Por: Natalie Pereira Soares
Os buracos na rua. A escola caindo aos pedaços. O Estado está falhando em algum lugar. O nome disso é a falta de Política Pública, asseguradas nos nossos direitos constitucionais de cidadãos e que devem estar mesmo todos os dias na mídia. Mas não é só quando os lugares desmoronam que o jornalismo deve estar presente. Uma política pública é composta de diversas etapas e o jornalismo tem papel em todas elas (Canela, 2008).
É da cobertura jornalística de Políticas Públicas que falo em minha dissertação “A construção de agendas no jornalismo brasileiro: uma análise da plataforma Nexo Políticas Públicas”. Na pesquisa problematizo: “Quais são os agentes que integram o Nexo Políticas Públicas e de que formas participam e interagem na configuração editorial do caderno e na construção de uma agenda sobre políticas públicas?”.
Quando o jornalismo se dá tempo para cobrir Políticas Públicas, surgem trabalhos muito interessantes como a plataforma Nexo Políticas Públicas, em que constam discussões sobre uma diversidade de temas sócio-políticos. Os debates englobam desde as mudanças climáticas, juventudes e questões raciais e se estendem a temas de saúde e gestão. No canal, conseguimos acessar matérias que interligam assuntos, que a um primeiro olhar são “diferentes” um do outro. Vemos como intervenções de Políticas Públicas podem ser pensadas para melhorar a qualidade de vida do cidadão e o futuro do planeta.
Os problemas públicos são assuntos cotidianos na mídia. Jornalistas são mediadores fundamentais destes. Basta ligar a televisão que somos expostos a uma enxurrada de questões a serem resolvidas. Canela (2008) sugere que o jornalismo deve olhar para todo o processo formulador das Políticas Públicas, pois “o processo de informação, inclusive dos decisores, se dá em grande medida pelos meios de comunicação, aqui estes também devem assumir papel de destaque na apresentação de estatísticas, dados, informações específicas e de opiniões divergentes” (Canela, 2008, p. 23). O jornalista afirma que a cobertura tem o poder de colaborar com a profundidade da reflexão prévia para planejamento mais exitoso (o desenho) de uma Política Pública.
E partimos das afirmações do autor para refletir sobre um melhor jornalismo de Políticas Públicas, que envolva o processo de formulação e os diversos agentes envolvidos na criação do conteúdo jornalístico ao pensar numa agenda pública formulada pelo jornal para pautar estas Políticas. Com isso, observo os assuntos pautados no Índex do Nexo Políticas Públicas, ou seja, os considerados mais importantes pelo jornal a ponto de dedicar matérias sobre eles: COP 30; Projeto Du Bois; Eleições Municipais 2024; Desafios e prioridades do novo governo em 2023; Eleições 2022; Prêmio Lélia Gonzalez; e Cotas no Ensino Superior. São temas indexados pelo jornal, em que ao clicar, encontramos diversas discussões em forma de reportagem (textos acadêmicos, artigos de opinião etc) sobre eles. Estes são projetos, eventos marcantes e prêmios. O tema do momento, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), tem cobertura nacional, e claro que um jornal que explora a cobertura de Políticas Públicas não se afastaria deste evento.
Sobre a COP 30, o Nexo Políticas Públicas destaca debates atuais com foco atemporal: A importância de se falar sobre mudanças climáticas nas escolas, Clima e saúde na cop30: perspectivas para o sus na preparação e resposta à emergência climática, A raça e o gênero da justiça climática: lacunas e caminhos nas normativas globais, e outros. O tema “mudanças climáticas” do jornal também me suscitou bastante atenção, visto que é debatido com cobertura cada vez maior por toda imprensa, sobretudo localmente, após as enchentes no Rio Grande do Sul. O desastre climático gaúcho figurou nas matérias do Nexo sobre mudanças climáticas, com seis publicações entre maio e junho de 2024.
Ao longo da pesquisa, algumas surpresas sobre as soluções e reflexões oferecidas por pesquisadores no Nexo: uma possível transição energética, desastres não naturais e acordos internacionais para ações locais. A pergunta “Como o jornalismo deve cobrir Políticas Públicas?” já pode ser respondida com o jornalismo de soluções, que leva tempo, contexto e conversas com a academia, como o Nexo faz. Quando olharmos para as possibilidades de um novo futuro nas lentes das Políticas Públicas, só nos resta confirmar o que Canela (2008) propõe: não é possível fazer política pública sem fazer política.
REFERÊNCIAS
CANELA, Guilherme (Org). Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo, ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância: Cortez Editora, 2008.