Texto por: Isadora Pellegrini Marques
O Jornalismo Ambiental consiste em uma prática de comunicação engajada, que coloca em pauta as problemáticas relacionadas ao meio ambiente. A prática tem caráter transdisciplinar e envolve múltiplas áreas do conhecimento, como a comunicação, meio ambiente, biologia, sociologia, antropologia, etc.
Bueno (2007) conceitua o Jornalismo Ambiental como o processo de captação, produção, edição e circulação de informações (conhecimentos, saberes, resultados de pesquisas, etc.) comprometidas com a temática ambiental e que se destinam a um público leigo, não especializado.
Ainda de acordo com Bueno (2007), o Jornalismo Ambiental tem três funções básicas que devem ser ressaltadas: 1) a função informativa; 2) a função pedagógica e 3) a função política. “O jornalismo ambiental precisa ter um caráter revolucionário, comprometido com a mudança de paradigmas, deve enxergar além das aparências e não ser complacente com aqueles que se apropriaram da temática ambiental para formar ou reforçar a imagem.” (Bueno, 2007).
Pode-se aplicar esse pensamento na relação que os estudos de colonialidade têm com o jornalismo ambiental, ao compreender que a prática jornalística de massa é intrinsecamente conectada às marcas deixadas pelo colonialismo europeu. “…o modus operandi do jornalismo hegemônico é insuficiente e redutor, justamente por ser calcado na fragmentação, na simplificação e na priorização de fontes com poder econômico, político ou social segundo a perspectiva da modernidade”. (Loose e Girardi, 2021)
Em contraponto, muitos meios de comunicação ambiental independentes realizam um movimento oposto, ao investir em uma prática jornalística plural, a qual coloca em pauta a cosmovisão de comunidades tradicionais para falar da natureza. “Além da crítica à visão eurocêntrica, é preciso, portanto, a revalorização dos conhecimentos locais, tradicionais, populares, até então depreciados e negados.” (Loose e Girardi, 2021).
Um desses veículos é o website jornalístico colombiano Agenda Propia, que busca aliar jornalistas indígenas e não indígenas para construir reportagens narrativas sobre questões ambientais. Além das histórias, o meio conta com uma série de conteúdos abertos com guias e dicas para a produção jornalística intercultural e uma rede de jornalistas colaboradores.
O trabalho do Agenda Propia se enquadra nas funções do jornalismo ambiental propostas por Bueno. É informativo, brindando o público com dados sobre saberes originários e acontecimentos que se passam principalmente em territórios indígenas e nos arredores amazônicos; é pedagógico na medida em que, a partir de ilustrações, linguagem acessível e passo-a-passos, tenta ensinar a outros profissionais meios de fazer jornalismo ambiental intercultural; e é político porque questiona as teorias do jornalismo tradicional ao buscar maneiras alternativas de construir as pautas.
Por fim, Loose e Girardi destacam a importância de descolonizar a prática do jornalismo ambiental e romper com o pensamento científico binário e cartesiano. “…ao seguir a lógica dualista ou reconhecer apenas como fontes os atores sociais legitimados pelo pensamento do Norte Global (geralmente as chamadas fontes oficiais, detentoras de um conhecimento científico reconhecido pelos pares), o jornalismo colabora para a manutenção de uma forma de ver colonizada.” (Loose e Girardi, 2021).
Referências Bibliográficas:
BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo Ambiental: explorando além do conceito. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Paraná, n. 15, p. 33-44, jan./jun. 2007. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/made/article/download/11897/8391. Acesso em: 17 abr. 2024
LOOSE, Eloisa Beling ; GIRARDI, Ilza Maria Tourinho. Interfaces entre o debate colonial e os estudos de jornalismo ambiental. Ufrgs.br, 2021. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/255591>. Acesso em: 26 abr. 2024.