O evento reuniu palestrantes do Brasil, França, Rússia e Suécia com pesquisas sobre plataformas e algoritmos, sob a perspectiva da midiatização
Nesta quarta-feira (14) ocorreu a terceira mesa do V Seminário Internacional de Midiatização e Processos Sociais. O encontro teve como tema “Plataformas e mutações sociais”, que contou com as palestras dos pesquisadores Anne Kaun (Södertörn University), da Suécia; Bernard Miège (Gresec-Grenoble), da França; Ilya Kyria (HSE-Moscou), da Rússia; e Jairo Ferreira (UFSM), do Brasil.
A mesa iniciou com a fala do professor Bernard Miège, que trouxe como temática “La médiatisation actualisée”. O pesquisador ressaltou que sua abordagem se diferencia dos demais pesquisadores presentes no evento, que seguem a linha semi-antropológica, enquanto ele a social-simbólica. Miège afirma que na comunicação, deve-se trabalhar a partir de três princípios: temporalidade, abordagens micro e macro-teóricas (teorias de médio porte) e a multidimensionalidade das abordagens. Além disso, para o pesquisador, ainda não há uma definição assertiva para o conceito de plataformas, contudo, para ele, esse fenômeno alterou a indústria cultural em muitos países, principalmente durante a pandemia de Covid-19.
Na sequência, a professora Anne Kaun trouxe como temática a “Automating Welfare: On timing, belatedness, and perpetual emergence”. A pesquisa desenvolvida aborda os tipos de temporalidade de projetos de inovação que tem como foco a automação algorítmica de tarefas no serviço público, a partir de plataformas. De acordo com a pesquisadora, “estamos saindo da geopolítica e nos encaminhando para a cronopolítica”, justamente porque o contexto da automação de bem-estar social acompanha a ideia de urgência que as redes sociais construíram. Dessa maneira, explica Anne, os projetos algorítmicos platafórmicos estão baseados no tempo e na eficiência do serviço público.
O pesquisador russo, Ilya Kyria, trouxe à mesa a temática “Conceptualizing commodification bias in algorithmic modern news exchange”, em que reflete sobre as novas formas de commoditização, a partir da web 2.0. De acordo com o pesquisador, o que está ocorrendo é uma commoditização da natureza humana, porque usamos as notícias, por exemplo, como capital para modificar as trocas no âmbito privado. Segundo o professor, “há, no sistema de mídias, dois tipos de indicadores: o trabalho pago e o trabalho não pago”. Os usuários de plataformas, como as redes sociais, desenvolvem um trabalho não pago, que gera big data. Ou seja, mesmo que não se produza algo comercialmente, se cria capital para a plataforma, o que IIya chama de viés comercial da web 2.0.
Fechando a mesa de discussões do terceiro dia de evento, o professor Jairo Ferreira apresentou a temática “Da escalada dos algoritmos de poder à emergência de lógicas de resistência nas redes discursivas: casos e questões a observar”. O pesquisador parte das seguintes questões: “Uma teoria geral do signo é suficiente para pensar a semiose social” e “Como articular uma abordagem semio-antropológica com a questão sócio-simbólica?”. Conforme o professor, “é necessário especificar a semiose. Uma teoria geral, uma lógica única da semiose, não dá conta de explicar tudo”. O professor ainda afirma que os algoritmos têm uma dupla face, pois o próprio algoritmo se transformou em poder, mas também em referência. Jairo reforça que os algoritmos geram sistemas classificatórios que produzem novos estigmas e classificações estéticas.
Após a fala dos quatro palestrantes, os participantes que estavam acompanhando de forma presencial e online puderam fazer perguntas aos pesquisadores. O V Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais segue para o último dia com Mesas de Debate na manhã e tarde do dia 15 (quinta-feira), abordando a temática “Imagem, imaginários e circulação”. As palestras podem ser vistas presencialmente no auditório do INPE, no campus da UFSM, em Santa Maria, ou de modo remoto aqui.
Texto: William Martins (UNISINOS)
Fotos: Thiago Trindade (Poscom UFSM)