2024 foi um ano de extensa produção bibliográfica pelos(as) integrantes do Grupo de Pesquisa em Circulação Midiática e Estratégias Comunicacionais (CIMID/UFSM/CNPq).
Foram nove artigos publicados em periódicos, sendo cinco em revistas brasileiras e quatro em publicações internacionais. Os trabalhos dão conta de uma variedade de objetos empíricos, prezando sempre pelos pilares do Grupo: a experimentação metodológica e a atenção à circulação.
Confira, a seguir, as referências, resumos e links de acesso às publicações na íntegra.
1. “Uma história baseada em fatos reais”: uma análise discursiva de críticas ao governo Bolsonaro em “Isso a Globo não Mostra”
Viviane Borelli e Edilaine Avila – Rizoma
Analisa-se teaser do quadro “Isso a Globo não Mostra”, com foco nas críticas construídas ao governo Bolsonaro por meio da ironia e da sátira. A partir das perspectivas da midiatização, circulação (Fausto Neto, 2018a; Braga, 2017a; 2017b) e sociossemiótica (Verón, 2014; 2004), identifica-se marcas discursivas que remetem à crítica para desvelar contradições e desaprovações. A reflexão reforça a complexidade das semioses construídas por meio de distintas materialidades discursivas.
Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/rizoma/article/view/19723
2. Circulação de sentidos em textos noticiosos sobre mortes pela pandemia no Brasil
Viviane Borelli, Diosana Frigo e Luan Moraes Romero – Matrizes
Analisa-se a circulação de sentidos no circuito comunicacional formado em torno de textos noticiosos sobre marcos no número de mortes por covid-19 no Brasil. Inspira-se nos conceitos de José Luiz Braga sobre dispositivos interacionais e da circulação como fluxos adiante, e de Eliseo Verón sobre a complexidade dos processos de produção de sentidos nas sociedades em midiatização. Foram realizados dois movimentos metodológicos e analíticos: um para compreender os sentidos produzidos nos textos, com utilização do software de análise lexicométrica Iramuteq, e outro para descrever as processualidades dos fluxos comunicacionais. Defende-se que as métricas relacionadas aos dados de pesquisa devem ser tensionadas com contextos mais amplos.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/204959/
3. O Riso como Resistência: Memes contra Bolsonaro no Contexto da Pandemia
Aline Roes Dalmolin, Herivelton Regiani, Márcia Zanin Feliciani e Viviane Borelli – Designis
O trabalho analisa memes imagéticos de crítica ao presidente Bolsonaro durante a pandemia da COVID-19 no Brasil. Parte-se de memes que circularam no WhatsApp em 2020, mas também verificam-se associações com outros espaços e temporalidades. Utilizam-se como base teórica os conceitos de memes de internet; considerações acerca do humor e comicidade; poder e resistência; e midiatização e circulação, processos comunicacionais que contribuem para o alcance e popularidade dos memes. Nos memes analisados, destacam-se quatro fatores de contestação e resistência à política do presidente em relação à pandemia: descaso com os cuidados; incentivo do retorno à normalidade; testagem da doença; e defesa da cloroquina. A leitura semiológica observa que a produção e a circulação destes memes atuam como atividade de resistência da multidão à atuação do governo Bolsonaro frente à pandemia, resistência esta que se constrói discursivamente a partir da derrisão característica do humor.
Disponível em: https://www.designisfels.net/capitulo/i41-14-o-riso-como-resistencia-memes-contra-bolsonaro-no-contexto-da-pandemia/
4. Política e memes: uma análise da ressignificação de Barbie (2023) por personalidades políticas brasileiras
Márcia Zanin Feliciani e Viviane Borelli – Aurora
O objetivo deste artigo é mapear a utilização dos memes de Barbie (2023) por personalidades políticas brasileiras. Seu aporte teórico é constituído por discussões acerca da comunicação e marketing político (Tesseroli; Panke, 2021), dos memes (Chagas, 2018) e da circulação como fluxo adiante (Braga, 2012; 2017). Após a análise de publicações feitas por seis políticas brasileiras no Instagram, chegou-se a três categorias de postagens relacionadas ao filme: uso da cor rosa; crítica feminista; e crítica política. A partir delas, percebe-se a expressiva circulação de matérias significantes (Verón, 2004) relativas ao filme, a ponto de atingir o campo político – cuja simbólica foi, no decorrer da história, predominantemente formal (Rodrigues, 2000). Ao mesmo tempo, o mapeamento evidencia as transformações pelas quais a comunicação política passa, ao experimentar e potencializar a utilização de memes.
Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/aurora/article/view/66456
5. Rotinas jornalísticas e redes sociais: a cobertura do futebol feminino numa redação integrada
Thais Eduarda Immig, Samara Letícia Wobeto e Viviane Borelli – Anuario Estudios en Comunicación Social “Disertaciones”
O objetivo deste artigo é analisar transformações nas rotinas jornalísticas de uma editoria esportiva numa redação integrada de um veículo de comunicação localizado em Porto Alegre (Rio Grande do Sul, Brasil). São discutidos conceitos que entrelaçam questões relativas ao jornalismo, ao futebol e ao gênero. A investigação foi realizada a partir de um estudo de caso (Braga, 2008; Yin, 2005) na editoria de esporte, especialmente com as responsáveis pela cobertura do futebol feminino. Os procedimentos metodológicos foram a observação participante (Winkin, 1998; Angrosino, 2009), a elaboração de protocolos para a observação das rotinas produtivas e as entrevistas semiestruturadas (Duarte, 2012), técnica que foi usada para entrevistar duas jornalistas. Entre os resultados, figuram as transformações do jornalismo a partir da inserção de redes sociais midiáticas como estratégia para ampliar a circulação de informações. Além disso, observou-se que as jornalistas são reconhecidas pelos públicos que acompanham a cobertura do futebol feminino, ocorrendo protagonismo e atorização (Fausto Neto, 2012). A observação e a entrevista evidenciaram a precarização do trabalho jornalístico —seja na produção de conteúdo em distintos formatos, seja no fato de a produção ocorrer em horário posterior ao qual as jornalistas trabalham na redação—.
Disponível em: https://revistas.urosario.edu.co/index.php/disertaciones/article/view/14300/
6. Midiatização, humor e performances no discurso religioso
Herivelton Regiani e Viviane Borelli – Ciencias Sociales y Religión
O artigo traz resultados de pesquisa de doutoramento acerca da comicidade como estratégia discursiva nas religiosidades contemporâneas. No contexto de intensificação da presença do humor e do riso nas ambiências religiosas, compreendemos esse fenômeno como uma das consequências das sociedades em midiatização. São analisadas práticas discursivas de dois atores sociais destacados do cenário cristão brasileiro, o padre Fábio de Melo e o Pastor Cláudio Duarte. Do ponto de vista teórico-metodológico, foram analisadas diferentes tentativas comunicacionais desses atores sociais, identificando marcas discursivas da construção de distintas formas de comicidade, também tensionadas por uma intensa atividade circulatória interdiscursiva. O trabalho contribui com as pesquisas nas interfaces entre mídia, cultura, comunicação e religião no que concerne, especialmente, às dinâmicas de construção de efeitos de sentido em torno da comicidade na relação com as religiosidades.
Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/csr/article/view/8674915/
7. Articulação entre métricas e dados textuais como experimentação metodológica para estudos em circulação
Luan Moraes Romero e Viviane Borelli – Intercom
O objetivo do artigo é experimentar possibilidades de articulação entre métricas e dados textuais nas pesquisas em circulação. Trata-se de um recorte de pesquisa mais ampla sobre os circuitos constituídos em torno das três primeiras reportagens da série Vaza Jato publicada pelo The Intercept Brasil, em 9 de junho de 2020. Para nortear a discussão, fazemos uma breve menção a alguns estudos sobre os processos de circulação e discutimos a abordagem teórica de Braga (2017) sobre a noção de episódios comunicacionais. Para mostrar as possibilidades de integração entre as métricas e a perspectiva inferencial, referida pelo autor, apresentamos o episódio nomeado como “Cara de Pau”. Foi por meio da observação de pistas deixadas pelos rastros digitais, que conseguimos fazer uma articulação entre os dados quantitativos gerados por softwares e os textos.
Disponível em: https://revistas.intercom.org.br/index.php/revistaintercom/article/view/4290/
8. Acessibilidade comunicativa: palavra-chave para um jornalismo democrático e cidadão
Samara Letícia Wobeto, Viviane Borelli e Luan Moraes Romero – Ámbitos
Este artigo faz parte de uma pesquisa maior desenvolvida como requisito para conclusão do curso de Jornalismo, que objetivou a construção de uma ferramenta de indicadores de qualidade para a acessibilidade comunicativa no jornalismo. A discussão teórica se centra nos entrelaçamentos entre o jornalismo, a democracia e a cidadania em sua relação com a temática. São argumentos centrais a ausência de acessibilidade nas práticas jornalísticas, o que a torna uma lacuna, e as formas estigmatizadas de representação dos públicos com deficiência. O desconhecimento de jornalistas acerca das tecnologias assistivas e formas de acessibilizar também é parte do problema. Argumenta-se que não é possível ter um jornalismo verdadeiramente democrático e cidadão sem acessibilidade comunicativa. Para atingir o objetivo do artigo, usa-se a revisão bibliográfica (Barrichello, 2016) para delimitar campos teóricos e normativos. Os últimos são guias, legislações e orientações de acessibilidade para a comunicação tanto em nível nacional quanto internacional, que permitem, junto às teorias do jornalismo e da acessibilidade, estabelecer critérios para a construção dos indicadores. Com os mesmos redigidos, eles são testados nos sites de dois veículos jornalísticos, com entrevistas semi-abertas (Gil, 2008) de usabilidade com pessoas com deficiência, e outras com os editores dos veículos analisados. Conclui-se que a acessibilidade não é prioridade destes veículos jornalísticos, o que se evidencia pela baixa pontuação e pelos registros de ausências de tecnologias assistivas, da cultura jornalística que não prioriza valores de acessibilidade e do desconhecimento das melhores formas de incorporar a mesma em uma rotina produtiva.
Disponível em: https://revistascientificas.us.es/index.php/Ambitos/article/view/25515
9. Acessibilidade e Comunicação: revisão de literatura e análise de dados
Samara Letícia Wobeto, Luan Moraes Romero e Viviane Borelli – Vozes & Diálogo
O artigo parte da inquietação por referências para pesquisas sobre a acessibilidade na área da comunicação. Assim, o artigo objetiva fazer uma revisão de literatura destas pesquisas no âmbito da produção científica da pós-graduação brasileira. A metodologia escolhida é a revisão de literatura (Flick, 2009), articulada com o uso de softwares para a visualização de dados por meio de gráficos que permitem a análise lexicométrica, como o IraMuTeQ e o Gephi. Os resultados corroboram que a área de estudos de comunicação e acessibilidade está em construção (Ellcessor, Hagood e Kirkpatrick, 2021). Os trabalhos mapeados tematizam, especialmente, a audiodescrição, os usos e apropriações das mídias e distintos aspectos sociais.
Disponível em: https://periodicos.univali.br/index.php/vd/article/view/20610
Texto: Márcia Zanin Feliciani