias de vida”, de autoria de Marilice Amábile Pedrolo Daronco e orientação do professor Cássio dos Santos Tomaim, para concorrer ao Prêmio Capes de Teses 2022.
A escolha se deu após consulta da coordenação lançada no dia 5 de abril de 2022 aos docentes permanentes do Programa que orientam no Doutorado. Depois de análise, realizada no dia 19 de abril de 2022, a comissão interna, integrada pelas professoras Liliane Brignol, Carlise Porto Rudnicki e Márcia Franz Amaral, constatou que o trabalho, único inscrito, representa legitimamente as pesquisas realizadas no âmbito do Poscom e avaliou que a tese responde no mais alto grau de qualidade aos requisitos do Prêmio.
Desejamos sucesso ao trabalho na disputa ao Prêmio. Até 49 teses serão escolhidas na primeira etapa da seleção. Entre essas, três receberão o Grande Prêmio CAPES de Tese, relacionado a cada grande área: Ciências Biológicas, da Saúde e Agrárias, Engenharias, Ciências Exatas e da Terra e Multidisciplinar (Materiais e Biotecnologia), e Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes e Ciências Sociais Aplicadas.
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Título da Tese: SIOMA BREITMAN, A VIDA COM RETOQUES: HISTÓRIA ORAL, NARRATIVA E ARQUEOLOGIAS DAS MÍDIAS NA CONSTRUÇÃO DE TRAJETÓRIAS DE VIDA
Nome da autora: Marilice Amábile Pedrolo Daronco
Orientador: Prof. Dr. Cássio dos Santos Tomaim
Justificativa para o trabalho indicado – A Guerra entre Rússia e Ucrânia chama a atenção do mundo inteiro justamente no momento em que fazemos a indicação da tese da estudante Marilice Daronco para o prêmio Capes de Teses – Edição 2022. Isso por si só demonstra o quando o seu tema permanece muito atual.
Indicamos a tese por constituir material inédito, que conseguiu pela primeira vez depois de mais de cem anos de nascimento do fotógrafo ucraniano Sioma Breitman (1903-1980) construir uma narrativa sobre o mesmo que leva em conta tanto as suas mídias de memória quanto aquilo que ele decidiu preservar sobre si e o seu tempo.
A autora realizou sua pesquisa nos maiores acervos do país, como a Cinemateca Brasileira, a Fototeca Sioma Breitman e o Insittuto Cultural Judaico Marc Chagall. Porém, não deixou de fora os acervos particulares, inclusive os familiares. Os recortes de jornal, cartas, fotografias, álbuns, filmes, autorretratos e a autobiografia que encontrou e analisou não serviram apenas de ilustração. São mídias que foram acionadas em suas mais diversas potências e assim ajudaram a construir uma nova narrativa sobre aquele que foi um dos fotógrafos mais importantes do século XX no Rio Grande do Sul.
Depois desse esforço inicial, desenvolve-se um estudo que vai muito além da narração da trajetória da saga de uma família ucraniana que foi obrigada a migrar para o Brasil na época da Revolução Russa. A Pesquisadora revela que Sioma não foi apenas fotógrafo, ele produziu um cinejornal no interior do Rio Grande do Sul, o qual exibia na vitrine de seu estúdio fotográfico. A partir disso, a autora traz contribuições para uma revisão da historiografia do cinema brasileiro nos anos de 1930, propondo o que chama de Cinema de Vitrine.
A pesquisa se vale da metodologia da história oral, da pesquisa narrativa e da Arqueologia das mídias e promove uma escavação tanto em busca dos indícios e dos esconderijos de memória sobre Sioma Breitman, quanto no sentido de acionar as potências imagéticas das “mídias de memória” por ele produzidas.
O estudo constitui uma narrativa que traça um novo olhar sobre um imigrante que foi capaz, por exemplo, de coletar cinco autógrafos de Getúlio Vargas em um de seus retratos. Mas ela vai além, procura compreender o que ele escolheu preservar sobre si e o seu tempo à medida que investiga as “mídias de memória” que Sioma produziu e de que forma isso dialoga com os diferentes meios de comunicação do período.
É importante destacar que a tese tem se desdobrado em uma série de inserções na comunidade. A autora tem participado de entrevistas, escreveu sobre o personagem da tese para o jornal Diário de Santa Maria, foi homenageada pelo Santa Maria Vídeo e Cinema pelas pesquisas realizadas sobre os pioneiros do cinema local, entre elas a sua tese. A Tese deu relevância a uma redescoberta de Sioma.
A Tese da autora também será usada pela Fototeca Sioma Breitman, em Porto Alegre, e pelo Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria para apresentar aos pesquisadores que forem até o local a trajetória de vida do fotógrafo, pois até então não existia material que pudesse ser usado com essa finalidade.
Dessa forma, a autora não só contribui para o seu campo de pesquisa, a Comunicação, mas também para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social no que tange ao personagem, às suas mídias de memória que ele registrou sobre o seu tempo.
É importante dizer que até a pesquisa realizada pela tese não havia conhecimento sobre a prática do cinema de vitrine. Denominação proposta pela autora para o cinema feito com equipamentos amadores e exibido em vitrines de estúdios fotográficos. Assim, hoje é possível pensar em uma importância da revisão da historiografia do cinema a partir de tal prática e dos hábitos a ela relacionados.
Dessa forma, trata-se de um trabalho que contribui para a redescoberta de um personagem, para as discussões sobre cinema, memória e comunicação e para que se possa compreender as mídias através do tempo. É uma narrativa em primeira pessoa, que destaca a importância de inserir o pesquisador no seu universo de pesquisa e de trazer as suas descobertas para o texto narrado.